segunda-feira, 21 de julho de 2014

Espiritualidade e cuidado com o planeta



“O cuidado representa uma relação amorosa para com a realidade”

Costumamos cuidar daquilo que queremos bem. Algo que nos é precioso prende-nos a atenção, pois temos medo de perder de vista aquilo que nos faz bem. Os pais que amam seus filhos procuram cuidar deles, oferecendo-lhes carinho, uma boa educação, uma alimentação sadia, atenção e tantas outras coisas. Pessoas enamoradas procuram em tudo agradar o outro, a fim de que a relação não se rompa, mas perdure para o bem recíproco. Estes exemplos mostram que o ser humano é, essencialmente, um ser de cuidado.

Contrapondo-se ao cuidado, há no homem outro sentimento que lhe tem prejudicado muito: a ambição. Esta, vivida de forma desmedida, excessivamente voltada para tudo aquilo que é material leva à morte. Desde que o ser humano inventou a propriedade privada e aprendeu a fabricar os bens necessários à vida constata-se a vontade incontrolável de ter. Por que um juiz de direito se deixa corromper por dinheiro? Por que um político desvia as verbas públicas? Por que o traficante insiste em viver a custa da desgraça de tantos usuários de drogas?

A resposta está na ambição do TER. Esta ambição se coloca acima de todos os valores éticos, humanos e religiosos. O ambicioso não se controla diante dos bens que lhe são possíveis. Ele não consegue se deixar tocar pela necessidade do outro. No caso do político corrupto é vergonhoso constatar sua insensibilidade: ele sabe que muitos cidadãos desprovidos das condições financeiras necessárias para a aquisição dos bens necessários à vida dependem, unicamente, dos serviços públicos (SUS, Assistência Social, Educação etc); mas, mesmo assim, tira, covardemente, o pão da boca dos pobres.

A ambição pode ser traduzida também como a falta de cuidado para com o outro, pois ela tira o direito do outro sobreviver. O egoísmo e individualismo são companheiros da ambição. O ambicioso está preocupado com o seu bem-estar, jamais com o bem comum. Nunca se viu alguém dizer: “Minha ambição é o bem comum!” Isto seria a mais aberrante das mentiras. O ambicioso não ver o outro como irmão com quem se deve conviver e partilhar a vida, mas vê-lo como competidor que precisa ser vencido, como ameaça à sua ambição.

A natureza “geme em dores de parto” (Rm 8, 22) e o ser humano grita num vale de lágrimas, mas, apesar disso, o ser humano se torna cada vez mais insensível: cego, mudo e surdo diante do grito ensurdecedor da Terra. As ciências naturais falam, minuciosamente, do que está acontecendo, mas quando os Chefes de Estado se reúnem para discutir a situação climática, a insensibilidade e a ambição que tomam conta de seus corações e projetos não permitem que cheguem a um consenso em favor da vida do planeta. A desculpa é a de que, escutando a natureza, o retrocesso econômico é inevitável.

Todos já estamos cansados de saber que o atual modelo de desenvolvimento econômico não responde mais às autênticas necessidades do ser humano, mas insiste-se em mantê-lo a todo custo. O capitalismo predatório, que não coloca o ser humano em primeiro lugar, mas o lucro desmedido, está na base do sistema econômico atual. Os grandes investidores não aceitam o que se passou a chamar de desenvolvimento sustentável. Este apareceu porque descobriram que o atual modelo é insustentável.

A passagem da visão predatória para uma visão ecológica da natureza é essencial na construção do desenvolvimento realmente sustentável. A presente geração de seres humanos precisa se conscientizar da necessidade de construir um mundo saudável para as gerações futuras. É preciso tomar consciência da verdade que de ninguém é dono do mundo, mas que passamos pela existência. Em outras palavras, existiram pessoas antes de nós e haverá outras após a nossa passagem neste mundo. Por isso, devemos colaborar para que as futuras gerações possam ter uma vida melhor que a nossa.

A espiritualidade do cuidado está pautada num relacionamento amoroso para com a realidade. A realidade é que vivemos no mundo e que não há outro além desse. A espiritualidade cristã nos ensina que Deus exige de cada pessoa o cuidado para com a vida. A ecoteologia, reflexão teológica que visa a reflexão teológico-ecológica da realidade nos ensina que o cristão precisa aprender a promover e defender a dignidade do ser humano; tal promoção e defesa passa, necessariamente, pelo cuidado para com a natureza.

A nossa vida está intimamente ligada à vida da natureza. Nós fazemos dela e a sua destruição significa a nossa própria destruição. Não adianta pensar num futuro melhor sem o devido cuidado com a natureza. Nossos projetos pessoais, sociais, políticos, econômicos, culturais e religiosos devem estar em plena sintonia com o bem-estar da natureza; do contrário, tudo não passa de ilusão e espera passiva e angustiante de plena destruição e morte. Querer construir a própria vida em detrimento da natureza é como alguém que muito acumulou e que está prestes a morrer, sem saber para quem deixar tudo aquilo que concentrou nos celeiros ilusórios da existência material.

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