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Frei Gabriel de Santa Maria Madalena, OCD
“Vinde a mim vós todos que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei... e encontrareis repouso para as vossas almas” (Mt 11,28-29). Jesus, que veio “para anunciar a boa nova aos pobres, anunciar aos prisioneiros a libertação... pôr em liberdade os oprimidos” (Lc 4,18), chama a si todos os homens e particularmente os que sofrem física e espiritualmente, os atormentados pelas dificuldades da vida: Cristo os consolará, restituir-lhes-á as forças, dar-lhes-á alívio e repouso.
Absorvidos por atividades desenfreadas, parecem os homens de hoje quase incapazes de recolhimento. Entretanto, tem seu espírito necessidade imensa de tréguas restauradoras. Não se trata de descanso preguiçoso, mas de repouso em solidão, silêncio, oração, condições indispensáveis para encontrar-se a si mesmos e encontrar-se com Deus. Convida, Jesus, e chama a este repouso, na maior intimidade: “Vinde em lugar à parte e solitário e repousai um pouco” (Mc 6,31). Sem essa pausa, é ilusão pretender viver a mais elementar vida interior. Cada atividade, mesmo importante e urgente, deve estar dentro de certos limites, para deixar suficiente espaço à suprema atividade da oração. São, tais espaços, sagrados: não os podemos sacrificar sem ver definhar a vida espiritual. Cabe aqui a grande palavra de Jesus: “Procurai, em primeiro lugar, o Reino de Deus” (Lc 12,31). De certo modo, o Reino de Deus já está no coração do cristão, templo da Santíssima Trindade. Mas tal reino, não o podemos descobrir, sem momentos de evasão de tudo e de todos, para nos concentrar, em silêncio e solidão, na oração, diálogo íntimo e pessoal com Deus.
“Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo” (Mt 6,6). Apoiando-se nesta exortação de Jesus, afirma o Concílio Vaticano II: “Embora chamado à oração em comum, deve também o cristão entrar em seu quarto, para rezar secretamente ao Pai” (SC 12). Certa forma de solidão, de retiro efetivo do ruído e das preocupações da vida, é indispensável à oração. A prece exige ouvidos atentos a Deus só, e língua para falar a Deus só. Seriam, porém insuficientes a solidão e o retiro materiais, sem recolhimento interior. Comentando a palavra do Senhor, diz João da Cruz: “Fechada a porta, isto é, tua vontade a todas as coisas, rezarás a teu Pai” (Cl 1,9). Não basta fechar a porta do quarto, cumpre fechar a vontade a todas as coisas: afazeres, preocupações, pensamentos, desejos, afetos; tudo deve dar lugar ao único pensamento de Deus; todas as dificuldades do homem devem estar livres para concentrar-se nele.
Santa Teresa de Jesus escreve: “Se, do nosso tempo, nos determinarmos a consagrar um pouco a Deus na oração, demos-lhe o pensamento livre e desocupado de tudo, generosamente, decididas a não lho tornar a pedir, por maiores trabalhos, contradições e securas que nos possam sobrevir” (Cm 23,2). Então pode o homem, efetivamente, encontrar-se com Deus e encontrar nele restauração para o espírito cansado, muitas vezes amargurado pelas dificuldades da vida. Pode alcançar, cada dia, no contato íntimo com Deus, luz e força para continuar o caminho, em plena coerência com o Evangelho. “Deus dá forças ao homem acabrunhado, redobra o vigor do fraco. Os jovens se cansam e se afadigam, os adultos tropeçam e caem, mas os que contam com o Senhor renovam suas forças... correm sem se cansar, vão para frente sem se fatigar” (Is 40,29-31),.
Extraído de: Madalena, Gabriel de Sta. Maria. Intimidade Divina. São Paulo: Loyola, 1988, pp. 52-54.
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