segunda-feira, 28 de julho de 2014

Conhecendo o Apóstolo Paulo - Parte I







CARTAS PAULINAS


         1. Introdução

            Nos escritos do NT encontramos vinte e uma Cartas. Treze delas são atribuídas ao Apóstolo Paulo (algumas tem sua autoria questionada, como veremos adiante), e outras são colocadas sob a autoridade de outras figuras significativas da Igreja primitiva: duas são de Pedro; três de João; uma de Tiago e uma de Judas. E temos a “Carta” aos Hebreus de um autor desconhecido e que erroneamente foi atribuída a Paulo. Para a fé cristã estes escritos têm uma grande importância, seja porque são “canônicos”, seja porque deram origem à sucessiva reflexão teológica. Lendo as Cartas percebe-se logo que os autores manifestam um vivo testemunho da vida das primeiras comunidades. Estas Cartas enriquecem muito o quadro que obtemos do livro dos Atos dos Apóstolos, composto no final do I século.
            As Cartas Paulinas são uma reflexão teológica ou pastoral num segundo momento (com exceção da Carta aos Romanos). Antes disso, houve o trabalho missionário de fundar e organizar as comunidades. É certo que o número de comunidades fundadas pelo Apóstolo Paulo e seus companheiros foi muito maior daquelas que receberam alguma Carta. Outra constatação importante é que não foi possível conservar todos os escritos paulinos. Algumas cartas se perderam e não estão no cânon bíblico.
            Antes do estudo propriamente dito das Cartas Paulinas, vamos conhecer um pouco melhor a figura do seu autor. Sem conhecê-lo bem, é também sempre mais difícil entender toda a riqueza da sua mensagem. O ambiente e o contexto de cada uma das comunidades será conhecido por ocasião do estudo particular de cada Carta.


         2. Paulo de Tarso
            O Apóstolo Paulo nasceu entre os anos 5 e 10 dC, na cidade de Tarso da Cilicia (At 9,11; 21,39; 22,3). Era filho de judeus, da tribo de Benjamin e como era o costume foi circuncidado ao oitavo dia. São Jerônimo informa que seus pais eram de Giscala, na Galiléia. Paulo cresceu seguindo a mais perfeita tradição judaica (Fl 3,5). Tinha uma irmã e um sobrinho que moravam em Jerusalém (At 23,16). Sua profissão era artesão, fabricante de tendas (cf. At 18,3). O seu estado civil também é um tanto incerto, ainda que na maioria das vezes se afirme que era solteiro. De fato, em 1Cor 7,8 ele escreve “Aos solteiros e ás viúvas, digo que seria melhor que ficassem como eu”. Mas em 1Cor 9,5 ele escreve “Não temos o direito de levar conosco nas viagens uma mulher cristã, como fazem os outros Apóstolos e os irmãos do Senhor e Pedro?”.
            Ainda jovem foi para Jerusalém e, na escola de Gamaliel, se especializou no conhecimento da sua religião. Tornou-se fariseu, ou seja, especialista rigoroso e irrepreensível no cumprimento de toda a Lei e seus pormenores (At 22,3).
            Cheio de zelo pela religião, começou a perseguir os cristãos (Fl 3,6; At 22,4s; 26,9-12; Gl 1,13). Esteve presente no martírio de Estevão, cujos mantos foram depositados aos seus pés (At 7,58). Continuou perseguindo a Igreja (At 8,1-4; 9,1-2) até que se encontrou com o Senhor na estrada de Damasco (At 9,3-19). A experiência de Jesus mudou completamente a sua vida. De perseguidor passou a ser o anunciador até a sua morte, provavelmente em 68 dC.

