sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Assunção de Maria aos Céus

A Assunção de Maria aos céus


A Assunção de Maria foi o último dogma a ser proclamado, por obra do papa Pio XII, a 1o de novembro de 1950. Na Constituição Apostólica “Munificentissimus Deus”, o Pontífice afirmou que, depois de terminar o curso terreno de sua vida, ela foi assunta de corpo e alma à glória celeste. Mais de 200 teólogos, em todas as partes da Igreja, demonstraram interesse e entusiasmo pela definição dogmática. Imaculada e assunta aos céus, Maria é a realização perfeita do projeto de Deus sobre a humanidade. “A Assunção manifesta o destino do corpo santificado pela graça, a criação material participando do corpo ressuscitado de Cristo, e a integridade humana, corpo e alma, reinando após a peregrinação da história” (CNBB - Catequese renovada, 235).                                                                                            Os dogmas marianos iluminam a vida espiritual dos cristãos. “Os dogmas são luzes no caminho de nossa fé, que o iluminam e tornam seguro” (Catecismo da igreja católica, 90). A Assunção de Nossa Senhora é uma doutrina que ilustra bem o modo como a Igreja interpreta as Escrituras e a Tradição: não como se fossem um manual dogmático preciso e detalhado, com todas as verdades resumidas em fórmulas teológicas bem lapidadas, mas como um depósito que deve ser objeto de pesquisa, estudo e aprofundamento. Os protestantes, por sua vez, fazem da Bíblia a única regra de fé e, o que é pior, interpretam o Livro Sagrado de acordo com seus preconceitos individuais. Apesar de alardearem a soberania da Escritura, os protestantes, na verdade, colocam a própria interpretação acima da Palavra de Deus. A Bíblia é refém de cada crente, que "recebe do Espírito Santo" a capacidade de interpretar seus textos sem errar. Daí nascem as infindáveis divisões, seitas e denominações "evangélicas". No entanto, como já demonstramos em outro lugar (ver o número 2 deste folheto), nem o "Só a Bíblia", nem o livre exame encontram sustentação na Escritura. Quem possui autoridade para interpretar autenticamente a Bíblia é a Igreja, "coluna e sustentáculo da verdade" (cf. 1Tm 3,15). A interpretação pessoal dos textos sagrados é ilícita (cf. 2Pd 1,20; 2Pd 3,15s). Não nos devemos espantar ao saber que a Bíblia não afirma, explicitamente, a Assunção da Virgem Maria. Embora esta doutrina se encontre radicada na Escritura, ela não pode ser deduzida pelos critérios protestantes ou através de uma exegese científica.  A Bíblia apresenta pistas e indicadores que apontam para esta verdade. A Igreja, assistida pelo Espírito Santo, soube discernir estas pistas, e encontrou elementos suficientes para definir a Assunção de Nossa Senhora como doutrina revelada, a ser crida por todos os fiéis.
a. Fundamentos Bíblicos
"Anunciamos, declaramos e definimos como dogma divinamente revelado que a Imaculada Mãe de Deus sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrena, foi levada em corpo e alma para a glória celeste" (Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, 1º de novembro de 1950 - Definição do dogma da Assunção).            Em 1950, o papa Pio XII definiu a Assunção como dogma de fé. Não foi uma decisão tomada de um dia para o outro, mas o fruto maduro de um longo processo de aprofundamento da Escritura e da Tradição."Porei inimizade entre ti e a mulher, entre tua linhagem e a linhagem dela. Ela te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gn 3,15).  Este trecho do Gênesis, chamado de protoevangelho, é o primeiro anúncio do triunfo de Cristo sobre o Diabo e, juntamente com Cristo, do triunfo de Maria, a mulher que esmaga a cabeça da serpente. Como nova Eva, a Virgem Maria está estreitamente unida ao novo Adão na sua luta contra o pecado e no seu triunfo sobre a morte.                                                                                                                                                       "Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que Iahweh teu Deus, te dá" (Ex 20,12). Sabemos que Cristo foi o mais perfeito cumpridor dos mandamentos. Portanto, além de honrar o Pai, deveria também honrar a mãe. Qual o filho que, tendo o poder de livrar sua mãe da morte e da corrupção, não o faria? Um filho que abandonasse a própria mãe desta forma não a estaria desonrando?
