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Cristo faz sua entrada solene em Jerusalém, recebendo uma aclamação jamais vista na História. Surge então a grande questão: como é que Jesus sendo Deus e, portanto, sabendo que iria ser crucificado e objeto de escárnio daquele mesmo povo permitiu aquela consagração? Ele via por detrás dos braços que no ar o aplaudiam o fulgurar das espadas e o levantar de punhos cerrados a clamarem pela sua crucifixão.
Qual a razão pela qual Ele permitiu todo aquele alvoroço, toda aquela festa? Na resposta a grande lição deste Dia de Ramos. É que Ele queria ensinar que devemos sempre desconfiar dos louvores humanos . Ele desejava mostrar qual o verdadeiro valor do triunfo terreno. Ele almejava alertar seus seguidores sobre qual a autêntica conquista que deveriam buscar, oferecia uma autêntica filosofia de vida a seus epígonos.
É inato ao ser humano o anseio pela gratidão, pelo reconhecimento, pela glória. Isto, afastado o vão orgulho, a vaidade simplória, a detestável arrogância, a antipática petulância, não é, em si, um mal.. Com efeito, tais aspirações projetam a conquistas grandiosas que fazem os sábios, os heróis dos altares pátrios, os cientistas famosos, os gênios extraordinários que, olhos fixos na consagração de seus contemporâneos e pósteros pontilham o mundo com seus feitos memoráveis.
Os triunfos terrenos, porém, são ilusórios. São sombras que passam, névoa que os lábios da inveja logo dissipam, nuvens que se desfazem, seta luminosa que fende os ares e logo se apaga, meteoro que logo desaparece, flor que breve se emurchece. São passageiros e logo são olvidados, lançados no esquecimento.
O mesmo sol que os contempla pela manhã os vê fenecer à tarde. Os homens são sempre os mesmos: mudam-se rapidamente seus sentimentos, suas apreciações, suas atitudes e hosanas se transforma em clamores de morte, como aconteceu com Jesus. Eis aí a grande lição do dia de hoje.
Na terra misturam-se o bem com o mal, o encômio com a injúria, a ventura com o desar, a alegria com a tristeza, a aclamação com o ultraje, o elogio com a calúnia. A rainha das flores, a rosa, é bem o símbolo desta realidade. Os espinhos circundam a beleza desta flor como que patenteando a vida humana. Então, como não há nesta vida rosa sem espinho, nem pérola sem limo ou prata sem liga, nem sol sem sombras, nem céu sem nuvens, nem peixes sem espinhas assim não há glória terrena sem o travo das afrontas ou da invídia. O triunfo humano conhece sempre o fel da humana inveja.
Isto acontece com rapidez impressionante, pois se no decorrer do ano há inverno e verão e entre eles muitos meses; dia e noite e entre eles vinte e quatro horas, para existirem o elogio e o desprezo, hosanas e clamores de morte, loas e injúrias basta um instante.
É para esta inequívoca precariedade das vitórias, das glórias, das honras humanas que neste dia nos chama a atenção o Mestre divino. Ramos não assinalou Sua vitória verdadeira. Seu triunfo Ele o conheceria em outra manhã radiosa, no momento de sua gloriosa ressurreição.
Aqueles mesmos que o aclamaram hoje o levarão ao suplício da cruz. Cumpre então ter na devida conta os louvores. Tenhamos um conceito preciso dos bens terrenos. Almejemos não as frágeis e perecíveis conquistas nesta terra, mas sim a felicidade perene da Jerusalém celeste onde Cristo vitorioso está a nossa espera. Lá, sim, se encontram os louros que não emurchecem nunca e não são jamais atingidos pela traça destruidora da humana inveja.
Este anelo da apoteose da glória eterna, das alegrias perenes, do júbilo nos deslumbrantes palácios do Rei imortal dos séculos, nos projetará na posse de glória imperecível. Será este o dia do nosso grande triunfo que não terá ocaso pois estaremos por todo sempre juntos ao Redentor vitorioso.
Profesor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.
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