            Na sua primeira missão apostólica, entre os anos 45 e 49, anunciando o Evangelho em Chipre, Panfilia, Pisidia e Lacaônia (At 13-14), passou a usar o nome grego de Paulo de preferência a Saulo[1], seu nome judaico (At 13,9).
            Era um homem bem preparado, além de conhecer bem a sua religião (o que pode ser comprovado pelas muitas citações ao AT), possuía boas noções de filosofia e das religiões gregas do seu tempo. Em Tarso, sua cidade natal, havia escolas filosóficas (dos estóicos e cínicos) e também escolas de educadores. Ali nasceu Atenodoro, professor e amigo do imperador Augusto. Paulo algumas vezes utiliza frases desse educador: “Para toda criatura, a sua consciência é Deus” (Cf. Rm 14,22a). Ou: “Guarde para você, diante de Deus, a consciência que você tem” ou: “Comporte-se com o próximo como se Deus visse você, e fale com Deus como se os outros ouvissem você” (Cf. 1Ts 2,3-7). Além disso conhecia bem o grego e o método da retórica. Esforçava-se para compreender o modo grego de viver. Além disso era cidadão romano (At 16,37s; 22,25-28; 23,27). Embora não mencione isso em suas Cartas, como se o desprezasse, pois para ele a verdadeira cidadania é outra (Fl 3,20). Porém, ele soube tirar proveito desse título, bem como de toda a bagagem cultural adquirida, para conduzir todos a Jesus (1Cor 9,19-22).
            Lendo as Cartas percebemos o caráter do Apóstolo: às vezes muito meigo e carinhoso; às vezes, severo. Não abria mão das suas idéias e ameaçava com castigos. Escrevendo às comunidades comparava-se à mãe que acaricia os filhinhos e era capaz de dar a vida por eles (1Ts 2,7-8). Sentia pelos fiéis as dores do parto (Gl 4,19). Amava-os, e por isso se sacrificava ao máximo por eles (2Cor 12,15). Mas era também pai que educava (1Ts 2,11), que gerava as pessoas, por meio do Evangelho, à vida nova (1Cor 4,15). Sentia, pelas comunidades que fundou, o ciúme de Deus (2Cor 11,2), temendo que elas perdessem a fé. Quando se fazia necessário, exigia obediência (1Cor 4,21).
            Muitas vezes Paulo é apresentado como alguém distante do povo e das suas comunidades, incapaz de manifestar sentimentos, indiferente ao drama das pessoas, anti-feminista, moralista e assim por diante. Os que vêem Paulo com esses olhos esquecem-se de suas viagens, cadeias, sofrimentos, perigos e, sobretudo, sua paixão por Jesus e pelo povo[2]. Era capaz de amar todos os membros de todas as comunidades, sem distinção, chamando-os de “queridos” e “amados” ou “irmãos”. Queria que todos fossem fiéis a Deus. Assim se tornariam seus filhos, como por exemplo, era Timóteo (1Cor 4,17). É interessante ler as suas Cartas e anotar com quanta freqüência ele usava expressões, tais como: tudo, todo, sempre, continuamente, sem cessar, etc., e com elas expressar sua constante preocupação para com todos. E basta uma leitura mais cautelosa das suas Cartas para descobrir que Paulo não é assim tão insensível e que todo o seu apostolado vem carregado de sentimentos. “Nós vos falamos com toda liberdade, ó Coríntios, o nosso coração se dilatou. Não é estreito o lugar que ocupais em nós, mas é em vossos corações que estais na estreiteza. Pagai-nos com igual retribuição; falo-vos como a filhos: dilatai também vossos corações!” (2Cor 6,11-13).
            Encontrou dificuldade para ser aceito como Apóstolo. As suspeitas vinham do fato ser um perseguidor e sobretudo porque não foi escolhido pessoalmente por Jesus. Quatorze anos após a sua conversão, subiu a Jerusalém, para o Concílio, onde defendeu a não circuncisão para os pagãos. Ele mesmo se defendeu das acusações (Gl 1,12, 2Cor 9,2-3; 12,1-4). Para ele, anunciar o Evangelho era uma obrigação: “Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!” (cf. 1Cor 9,15-17).
            Em sua incansável missão de anunciar o Evangelho Paulo sofreu muito, mas não desistiu. Ele mesmo relata algumas das situações difíceis que passou: “Muitas vezes, vi-me em perigo de morte. Dos judeus recebi cinco vezes os quarenta golpes menos um. Três vezes fui flagelado. Uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei. Passei um dia e uma noite em alto-mar. Fiz numerosas viagens. Sofri perigos nos rios, perigo dos ladrões, perigos por parte de meus irmãos de estirpe, perigos dos gentios, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos dos falsos irmãos! Mais ainda: fadigas e duros trabalhos, numerosas vigílias, fome e sede, múltiplos jejuns, frio e nudez!” (2Cor 11,23b-27). Teve que lutar contra os falsos missionários (cf. 2Cor 10-12) que anunciavam um Evangelho fácil, que fugiam da humilhação e da tribulação. Anunciavam um Jesus sem a cruz. Paulo anunciava o Jesus Crucificado, ainda que isso fosse escândalo  (1Cor 1,23)[3]. Porém a cruz não era o fim. O mesmo Jesus da cruz é também o Jesus Ressuscitado (1Cor 15).
        
