A celebração
do Lava- pés é um testamento. Um testamento em ato daquilo que Jesus espera que
seus seguidores consigam fazer em vista de um mundo melhor. Em um mundo marcado
pela tirania dos poderosos, pelo desrespeito aos pequenos, pelo menosprezo da
vida, faz-se necessário uma retomada de valores capazes de alimentar sonhos de
paz e concórdia. O Evangelho mostra a soberania de Jesus que tudo recebeu do
seu Pai, dele havia saído e para ele passaria.
Este passar para o Pai é um jeito que o Evangelista encontrou para falar
sobre tudo o que viria a acontecer na ótica de uma nova Páscoa. A Páscoa de
Jesus é assinalada em seu sangue. No seu sangue encontramos a comunhão com
Deus. Os primeiros versículos antes de falar realmente do lava- pés é um tipo
de introdução para a segunda parte do Evangelho iniciada justamente com este
gesto. O autor deixa claro para nós que tudo deve ser lido na ótica do amor: “tendo amado os
seus que estavam no mundo, amou-os até o fim!” Ao mistério do Amor de em Deus
que apaixonado vive sua paixão na entrega à humanidade se opõe o desejo do
traidor: “O diabo já tinha seduzido Judas Iscariotes para entregar Jesus.”
Ainda falaremos sobre o traidor novamente, já que temos uma postagem sobre ele
neste mesmo blog. Mas o que se quer deixar claro é o fato de tudo se resolver
no coração das pessoas. Não imaginemos que o diabo espiritualmente entrou em
Judas. O que acontece é outra coisa, o diabo quer dizer divisor. O coração
dividido de Judas se tornou tão distante com o passar do tempo a ponto de não mais
reconhecer o amigo Jesus. Esta magnífica dinâmica do amor de Deus que se
encontra com a dureza de coração da humanidade ganha mais consistência quando
se afirma que tudo está acontecendo dentro dos liames da liberdade de Jesus:
ele sabe o que está fazendo, ele o faz por amor e por coerência de fé em Deus.
É expressa para nós também a fé de Jesus, um dado pouco trabalhado e por sinal
necessário! Esta autonomia é expressa assim:
“Sabendo que o
Pai tinha posto tudo em suas mãos e que de junto de Deus saíra e para Deus
voltava”. Do alto de sua singular liberdade, agora encontraremos expresso para
nós, com toda aspereza possível, o alcance do amor de Deus revelado em seu
filho. Primeiro: “Jesus levantou-se da ceia”. Isto revela aquele que se levanta
é diferente, tem as rédeas de toda a situação em suas mãos.
Segundo:
“tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a a cintura. Derramou água numa
bacia” Tirar o manto é despojar-se. Lembremos-nos de Fl 2, 5-11: sendo igual a
Deus não se apegou a isto, mas esvaziou-se. O amor incondicional de Jesus é
despojado de privilégios e aqui encontramos uma oposição a muitas de nossas
atitudes religiosas porque somos apegados demais a privilégios que nada tem a
revelar sobre Jesus!
Terceiro:
“pôs-se a lavar os pés dos discípulos e enxugava-os com a toalha que trazia à
cintura”. Apenas a mulheres e os escravos faziam este serviço no tempo de
Jesus. Eis a radicalidade do amor: despojado dos privilégios, mostra-se como
serviço! Isto para nos dizer que nossa fé não se converter em serviço, de nada
serve, pode ser um culto muito bem realizado, bonito. Entretanto, não passará
de estética! Sem conteúdo e incapaz de dizer algo aos homens.
Quarto:
Jesus se ajoelha para lavar os pés dos discípulos. Quem está de joelhos e com
uma bacia na mão nem tem como fugir, nem tem como reagir caso seja atacado.
Este é Jesus o Deus ajoelhado, o Deus humilde, o Deus que se torna indefeso por
amor de cada um de nós. Neste gesto vemos outra coisa fulgurar: na mesma bacia,
com a mesma água com a mesma toalha, com
a mesma atenção e carinho, Jesus lava os pés do discípulo amado e também do
traidor.
Daqui
percebemos que o amor não conhece limites, não faz distinção nem é
preconceituoso. Tanto o amado quanto o traidor são atingidos pelo mesmo jeito
de amor e nossa oração hoje deve levar em conta que muitos daqueles que nós
erroneamente julgamos, são tão amados por Deus quanto qualquer um de nós e que
está numa Igreja não quer dizer muita coisa se não tivermos um amor
incondicional a Deus convertido em serviço aos irmãos, se não tivermos um amor
humilde, despojado de privilégios e de poder, aberto a todos, e sempre propondo
a reconciliação. Muitos entre nós são os amados, e outros tantos são os
traidores, todos no entanto, abraçados pelo mesmo amor. E isto revela para nós que
Jesus em seu jeito de ser revoluciona nossas relações, deseja revolucionar
nossas relações sempre. Encerro deixando que o mestre mesmo nos fale:
“Entendeis
o que eu vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque sou.
Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns
aos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós”.
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