Mesmo que
o Cristianismo fale sobre a morte de Jesus como um evento salvífico, estaremos
diante de um discurso ideológico perigoso se esta meditação sobre a morte não olhar
para a história, afinal, a Salvação se dá na história da humanidade. Jesus não
é uma figura abstrata. A Encarnação de Deus se dá em um momento da história, em
uma cultura especifica com todos os seus liames e barreiras. Jesus é para todos
os tempos, mas primeiramente e necessariamente do seu tempo.
Se estes
cuidados não forem tomados, seremos meros celebrantes de um rito que embora belo
e repleto de significados não nos colocarão diante da realidade magnífica, desconcertante
e incomoda representada pro Jesus. Estamos diante da pergunta Por que matarem
Jesus? O primeiro passo é delimitar a reflexão e esta já está muito bem
delimitada. Jesus morre como um condenado, não de velhice ou doença e sim morre
de forma violenta e escandalosa. Condenado à morte e morte de cruz. Jesus é
condenado a receber o castigo de escravos e subversivos segundo a lei romana
para os que houvessem cometido crimes atrozes como assassínio, furto grave,
traição e rebelião. Era a condenação mais cruel e vergonhosa. Condenar alguém à
Cruz não era somente uma condenação particularmente cruel, mas também um ato
profundamente discriminatório. Condenar à morte de cruz os escravos e os
combatentes pela resistência aos romanos significava também o seu cruel
desprezo por esta gente.
De forma direta
devemos reconhecer que os romanos são os principais responsáveis pela morte de
Jesus, pois o direito de proferir sentenças de morte era reservado a eles. Os
judeus perderam o direito de conduzir processos com penas capitais quarenta
anos antes da destruição do templo (70 d.C). Daqui surge uma nova questão a ser
tratada: qual a razão para tal condenação à morte. Atentamente examinados,
veremos nos Evangelhos que a imagem que Jesus tinha de Deus é que o leva à
cruz, é uma batalha em nome de Deus, no seu sentido mais profundo. A prisão no
Getsêmani marca o início da parte mais radical do processo que se desenrolou
contra Jesus desde o início de sua jornada como vemos em Mc 3. Em relação ao
processo religioso, afirmam as narrativas evangélicas que Jesus é julgado pelos
chefes religiosos do seu povo, e segundo os Sinóticos, é condenado como
blasfemador (Mc 14,64; Mt 26,66) e por isso deveria morrer. Mesmo em meio a isto,
o que nos chama a atenção é que se Jesus tivesse sendo condenado por crime
religioso, a sentença deveria ser o apedrejamento. Então deveremos perceber que
existe algo mais.
A posição
religiosa de Jesus é oposta à severa dureza dos princípios religiosos de seu
tempo. Esta oposição se deve à compreensão que Jesus tem de Deus. Para Jesus Deus
não é manipulável, portanto não eram as práticas da lei em detrimento do ser
humano que salvariam. O culto pode ser hipocrisia se não vier acompanhado de
amor ao outros. Com isso, Jesus mostra toda a dureza materialista de um tipo de
fé que não salva. A mais importante demonstração disto é a batalha sobre o
sentido do Sábado (Mc 2,23ss; Mt 12,1-8; Lc 6,1-5; Jo 5,9ss). Meditando sobre
este aspecto, unido ao espanto e oposição gerados pelos milagres e exorcismos
que Jesus realiza, veremos que Jesus se opõe às lideranças religiosas presentes
naquele momento da história.
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