A Semana Santa tem início com o Domingo de Ramos. Do
ponto de vista teológico posterior ao evento, a entrada triunfal de Jesus em
Jerusalém marca o fim daquilo que Jerusalém representava para o Antigo
Testamento e assinala o início da nova Jerusalém, a Igreja, que se estenderá
por todo o mundo como um sinal universal da futura redenção. Liturgicamente,
duas tradições se uniram no que hoje chamamos de Domingo de Ramos: na Igreja
primitiva em Roma, o tema central era a Paixão do Senhor; Em Jerusalém, era a Entrada
triunfal de Jesus, destacando a Procissão dos ramos.
Quando lemos os relatos contidos no Evangelho
percebemos que muitas são as divergências relacionadas a este evento. As divergências
revelam as intenções teológicas de cada evangelista. Cada um deles se apropriou
de uma maneira diferente do mesmo fato. Alguns dados escaparam aos Evangelhos e
devem ser mencionados: uma boa parte dos judeus celebrava a Páscoa sempre sob
tensão eminente porque celebrar a Páscoa é celebrar o dia em que Deus intervém
para romper as correntes. Um dia Deus libertou seu povo da escravidão do Egito,
agora, não é o povo que está prisioneiro fora de sua terra, é o invasor quem
pisa na terra prometida e escraviza o povo, por isso, celebrar a Páscoa é fazer
memória da primeira vitória contra o opressor e clamar pela segunda! Sabendo disto,
o procurador romano aumentava a quantidade de soldados romanos em Jerusalém que
se tornara neste período um verdadeiro barril de pólvora! A entrada de Jesus em
Jerusalém deve ser entendida de forma mais simples e discreta, posteriormente
interpretada como uma entrada triunfal. Pois se tivesse acontecido uma
movimentação de toda a multidão em torno de Jesus teria sido reprimida pelos
Legionários de Roma.
Não
adentrando nas particularidades dos relatos da Entrada em Jerusalém contidas
nos Evangelhos, porque isto exigiria
muito tempo, poderíamos fazer algumas perguntas para que os textos se tornem
mais nítidos para nosso pouco entendimento. Diante de tudo o que foi exposto, por
qual motivo Jesus subiu a Jerusalém se já havia falado que lá encontraria a
morte? Quando lemos Mateus, Marcos e Lucas, estes chamados Evangelhos Sinóticos
dizem que essa foi a única ida de Jesus adulto a cidade santa. Uma resposta
dada pelo próprio Jesus esclarece essa pequena dúvida. Para ele um profeta não deve
morrer fora de Jerusalém (Lc 13,33). É claro para nós a partir destes relatos que
a subida de Jesus a Jerusalém é motivada pela compreensão que ele tem acerca de
sua identidade profética. Ele é o profeta do Reino e vincula o Reino com sua
própria vida e morte. Assim sendo, sobe a Jerusalém para que o Reino se torne
cada vez mais iminente na batalha contra os poderes do anti-reino.
Subindo para que o Reino se torne mais iminente e
unindo a isto o letreiro sobre a cruz falando sobre a sua realeza, Jesus tinha
a pretensão de ser o rei dos judeus? O Rei do novo Israel construído a partir
de uma intervenção divina contra o opressor romano?
Na
entrada de Jesus em Jerusalém encontramos uma manifestação neste sentido, uma
entrada cujo triunfo foi da simplicidade de Jesus. Alguns fariseus se
escandalizaram ao ouvirem o anuncio de Jesus rei feito pelo povo a ponto de
pedirem para que o povo se calasse (Lc 19, 39). A resposta de Jesus neste
momento confirma o que o povo está fazendo. Se eles se calarem, as pedras gritarão!
Para os apóstolos, Jesus é um rei
que deve reaver o trono roubado pelos romanos, o messias esperado pelo povo, é
com esta visão que Pedro responde quem é Jesus (Mc 8, 29). Por isso a censura
de Pedro quando Jesus falava da morte. Além da repreensão aos fariseus que
queriam que ele calasse o povo, alguns aspectos da missão de Jesus evocam o rei
messiânico: deu esperança aos pobres, saúde aos doentes, expulsou demônios. Mesmo
com tudo isto, a resposta é irrefutável, Jesus não sobe a Jerusalém para ser
coroado como rei nos moldes desejados pelo povo e mesmo pelo seu grupo mais
próximo. Embora soubesse de seu lugar de destaque no Reino do Pai, Jesus sabe
que em seu itinerário não existe lugar para reinado. Devido ao fechamento e
oposição, embora soubesse da verdade e consistência de seu ensinamento, Jesus
sabia que sua missão era rápida e simples: lançar a semente e deixar que ela
germinasse por ela mesma. Quanto ao Reino de Deus, era sua tarefa apenas lançar
as sementes. Da árvore, nada conheceria antes de morrer. Sua morte é essencial
para a irrupção do Reino de Deus por isso ele sabe que não há espaço para
realezas e tronos! Somente após sua última provação na cidade santa de
Jerusalém é que a semente poderia enfim germinar e dar frutos. Daí a
centralidade da morte presente nos Evangelhos.
Este evento rápido de entrar em
Jerusalém sendo bem acolhido por um grupo demonstra o entusiasmo inicial
perante uma semente lançada por Jesus e que se converte em direcionamento para
a morte cada vez mais inadiável. Jesus sabe que não vai ter uma longa vida. A
ele se aplica a imagem do grão de trigo que se não morrer ficará só e só
morrendo produz frutos (Jo 12,24). Seu triunfo não consiste simplesmente na
entrada e sim no fato de esta entrada significar que a verdadeira semente do
Reino já está sendo lançada na terra para que ao germinar abra ao mundo a possibilidade de um reencontro com Deus e consigo mesmo!
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