"Entre as tuas amadas estão as filhas do rei; à tua direita uma dama, ornada com ouro de Ofir. Ouve, ó filha, vê e inclina teu ouvido: esquece o teu povo e a casa do teu pai, que o rei se apaixone por sua beleza: prostra-te à sua frente, pois ele é o teu senhor! Vestida com brocados, a filha do rei é levada para dentro, até o rei, com séquito de virgens.
Introduzem as companheiras a ela destinadas, e com júbilo e alegria elas entram no palácio" (Sl 45(44),10-12.14b-16). Neste texto os Santos Padres viram a Virgem Maria em sua entrada triunfal na glória, aproximando-se do trono do Rei imortal, Cristo Senhor. "Levanta-te, Iahweh, para o teu repouso, tu e a arca da tua força" (Sl 132(131),8). A arca da aliança, segundo muitos teólogos, pregadores e doutores, é figura do corpo puríssimo da Virgem Maria, que portou a Nova Aliança entre Deus e os homens, Jesus Cristo. Assim como a arca, feita de madeira incorruptível, o corpo da Virgem não poderia conhecer a degradação do sepulcro. Antes, foi levado para o Santuário Celeste, para junto de Deus. Acreditam os judeus que o Senhor protegeu a arca do saque do Templo, efetuado pelos babilônios sob a liderança de Nabucodonosor, no século VII a.C. O Apocalipse de Baruc, do final do século I d.C., menciona um anjo que removeu os objetos sagrados do Santuário, escondendo-os em lugar secreto antes da chegada dos babilônios. O Apocalipse de João nos mostra a antiga arca no Céu: "O templo de Deus que está no Céu se abriu, e apareceu no templo a arca da sua aliança. Houve relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e uma grande tempestade de granizo" (Ap 11,19). Se a arca que continha a antiga Lei foi preservada, quanto mais a novíssima arca que trouxe em seu seio não tábuas de madeira, mas o Verbo Santo de Deus!
"Que é aquilo que sobe do deserto, como colunas de fumaça perfumada com incenso e mirra, e perfumes dos mercadores?" (Ct 3,6). A esposa dos Cânticos é figura de Maria, esposa celeste que, com o divino Esposo, sobe ao Céu. "Entrando onde ela estava, disse-lhe: ‘Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!’" (Lc 1,28). A Assunção é mais uma graça concedida por Deus a Maria, uma benção que se opõe à maldição lançada sobre Eva (cfr. Gn 3,19). "Um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas; estava grávida e gritava, entre as dores do parto, atormentada para dar à luz. Apareceu então outro sinal no céu: um grande Dragão, cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres e sobre as cabeças sete diademas; a sua cauda arrastava um terço das estrelas do céu, lançando-as para a terra. O Dragão colocou-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho, tão logo nascesse. Ela deu à luz um filho, um varão, que irá reger todas as nações com cetro de ferro. Seu filho, porém, foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono, e a Mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar em que fosse alimentada por mil duzentos e sessenta dias. Ao ver que fora expulso para a terra, o Dragão pôs-se a perseguir a Mulher que dera à luz o filho varão. Ela, porém, recebeu as duas asas da grande águia para voar ao deserto, para o lugar em que, longe da Serpente, é alimentada por um tempo, tempos e metade de um tempo. A Serpente, então, vomitou água como um rio atrás da Mulher: a terra abriu sua boca e engoliu o rio que o Dragão vomitara. Enfurecido por causa da Mulher, o Dragão foi então guerrear contra o resto dos seus descendentes, os que observam os mandamentos de Deus e mantêm o Testemunho de Jesus" (Ap 12,1-6.13-17). A Mulher vestida de sol em Ap 12 é, primeiramente, a Igreja. Também identificamos esta Mulher com a Mãe do Senhor, que esmaga a cabeça da Serpente (cfr. Gn 3,15). Convém lembrar aqui as várias vezes em que Jesus se dirige à sua mãe chamando-a de "Mulher" (cfr. Jo 2,4; 19,26). Maria é, assim, tipo da Igreja, o novo Israel de Deus, lavada e santificada no sangue do Cordeiro, imaculada e