sexta-feira, 15 de abril de 2011

Por uma Espiritualidade da Cruz

Aquele cristão que não tem  uma espiritualidade que brote da cruz do Senhor, faria bem em adquiri-la, e não existe tempo mais propício para isto do que este que vivemos. Nosso melhor refúgio e proteção é a Cruz de Nosso Senhor e, por isso, trazê-la ao peito ou pendurá-la na parede de nossa casa é sinal de devoção que deve, por sua vez, refletir-se em nossa vida. De nada adianta uma cruz no peito se ela não refletir a assimilação no coração de tudo aquilo que a cruz representa na vida de Cristo como sinal de nossa salvação.  Encontramos na Cruz a plena manifestação do Mistério da Misericórdia divina. Deus nos perdoa, pelos méritos do Filho unigênito, cujo sacrifício redentor lavou a mancha do pecado, contraída pelo primeiro patriarca da humanidade, Adão. São Paulo descreve: “Deus não poupou seu Filho, mas por todos nós O entregou” (Rm 8,32). O Filho, por sua vez, adere, livremente, ao plano do Pai: “O Filho de Deus me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20) - eis o supremo gesto de misericórdia. Para isso, “Ele se fez obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2,8), assumindo a dor e o vexame de ser despido e exposto à zombaria da populaçao: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz!” (Mt 27,40). E se Ele descesse? Não o fez, porque seu alimento é cumprir a vontade do Pai, conforme Ele mesmo já havia afirmado (cf. Jo 4,34). Aquela seria a sua Hora, o seu verdadeiro batismo, que Ele esperava com ânsia que se realizasse (cf. Lc 12,50). Essa humilhação chega ao ápice da entrega na Cruz: “Tudo está consumado”(Jo 19,30). “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46).
A dimensão sublime e transcendente da Crucifixão, a princípio incompreendida pelos discípulos, gerou em quase todos um grande escândalo. Refiro-me, de modo particular, àqueles que encontraram Jesus na estrada para Emaús. Não conseguindo admitir que o Senhor e sua missão tivessem final tão trágico, abandonaram a comunidade de Jerusalém e seguiram para Emaús, arrastando, na poeira do caminho, o fardo da decepção: “Nós esperávamos que fosse Ele quem haveria de restaurar Israel e agora, além de tudo isto, é hoje o terceiro dia em que essas coisas sucederam” (Lc 24,21). Ao invés de buscar apoio na comunidade, quiseram enfrentar sozinhos a crise que se abateu sobre eles após os padecimentos e a Crucifixão de Cristo. E foram embora, como que sem rumo certo...
Foi ao longo dessa caminhada que o próprio Senhor lhes apareceu, e eles nem O reconheceram. Esta é uma dificuldade nossa: imersos nos próprios problemas, às vezes, não identificamos Jesus, que se comunica de uma forma bem clara - pela voz de uma criança, de um amigo ou de um representante de Deus, através da leitura das Sagradas Escrituras e, até mesmo, do sofrimento, que nos acomete...

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