sábado, 30 de março de 2013

Jesus: um inimigo do Poder - Parte II



Analisando o processo religioso, devemos entrar com Jesus na casa do Sumo Sacerdote. No Evangelho de João, o sumo sacerdote interrogou Jesus sobre seus discípulos e sua doutrina (18,19). Esta pergunta sobre seus ensinamentos demonstra o medo de que sua doutrina se torne uma oposição à estrutura religiosa sustentada pelo Templo, cuja purificação realizada por Jesus se torna o ponto decisivo para que decidam eliminá-lo. A resposta dada por Jesus ao Sumo Sacerdote deve ser examinada. Porque embora o próprio Sumo Sacerdote não reaja, vemos na palavra de Jesus uma demonstração de que sua doutrina já estava infiltrada nos meios populares. “Pergunta aos que me ouviram!” Demonstra ainda uma oposição ao Sumo Sacerdote, a ponto de fazer com que um dos guardas use da violência. Mateus, Marcos e Lucas, vão mais longe ao afirmarem que a motivação de sua condenação foi heresia! Apresentar-se como o Cristo, rompendo com todas as expectativas messiânicas da elite religiosa (Mt 26,64; Mc 14,62; Lc 22,67). O crime de blasfêmia é julgado à luz de Deuteronômio 17,12: “Quem tiver a ousadia de não escutar o sacerdote que lá está para o serviço do Senhor teu Deus, nem aceitar sua sentença, morrerá.” Embora esta já seja uma tese suficiente, ainda poderemos levar o exame adiante porque lemos nos Evangelhos do Julgamento a motivação maior relativa à pretensão de Jesus de destruir o Templo de Jerusalém (Mt 26,61; Mc 14,58). O templo era o centro configurador da sociedade judaica, assim é compreensível que os dirigentes judaicos, que eram religiosos, políticos e ricos ao mesmo tempo, quisessem eliminá-lo. Vemos nesta acusação uma das novidades apresentadas por Jesus em sua pregação sobre Deus. Jesus apresentou uma alternativa diferente de uma relação com Deus não mais centrada no templo, que havia se tornado o centro de uma teocracia política, social e econômica da vida de Israel. Agora poderemos dizer com certeza que a forma como Jesus mostra Deus presente no mundo é a causa de sua eliminação pela elite religiosa, assim sendo, Jesus é condenado por perturbar a estrutura religiosa, por tentar subverter uma estrutura já alicerçada na história de Israel, centrada no Templo, coberto de corrupções e práticas hipócritas. A decisão do Sinédrio foi afirmada pelo processo político diante do procurador romano Pilatos. Entramos em outra parte do mesmo processo. Saímos do campo religioso e entramos na esfera política. Uma pergunta que nunca vai se calar é a seguinte: se Jesus não era um agitador político, porque Pilatos o suplicia? Se a prática de Jesus não tem conotação política, qual a razão de uma intervenção do poderio romano? Pelo que já falamos na primeira parte desta postagem, Jesus morreu crucificado como um malfeitor político e subversivo. Para confirmar as acusações de ordem política temos o fato de que Pilatos ofereceu a troca de Jesus por Barrabás que era um subversivo político. Jesus é equiparado a ele por Pilatos.

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