sábado, 30 de março de 2013

Jesus: um inimigo do Poder - Parte I



Mesmo que o Cristianismo fale sobre a morte de Jesus como um evento salvífico, estaremos diante de um discurso ideológico perigoso se esta meditação sobre a morte não olhar para a história, afinal, a Salvação se dá na história da humanidade. Jesus não é uma figura abstrata. A Encarnação de Deus se dá em um momento da história, em uma cultura especifica com todos os seus liames e barreiras. Jesus é para todos os tempos, mas primeiramente e necessariamente do seu tempo.
Se estes cuidados não forem tomados, seremos meros celebrantes de um rito que embora belo e repleto de significados não nos colocarão diante da realidade magnífica, desconcertante e incomoda representada pro Jesus. Estamos diante da pergunta Por que matarem Jesus? O primeiro passo é delimitar a reflexão e esta já está muito bem delimitada. Jesus morre como um condenado, não de velhice ou doença e sim morre de forma violenta e escandalosa. Condenado à morte e morte de cruz. Jesus é condenado a receber o castigo de escravos e subversivos segundo a lei romana para os que houvessem cometido crimes atrozes como assassínio, furto grave, traição e rebelião. Era a condenação mais cruel e vergonhosa. Condenar alguém à Cruz não era somente uma condenação particularmente cruel, mas também um ato profundamente discriminatório. Condenar à morte de cruz os escravos e os combatentes pela resistência aos romanos significava também o seu cruel desprezo por esta gente.
De forma direta devemos reconhecer que os romanos são os principais responsáveis pela morte de Jesus, pois o direito de proferir sentenças de morte era reservado a eles. Os judeus perderam o direito de conduzir processos com penas capitais quarenta anos antes da destruição do templo (70 d.C). Daqui surge uma nova questão a ser tratada: qual a razão para tal condenação à morte. Atentamente examinados, veremos nos Evangelhos que a imagem que Jesus tinha de Deus é que o leva à cruz, é uma batalha em nome de Deus, no seu sentido mais profundo. A prisão no Getsêmani marca o início da parte mais radical do processo que se desenrolou contra Jesus desde o início de sua jornada como vemos em Mc 3. Em relação ao processo religioso, afirmam as narrativas evangélicas que Jesus é julgado pelos chefes religiosos do seu povo, e segundo os Sinóticos, é condenado como blasfemador (Mc 14,64; Mt 26,66) e por isso deveria morrer. Mesmo em meio a isto, o que nos chama a atenção é que se Jesus tivesse sendo condenado por crime religioso, a sentença deveria ser o apedrejamento. Então deveremos perceber que existe algo mais.
A posição religiosa de Jesus é oposta à severa dureza dos princípios religiosos de seu tempo. Esta oposição se deve à compreensão que Jesus tem de Deus. Para Jesus Deus não é manipulável, portanto não eram as práticas da lei em detrimento do ser humano que salvariam. O culto pode ser hipocrisia se não vier acompanhado de amor ao outros. Com isso, Jesus mostra toda a dureza materialista de um tipo de fé que não salva. A mais importante demonstração disto é a batalha sobre o sentido do Sábado (Mc 2,23ss; Mt 12,1-8; Lc 6,1-5; Jo 5,9ss). Meditando sobre este aspecto, unido ao espanto e oposição gerados pelos milagres e exorcismos que Jesus realiza, veremos que Jesus se opõe às lideranças religiosas presentes naquele momento da história.

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