         3. Paulo e os Atos dos Apóstolos

            Se Lucas, na segunda parte dos Atos (16-28), fala unicamente da atividade do Apóstolo Paulo, isso não significa que ele tenha sido o único. Paulo tornou-se o símbolo de todos os missionários que souberam levar a Boa Nova de Jesus Cristo pelo mundo afora. E Paulo sozinho não teria atingido seu êxito, se não fosse a grande ajuda de tantas pessoas que com ele abraçaram a fé, que o acolhiam em suas casas (At 16,15.34; 18,3.7) ou que contribuíram com alguma ajuda para as suas necessidades (Fl 4,15-16; 2Cor 11,9).
            Também é importante notar que nem sempre podemos ficar somente com as informações históricas que Lucas nos dá sobre Paulo. Alguns estudiosos simplesmente as ignoram, já que lendo os Atos se descobre que o objetivo principal de Lucas não é tanto a informação histórica, mas a transmissão da mensagem. Outros estudiosos tomam os dados dos Atos com cautela e tentam conciliá-los com os dados das Cartas, sobretudo sobre as suas viagens.
            Os Atos dos Apóstolos foram escritos cerca de 15 anos após a morte do Apóstolo. Como se sabe, Paulo não era muito bem aceito em certos grupos cristãos. Lucas tentou resgatar a imagem e o trabalho evangelizador do Apóstolo. Paulo é, para Lucas, a figura ideal para representar o caminho do discípulo na história. Um caminho feito de testemunhos em meio aos conflitos. Mostra que o caminho do discípulo não é diferente do caminho do Mestre (cf. o Evangelho de Lucas). Por isso, serve-se de alguns (não todos) os fatos marcantes da vida de Paulo, apresentando-os a seu modo e segundo sua visão. A estrutura dos Atos dos Apóstolos muitas vezes coincide com a do Evangelho de Lucas.
            Nem sempre os Atos e as Cartas coincidem nas informações. E nesses casos, devemos dar mais crédito às Cartas. Dois exemplos comprovam isso[4]. Comparando At 17,17 e 18,5 com 1Ts 3,1a.6a. Lucas afirma que “Enquanto Paulo esperava em Atenas, ficou revoltado ao ver a cidade cheia de ídolos... Quando Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, Paulo se dedicou inteiramente à Palavra, testemunhando diante dos judeus que Jesus era o Messias”. Paulo contudo, tem outra versão: “Assim, não mais podendo agüentar; resolvemos ficar sozinhos em Atenas, e enviamos a vocês Timóteo... Agora, Timóteo acaba de chegar da visita que fez a vocês, trazendo boas notícias sobre a fé e o amor de vocês”. A comparação mostra claramente a diferença. De acordo com os Atos, Paulo estava sozinho em Atenas. Quando os dois companheiros chegam, Paulo já está em Corinto. De acordo com a 1Ts, Paulo e Silas ficam sozinhos em Atenas e Timóteo vai e volta sozinho de Tessalônica. Evidentemente deve-se dar crédito à versão de Paulo.
            Outro exemplo vem de 2Cor 11,24-25, em que Paulo afirma: “dos judeus recebi cinco vezes os quarenta golpes menos um. Fui flagelado três vezes; uma vez fui apedrejado; três vezes naufraguei; passei um dia e uma noite em alto-mar”. Olhando para o que Lucas diz de Paulo nos Atos, podemos perguntar: Onde estão as referèncias às cinco vezes em que Paulo afirma ter sido punido com as 39 pauladas? Lucas ignora completamente as 195 chicotadas que Paulo recebeu. E onde os Atos falam de flagelações? Lucas contenta-se em narrar uma (At 16,22-23), omitindo as demais. Por quê? Certamente porque em seus planos.bastava narrar uma flagelação. Nos Atos não se mencionam as três flagelações.
            Também Lucas narra somente o grande naufrágio da quarta viagem (na qual talvez estava presente). E lembramos que quando Paulo escreve suas Cartas ainda estamos na terceira viagem. E mesmo assim garante ter passado 24 horas em alto-mar.
            O certo, porém, é que a vida e obra de São Paulo são bem maiores do que aquilo que nos relatam os Atos e as Cartas.


