Que Jesus era uma figura
incomoda percebemos desde o início de suas atividades, (cf Mc 3), o Evangelho proclamado no Sábado que
antecede o Domingo de Ramos mostra algumas nuances desta oposição e
rejeição Jesus. Se de um lado alguns
creram em Jesus por verem o que aconteceu a Lázaro, outros vão fazer intrigas
contra Jesus.
A reunião do Conselho dos
Fariseus nos mostra que o debate é religioso e acerca do que se deve fazer com
Jesus uma vez que ele faz muitos sinais. Os sinais no Evangelho de João
despertam a fé em Jesus ou escandaliza posições contrárias a ele. Estes sinais
realizados por Jesus pode atrair as pessoas a ele e isto questiona a estrutura
religiosa do tempo de Jesus, fere privilégios dos homens do sagrado! Isto
porque sendo Jesus uma figura que não está vinculado ao Templo, não tem
direitos sacerdotais sanguíneos como João Batista o tinha por exemplo,
conduziria a uma desobediência dos padrões estabelecidos pela Lei religiosa. Em
suma, o Conselho viu a necessidade de debater o caso Jesus porque o vê como
ameaça aos interesses estabelecidos. Jesus, pela vida e pregação é um obstáculo
a uma religião envelhecida e geradora de desigualdades. A mudança religiosa
proposta em Jesus ganha um outro aspecto. A transformação das relações
religiosas mudaria todas as relações sociais e aqui Jesus se torna uma ameaça
social “Se deixamos que ele continue assim, todos vão acreditar nele, e virão
os romanos e destruirão o nosso Lugar Santo e a nossa nação”.
Em destaque uma religião ajoelhada
perante os poderes do mundo e um Jesus que propõe uma nova forma de ver Deus e
os outros. A mentalidade apresentada pelo Sinédrio não é compatível com a de
Jesus, o deus dali, não é o de Jesus por isso, as palavras de Jesus e suas
atitudes devem ser questionadas. Jesus deve ser parado porque fazia o bem! Neste
sentido, eles se preocupam com Jesus porque se ele cresce, os romanos se oporão
e destruíram tudo, mas um povo sem liberdade não já é um povo destruído? A religião
da conivência com os poderes que exploram e denigrem a dignidade humana é ainda
mais terrível no que segue: “Um deles, chamado Caifás, sumo sacerdote em função
naquele ano, disse: ‘Vós não entendeis nada. Não percebeis que é melhor um só
morrer pelo povo do que perecer a nação inteira?’” Em nome da manutenção do
estado letárgico da religião, é necessário anular o incomodo, retirar a anomalia,
suplantar o diferente, extirpar qualquer pensamento que afeta a relação entre a
Religião e o Poder do Mundo.
O Evangelho deste sábado nos
deu um sumário de tudo o que foi a vida de Jesus: oposição a qualquer forma de
discurso e práxis religiosa que não emancipe as pessoas. A religião tem que
religar o homem a Deus para que as relações entre os homens mudem. Se ela não faz
isso, não serve! Vemos Jesus apresentado como profeta que como todos os
profetas terá que morrer pelo que acredita. “Caifás não falou isso por si
mesmo. Sendo sumo sacerdote em função naquele ano, profetizou que Jesus iria
morrer pela nação. E não só pela nação, mas também para reunir os filhos de
Deus dispersos.” Enquanto os fariseus se preocupam em regionalizar o Reino, o
Evangelho de João nos faz perceber que a morte de Jesus desmanchará o conceito
de nação, dissolverá o lugar que consideramos santos mas que não o é de fato e
universalizará o Reino de Deus. Esta é a profecia sobre Jesus e da qual ele
mesmo é em ato a realização! “A partir desse dia, as autoridades judaicas tomaram
a decisão de matar Jesus.”
Este Evangelho não tem a
finalidade de falar sobre todas as causas da crise entre Jesus e os fariseus e
sim mostrar a fragilidade de muitos conceitos acerca da Religião porque alguns
destes conceitos não ganham força na vida das pessoas, distancia todas elas de
Deus, desintegra o interior das pessoas e as separa do mundo no qual vivem,
gerando um apego tão grande a este ponto de segurança que qualquer um que mostre
seus limites será visto como inimigo. A trama para matar Jesus é uma declaração
de guerra contra aquele que é visto como inimigo religioso. É uma oportunidade
para percebermos se a nossa vivência religiosa tem tido a capacidade de olhar
as diferenças como desigualdades ou é apenas um falso clube dos salvos!
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