incorruptível (cfr. Ef 5,25-27). A morte e a corrupção do corpo são conseqüência do pecado (cfr. Gn 3,19; Sl 16(15),10). "Eis porque, como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, e assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram" (Rm 5,12). "Porque o salário do pecado é a morte, e a graça de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Rm 6,23). "Com efeito, visto que a morte veio por um homem, também por um homem vem a ressurreição dos mortos. Pois, assim como todos morrem em Adão, em Cristo todos receberão a vida" (1Cor 15,21-22). A Lei do pecado atinge a todos, exceto o Cristo e sua mãe. Se a carne de Cristo não conheceu a corrupção do sepulcro, então a carne de Maria, que é a mesma carne de Cristo, também não pode ter se corrompido. Maria foi levada para junto de seu Filho em corpo e alma. Não é demais lembrar que a Escritura apresenta precedentes para a assunção corporal. Os casos de Henoc, Elias e Moisés são bem conhecidos (cfr. Gn 5,24; Hb 11,5; 2Rs 2,1.11; Jd 2,9, que cita o apócrifo Assunção de Moisés). Paulo foi arrebatado até o terceiro céu (2Cor 12,2-4). No fim dos tempos, depois da ressurreição dos mortos, os que estiverem vivos serão arrebatados (1Ts 4,15-17). Alguns poderiam objetar citando 1Cor 15,23: "Cada um, porém, [ressuscitará] em sua ordem: como primícias, Cristo; depois, aqueles que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda" (1Cor 15,23). O Evangelho, porém, relata que muitos mortos reviveram depois da ressurreição de Jesus: "Abriram-se os túmulos e muitos corpos dos santos falecidos ressuscitaram. E, saindo dos túmulos após a ressurreição de Jesus, entraram na Cidade Santa e foram vistos por muitos" (Mt 27,52-53). Os últimos tempos, que marcam o retorno de Cristo, já começaram. É preciso deixar claro aqui que Maria não subiu ao Céu por seu próprio poder, como ocorreu com Cristo na Ascensão, mas foi elevada pelo poder de Deus. Aquela que, durante a vida, foi toda graça e gratuidade, recebeu no fim de sua peregrinação terrestre a sublime graça de entrar íntegra na glória eterna.
Podemos nos perguntar, de passagem, se a Virgem experimentou a morte ou foi imediatamente transfigurada. Não existe nenhuma posição oficial da Igreja a respeito. Isenta do pecado, a Mãe do Senhor certamente é imune às suas nefastas conseqüências, entre elas a morte corporal. Porém, com a intenção de se associar mais perfeitamente a seu Filho, o qual deu a vida pelos pecadores, é razoável supor que ela quis passar por esta experiência.
Conclusão                                                                           
 Para a definição da Assunção, além da Tradição e da Escritura, foi muito importante o consenso de todo o povo de Deus. Levou-se em consideração o conteúdo global do dado revelado.                           Depois de um longo processo de amadurecimento, de desenvolvimento dogmático, a Igreja foi capaz de colher o seu fruto maduro. "Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena..." (Jo 16,13a). A assistência infalível do Espírito Santo está por trás de cada verdade de fé ensinada pela Igreja, incluindo aí a Assunção de Nossa Senhora.                                                                                               "A Assunção da Virgem Maria é uma participação singular na Ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos" (Catecismo da Igreja Católica, n. 966). Em Maria, contemplamos a nossa esperança de ressurreição já realizada. Nela a Igreja já atinge o triunfo escatológico, a vitória definitiva sobre a morte e o mal. Unida indissoluvelmente a Cristo em sua vida, moral e fisicamente, a Virgem agora vive e reina com ele pelos séculos (cf. Dn 22,27; Ap 1,5b-6; 2,26-27; 5,10; 20,6; 22,5). "Podem os doutos discutir sobre a Assunção ao Céu de Nossa Senhora; para mim não parece incompreensível, porque ela já não pertencia ao mundo" (Sören Kierkegaard (+1855), filósofo protestante).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

* Caso o comentário seja contrário a fé Católica, contrário a Tradição Católica será deletado.


Queria dizer que...

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.