Graça e Paz!
Irmãos e irmãs, estamos nos aproximando de um novo período eleitoral e por isto cabe a nós alguns esclarecimentos em vista de uma participação mais profunda na vida política de nosso país. É preciso começar com uma afirmação muito direta: a política é uma questão
religiosa sim!
Para alguns, a política e a religião são coisas que não devem se
tocar. Isto é mentira! Afinal de contas as dimensões da vida não podem ser separadas
como em uma gaveta! Neste sentido, é totalmente ideológica a posição de quem
deseja separar religião de política. Nada mais politiqueiro do que promover
esta separação. Ela em si mesma já denota uma posição política muito bem
definida: quando alguém luta para separar realidades tão próximas se posiciona
ao lado do status quo. Retomo as palavras do Papa Francisco:
Ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião
para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e
nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil,
sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos… Uma fé
autêntica – que nunca é cômoda nem individualista – comporta sempre um profundo
desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois
da nossa passagem por ela (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 183).
O Papa Francisco lembra a
importância da participação política dos cristãos e sua responsabilidade na
difícil, porém necessária, construção de uma sociedade mais justa: “devemos
envolver-nos na política, pois a política é uma das formas mais altas da
caridade, porque busca o bem comum” (Respostas do Papa Francisco às perguntas
dos representantes das escolas dos jesuítas da Itália e na Albânia, junho de
2013). Segundo o Papa, se a política se tornou uma coisa “suja” isso se deve ao
fato de que “os cristãos se envolveram na política sem espírito evangélico”. É
preciso que o cristão deixe de colocar em outras pessoas a responsabilidade pela
atual situação da sociedade e que cada um passe a perguntar a si mesmo o que
pode fazer para tornar concreta a mudança que se deseja.
Os períodos eleitorais
constituem-se em momento propício à participação dos cristãos, de quem se
espera conscienciosa atuação no processo decisório sobre aqueles que conduzirão
a coisa pública. Mas, não basta o voto. Antes e depois das urnas, deve-se
proceder um rigoroso acompanhamento dos candidatos Todos os cristãos são convocados
pelo próprio Senhor a se dedicarem a esta iniciativa. Antes de decidir em quem
votar, o eleitor consciente deve
conhecer o passado de seu candidato e averiguar se o discurso e a prática
por ele apresentados se conformam aos valores da ética e do bem comum.
É preciso também exercer a missão
profética de todo cristão e manter uma atitude de fiscalização e vigilância. Não
é cristã a atitude de quem negocia seu voto, pelo contrário, age como o Judas
Iscariotes pois, uma vez que do voto vendido as consequências recaem
primeiramente sobre os pobres, ao vender o voto se trai os pobres e traindo os
pobres se trai o próprio Senhor. (Mt 25,31-46).
A cada discussão, a cada reunião,
a cada momento com o seu candidato portanto, o cidadão deve se decidir a favor da honestidade, do bem comum e contra a
corrupção. Assim se aprimora, em mútua cooperação, a democracia. Isso só saberá
fazer quem conhece a história de seu candidato. É importante que não nos
deixemos enganar por promessas e rejeitar aqueles que fizeram da política
profissão e sustentados por plataformas eleitorais sempre reaparecem nestes
períodos movidos de um falso patriotismo e interesseira preocupação com a
situação do povo.
Ao nos aproximarmos das urnas, devemos
ter consciência de que embora o voto
constitua um momento privilegiado de participação cidadã numa democracia
representativa está longe de encerrar-se a responsabilidade cristã. A decisão
consciente de votar em candidatos que representem os valores cristãos é um
passo importante, mas não é o único. É preciso que, como cristãos, continuemos
a contribuir para que haja um diálogo que aponte às mudanças necessárias na
consolidação de uma cidadania inclusiva, de modo a garantir que a sociedade
possa participar e exercer democraticamente o poder político e isto se efetiva
mediante a fiscalização e acompanhamento
das ações pós eleições!
Qualquer pessoa pode se dispor a
ajudar determinados candidatos agindo de acordo com sua reta consciência e a
este serviço pode se dedicar, no entanto, em nenhuma das reuniões de nossos
grupos ou comunidades se poderá fazer campanha eleitoral e muito menos se
associar favores de candidatos a grupos como muitos ainda insistem devido à
obscuridade de sua própria consciência ou devido a uma mentalidade que coloca o
candidato como um ser superior.
Por fim, a Fé não pode ser vivida
isoladamente, mas em comunidade e no exercício da caridade. Neste sentido, em quem um cristão vota? A resposta é
esta: em quem historicamente e não de ontem para hoje tem se comprometido no
zelo pelo próximo, em quem não se conforma com o fato de estar sobrando na mesa
de poucos, aquilo que falta na mesa de muitos, em quem vê a necessidade de que
todos se empenhem para que efetivem no País os valores da igualdade, da dignidade
humana e da justiça social.
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