         4. Paulo e Jesus
                       
            Paulo seguramente não viu o Jesus histórico e nem ouviu sua voz e suas palavras. Teve uma forte experiência do Cristo Ressuscitado (At 9,3-9; 1Cor 15,8). Alguns não queriam reconhecê-lo como Apóstolo pelo fato de não ter sido um dos Doze Apóstolos e de não ter sido escolhido por Jesus e de não ter vivido com Ele.
            Alguns textos das Cartas dão margem a interpretações diferentes. Por exemplo, em 2Cor 5,16b ele escreve: “Mesmo que tenhamos conhecido Cristo segundo as aparências, agora já não o conhecemos assim”. Outro texto como 2Cor 12,1-6 poderia induzir que Paulo estivesse em Jerusalém por ocasião da Paixão do Senhor. Há outros que pensam que Paulo fazia parte do Sinédrio[5] e que tenha votado pela condenação de Jesus, a partir da expressão “dei meu voto” (cf. At 26,10). Porém, a maioria dos autores segue a linha de que Paulo de fato não conheceu pessoalmente Jesus e não teve contato com ele.
            O Apóstolo não tinha ainda em mãos os evangelhos escritos. Ele os trazia impressos na sua carne, marcada por toda sorte de sofrimentos (1Cor 11,21-29), a ponto de estar crucificado com Cristo (Gl 2,19), trazendo em seu corpo as marcas da paixão de Jesus (2Cor 4,10; Gl 6,17), e completando, no seu corpo, o que faltava das tribulações de Cristo (Cl 1,24). Assim ele podia dizer que “já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
            Pelos escritos do Apóstolo Paulo, nós verificamos também algumas diferenças entre o seu modo de anunciar e o modo como Jesus anuncia. Jesus anunciou a sua mensagem praticamente aos judeus, da Galiléia, pois segundo os sinóticos, Jesus só foi a Jerusalém para a Páscoa, quando foi crucificado e morto e depois ressuscitou. Paulo, por sua vez, percorreu o império romano e foi à Roma (capital) como parte final da sua vida, onde sofreu a sua paixão. Jesus falava em aramaico e anunciava o reino em parábolas, criadas a partir da observação atenta da vida simples do povo da roça e das aldeias. Paulo, ao contrário, embora também soubesse falar o aramaico, anunciou e escreveu em grego, porque seus ouvintes eram judeus da diáspora e pagãos que falavam a língua oficial da época. Paulo também era um bom observador da vida cotidiana, porém usava as imagens sobretudo da vida e da cultura urbana, das grandes cidades. Ele falava do atletismo, dos esportes, da construção civil, das paradas militares, das lutas nos estádios, da vida dos soldados, etc.[6] Por isso, tentava inculturar a mensagem de Jesus de Nazaré (que viveu a maior parte do tempo na Galiléia) para o universo da cultura grega.
           

