Homilia para o I Domingo da Quaresma
Caríssimos irmãos e irmãs, estamos vivendo a Quaresma, uma Sagrada
oportunidade para recuperarmos a intimidade com Deus. Já nos alertava o
autor sagrado, ao chamar este momento de tempo favorável. Para
tanto, o Senhor nos apontou três ferramentas capazes de abrir o caminho
para uma vida nova: A esmola, que é um recurso para se falar de
solidariedade com o mundo sofrido e necessitado de uma mão capaz de
reerguê-lo! A oração que fundamenta a solidariedade pois alicerça no
coração de Deus nossas atitudes, gerando comunhão com Deus e com o
mundo. E por fim o jejum, base para tudo porque no jejum reconhecemos
nossa fraqueza e nossa total dependência para podermos viver!
Justamente neste domingo, o primeiro da Quaresma, o Senhor é exposto a
tentações, que o acompanham por toda a sua vida pública como podemos
perceber pelo final do Evangelho que dizia O diabo o deixou para retornar no momento oportuno. Vejamos
a forma como é contado o Evangelho: Primeiro, Jesus é apresentado como
aquele que é conduzido pelo Espírito ao longo do deserto, mostrando um
paralelo entre Jesus e o povo de Deus que caminhou por 40 anos no
deserto. O Espírito conduz Jesus pelos caminhos da própria humanidade,
para que exposto aos desafios e tentações que vivenciamos todos os dias,
ele pudesse nos mostrar como vencer as ciladas do antigo inimigo.
As tentações de Jesus acontecem no instante em que ele esta em jejum, um
marco para o Evangelho deste domingo porque naquilo que marca o
reconhecimento de nossa fragilidade e é apresentado como uma das
ferramentas para se conseguir uma purificação de vida é que a tentação
começa! Portanto, a primeira tentação diz respeito ao perigo de não
reconhecermos nossa própria condição pequena e desamparada. Em outras
palavras, a tentação consiste no apego a si mesmo! O egoísmo que conduz a
um caminho perigoso que é apresentado na segunda tentação. A segunda
tentação diz respeito à busca de poder, o poder e a glória vinda dos
poderes desses mundo, portanto, como fruto do egoísmo, o poder pelo
poder expressa a tirania que oprime e divide a sociedade alargando o
fosso a separar os ricos e os pobres deste mundo. Percebemos que a
primeira tentação, conduz à segunda e esta para a terceira. Lança-te daqui para baixo porque está escrito que o Senhor deu uma ordem aos seus anjos.
O coração egoísta, irá buscar o poder e as estruturas presentes neste mundo e
consequentemente, por não reconhecer a soberania de Deus, fará da
oração um espetáculo, aquele que está apegado a si mesmo, usará sempre a
Deus como se este fosse um escravo, uma estrutura de oração
espetacular, incapaz de agradar a Deus porque busca o reconhecimento de
todos, a oração espetacular, celebrações espetaculares, que agrada o ego
e cultua a si mesmo, mas que nada tem a ver com o Deus de Jesus de
Nazaré.
Estas tentações revelam um caminho de desmanche dos verdadeiros
potenciais da humanidade. Poderiamos dizer que estas tentações dizem
respeito à nossa auto compreensão e compreensão de nossas vidas perante
Deus. Está claro para nós que o orgulho é uma mancha que vai crescendo a
nos afastar de Deus porque nos afasta de nós mesmos e dos irmãos.
Como vencermos as tentações? Jesus responde sempre ao tentador utilizando o argumento de que está escrito!
Por aqui ele nos mostra que a Palavra de Deus é o mecanismo utilizado
para vencer as tentações. Pela força viva da Palavra do Senhor que se
fez carne e habitou entre nós é que poderemos enfrentar as ciladas do
inimigo entendendo que coexistimos, partilhando vidas, partilhando
sonhos, medos, e corresponsabilidades perante o mundo.
Desta vitória sobre o egoísmo e de uma intimidade com a Palavra de Deus,
encontramos a coragem necessária para permanecermos de pé e não nos
ajoelharmos perante falsos poderes deste mundo. Somente assim, poderemos
fazer da oração um recurso não para agradar nosso próprio ego e sim
para gerar harmonia com Deus para um mundo novo!
Se para vencermos as tentações, a Palavra de Deus é o meio eficaz, então
deveremos aceitar que apenas a escuta desta Palavra nos poderá dar
forças, neste sentido deveríamos procurar um jejum acerca daquilo que
nós temos escutado: conversas maléficas sobre a vida alheia, quer
pessoalmente ou por telefone, a partilha de palavras ruins, pela
internet. Somos anunciadores de uma Boa Nova e não de notícias ruins.
Portanto, seria interessante como exercício da Quaresma, de
desprendimento e reconstrução, abrimos mão de algo relativo à nossa
audição, poderíamos abrir mão do nosso celular por pelo menos um dia, ou
mesmo da internet por um dia, e quem sabe, abrir mão daquelas músicas
terríveis que só servem para incentivar a diminuição das pessoas!
Peçamos ao Senhor que do encontro com sua Palavra, nosso coração se aqueça para que possamos reconhecê-lo ao partir o Pão!
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