segunda-feira, 21 de julho de 2014

São Francisco de Assis, o Santo do Mundo Novo

Todos os biógrafos do tempo (Celano, São Boaventura, Legenda Perugina e outros) atestam "o terníssimo afeto que Francisco de Assis nutria para com todas as criaturas". Era de seu costume: dar o doce nome de irmãos e irmãs de quem adivinhava os segredos, como quem já gozava da liberdade e da glória dos filhos de Deus a todas as criaturas. Recolhia dos caminhos as lemas para não serem pisadas; dava mel às abelhas no inverno para que não morressem de frio ou de escassez; pedia aos jardineiros que deixassem um cantinho livre, sem cultivá-lo, para que ai pudessem crescer todas as ervas. 
Aqui notamos um outro modo-de-estar no mundo, diferente deste que nós conhecemos. Nesta o ser humano está sobre as coisas como quem as possui e domina. O modo-de-estar de Francisco é colocar-se junto com elas para conviver como irmãos e irmãs em casa. Ele intuiu misticamente o que hoje sabemos por um dado de ciência: todos somos portadores do mesmo código genético de base; por isso um laço de consanguinidade nos une, fazendo que nos respeitemos e amemos uns aos outros e jamais usemos de violência entre nós.

São Francisco está mais próximo dos povos originários, como os Yanomami ou os andinos que se sentem parte da natureza do que dos filhos e filhas da modernidade técnico-científica para os quais a natureza, tida como selvagem, está ao nosso dispor para ser domesticada e explorada.

Toda modernidade se construiu quase que exclusivamente sobre a inteligência intelectual; ela nos trouxe incontáveis comodidades. Mas não nos fez mais integrados e felizes porque colocou em segundo plano ou até recalcou a inteligência emocional ou cordial e negou cidadania à inteligência espiritual.

Hoje faz-se urgente amalgamar estas três expressões da inteligência se quisermos desentranhar aqueles valores e sentimentos que tem nelas o seu nicho: a reverência o respeito e a convivência pacífica com a natureza e a Terra. Esta diligência nos alinha com a lógica da própria natureza que se consorcia, inter-retro-conecta todos com todos e sustenta a sutil teia da vida.

Francisco viveu esta síntese entre ecologia interior e a ecologia exterior a ponto de São Boaventura chama-lo de  "um homem de um outro tipo de mundo", diríamos hoje, de outro paradigma.

Esta postura será fundamental para o futuro de nossa civilização, da natureza e da vida na Terra. A herança sagrada, legada por São Francisco de Assis, poderá ajudar toda a humanidade a fazer a passagem deste tipo de mundo que nos pode destruir para um outro, vivido em antecipação por São Francisco, feito de irmandade cósmica, de ternura e de amor incondicional.

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