         5. A “conversão”

            Os Atos relatam três vezes a conversão de Paulo, e as versões nem sempre são iguais. Antes, os relatos se complementam e se justificam. A primeira vez (At 9,1-25) insere-se no contexto do martírio de Estêvão e de outras conversões. Encaixa-se entre a conversão do eunuco etíope (8,26-40) e a de Cornélio (10,1–11,18). A segunda vez o relato é feito aos judeus (22,1-21). E a terceira vez (26,1-23) é narrada diante das autoridades políticas (judeus e não-cristãos). No plano de Lucas os três relatos da conversão de Paulo seriam uma espécie de proclamação universal: aos cristãos, aos judeus e aos não-judeus. Lucas pode querer mostrar o universalismo da mensagem de Paulo.
            O evento de Damasco, historicamente foi sempre conhecido como “conversão de São Paulo” (temos inclusive a festa no dia 25 de janeiro). Porém, Paulo não utiliza nunca a palavra “metanóia”. Também o que aconteceu com Paulo não segue o sentido que no AT os Profetas davam ao termo: “voltar”; “retornar”. Paulo não retornou ao farisaísmo. Ao contrário ele abandona o rigor da Lei.
            Sabemos que Paulo havia se tornado um fariseu sem reprovação (Fl 3,6b). Era o máximo que um fariseu poderia alcançar, ser chamado de “irrepreensível”, isto é, que observasse toda a Lei, seguramente também que cumprisse os 613 preceitos[7]. Os fariseus ( = separados) de fato acreditavam que o Messias viria quando todo o povo cumprisse a Lei fielmente, por isso consideravam o “povo da terra” e da Galiléia uns “malditos” porque não cumpriam a Lei (cf. Jo 7,49).
            Portanto, o que Paulo faz é “encontrar” o verdadeiro caminho; encontrar-se com o Senhor. Depois da experiência no caminho de Damasco, ele volta a estudar tudo o que tinha aprendido e se dedica a conhecer a mensagem de Jesus. Alguns estudiosos entendem que este foi um longo processo até abraçar de vez o seguimento de Jesus Cristo e tornar-se o grande evangelizador.



         6. Um missionário que escreve cartas às suas Igrejas
                       
            O grande carisma de Paulo é ser missionário. Depois de ter fundado as florescentes comunidades cristãs no mundo helenístico, ele não as deixou privadas de assistência, mas as acompanhou com a sua guia pastoral: a “preocupação por todas as Igrejas” representa, como ele mesmo afirmava, a sua “preocupação quotidiana” (2Cor 11,28). E para manter os contatos com essas comunidades, para ajudá-las a resolver os seus problemas e para rendê-las mais eficazes no seu testemunho ao mundo circunstante, Paulo se tornou escritor: as suas cartas nasceram da missão e em vista da missão.
            Paulo conhecia o bom funcionamento do correio do império romano e soube fazer deste meio, um instrumento de evangelização. Foi assim, sem saber e sem querer, o primeiro grande escritor do Novo Testamento.
            As Cartas foram escritas em função da situação concreta das comunidades. O Apóstolo acompanhava o crescimento das mesmas, com todos os seus problemas e dificuldades. Por isso, também a sua leitura hoje deve levar em conta a situação específica da comunidade à qual foi destinada cada uma delas.
            O seu modo de ser missionário também é diferente da mentalidade grega da época. Paulo trabalhava e ganhava o seu sustento com o próprio trabalho. E era um trabalho manual. Para as elites abastecidas de bens e culturalmente favorecidas, o único trabalho que dignificava o ser humano era o trabalho intelectual. Numa sociedade onde em algumas grandes cidades até dois terços da população era escrava, Paulo encontrou seu lugar social entre os trabalhadores empobrecidos, ainda que pudesse fazer valer seus direitos de Apóstolo e fundador de comunidades (1Cor 9,1-18; 2Cor 11,7-12).


[1] Talvez seu verdadeiro nome hebraico fosse Saul, em homenagem ao primeiro rei de Israel e que também era da tribo de Benjamin.
[2] J. Bortolini, Introdução a Paulo e suas Cartas, 5-6.
[3] É importante notar que para os judeus alguém que fosse condenado a morte, e suspenso numa árvore, era considerado um maldito de Deus (Cf. Dt 21,22-23).
[4] J. Bortolini, Introdução a Paulo e suas Cartas, 27.
[5] Parece um tanto difícil que Paulo fizesse parte do Sinédrio. Em At 23,1-10, se vê que ele nem sabe que é o Sumo Sacerdote quem preside o Sinédrio. Ou teria sido um erro de Lucas?
[6] J. Bortolini, Introdução a Paulo e suas Cartas, 17.
[7] Um judeu observante segue 613 preceitos, baseados na Lei. Destes, 365 (número dos dias do ano) são em forma negativa: “Tu não farás...” e 248 (número dos ossos do nosso corpo) são em forma positiva: “Tu farás...” Para maiores informações e também para ver a lista completa dos 613 mandamentos, indico o livro do Ephraim: Jesus, judeu praticante, Paulinas,  p. 205-237.

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