segunda-feira, 25 de março de 2013

A trama para matar Jesus



Que Jesus era uma figura incomoda percebemos desde o início de suas atividades, (cf  Mc 3), o Evangelho proclamado no Sábado que antecede o Domingo de Ramos mostra algumas nuances desta oposição e rejeição  Jesus. Se de um lado alguns creram em Jesus por verem o que aconteceu a Lázaro, outros vão fazer intrigas contra Jesus.
A reunião do Conselho dos Fariseus nos mostra que o debate é religioso e acerca do que se deve fazer com Jesus uma vez que ele faz muitos sinais. Os sinais no Evangelho de João despertam a fé em Jesus ou escandaliza posições contrárias a ele. Estes sinais realizados por Jesus pode atrair as pessoas a ele e isto questiona a estrutura religiosa do tempo de Jesus, fere privilégios dos homens do sagrado! Isto porque sendo Jesus uma figura que não está vinculado ao Templo, não tem direitos sacerdotais sanguíneos como João Batista o tinha por exemplo, conduziria a uma desobediência dos padrões estabelecidos pela Lei religiosa. Em suma, o Conselho viu a necessidade de debater o caso Jesus porque o vê como ameaça aos interesses estabelecidos. Jesus, pela vida e pregação é um obstáculo a uma religião envelhecida e geradora de desigualdades. A mudança religiosa proposta em Jesus ganha um outro aspecto. A transformação das relações religiosas mudaria todas as relações sociais e aqui Jesus se torna uma ameaça social “Se deixamos que ele continue assim, todos vão acreditar nele, e virão os romanos e destruirão o nosso Lugar Santo e a nossa nação”.
Em destaque uma religião ajoelhada perante os poderes do mundo e um Jesus que propõe uma nova forma de ver Deus e os outros. A mentalidade apresentada pelo Sinédrio não é compatível com a de Jesus, o deus dali, não é o de Jesus por isso, as palavras de Jesus e suas atitudes devem ser questionadas. Jesus deve ser parado porque fazia o bem! Neste sentido, eles se preocupam com Jesus porque se ele cresce, os romanos se oporão e destruíram tudo, mas um povo sem liberdade não já é um povo destruído? A religião da conivência com os poderes que exploram e denigrem a dignidade humana é ainda mais terrível no que segue: “Um deles, chamado Caifás, sumo sacerdote em função naquele ano, disse: ‘Vós não enten­deis nada. Não percebeis que é melhor um só morrer pelo povo do que perecer a nação inteira?’” Em nome da manutenção do estado letárgico da religião, é necessário anular o incomodo, retirar a anomalia, suplantar o diferente, extirpar qualquer pensamento que afeta a relação entre a Religião e o Poder do Mundo.
O Evangelho deste sábado nos deu um sumário de tudo o que foi a vida de Jesus: oposição a qualquer forma de discurso e práxis religiosa que não emancipe as pessoas. A religião tem que religar o homem a Deus para que as relações entre os homens mudem. Se ela não faz isso, não serve! Vemos Jesus apresentado como profeta que como todos os profetas terá que morrer pelo que acredita. “Caifás não falou isso por si mesmo. Sendo sumo sacerdote em função naquele ano, profetizou que Jesus iria morrer pela nação. E não só pela nação, mas também para reunir os filhos de Deus dispersos.” Enquanto os fariseus se preocupam em regionalizar o Reino, o Evangelho de João nos faz perceber que a morte de Jesus desmanchará o conceito de nação, dissolverá o lugar que consideramos santos mas que não o é de fato e universalizará o Reino de Deus. Esta é a profecia sobre Jesus e da qual ele mesmo é em ato a realização! “A partir desse dia, as autoridades judaicas tomaram a decisão de matar Jesus.”
Este Evangelho não tem a finalidade de falar sobre todas as causas da crise entre Jesus e os fariseus e sim mostrar a fragilidade de muitos conceitos acerca da Religião porque alguns destes conceitos não ganham força na vida das pessoas, distancia todas elas de Deus, desintegra o interior das pessoas e as separa do mundo no qual vivem, gerando um apego tão grande a este ponto de segurança que qualquer um que mostre seus limites será visto como inimigo. A trama para matar Jesus é uma declaração de guerra contra aquele que é visto como inimigo religioso. É uma oportunidade para percebermos se a nossa vivência religiosa tem tido a capacidade de olhar as diferenças como desigualdades ou é apenas um falso clube dos salvos!
 


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