quinta-feira, 31 de julho de 2014

Religião e Política: "Em quem o Cristão vota?"



Graça e Paz!


Irmãos e irmãs, estamos nos aproximando de um novo período eleitoral e por isto cabe a nós alguns esclarecimentos em vista de uma participação mais profunda na vida política de nosso país. É preciso começar com uma afirmação muito direta: a política é uma questão religiosa sim!

 Para alguns, a política e a religião são coisas que não devem se tocar. Isto é mentira! Afinal de contas as dimensões da vida não podem ser separadas como em uma gaveta! Neste sentido, é totalmente ideológica a posição de quem deseja separar religião de política. Nada mais politiqueiro do que promover esta separação. Ela em si mesma já denota uma posição política muito bem definida: quando alguém luta para separar realidades tão próximas se posiciona ao lado do status quo. Retomo as palavras do Papa Francisco:


Ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos… Uma fé autêntica – que nunca é cômoda nem individualista – comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 183).


O Papa Francisco lembra a importância da participação política dos cristãos e sua responsabilidade na difícil, porém necessária, construção de uma sociedade mais justa: “devemos envolver-nos na política, pois a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum” (Respostas do Papa Francisco às perguntas dos representantes das escolas dos jesuítas da Itália e na Albânia, junho de 2013). Segundo o Papa, se a política se tornou uma coisa “suja” isso se deve ao fato de que “os cristãos se envolveram na política sem espírito evangélico”. É preciso que o cristão deixe de colocar em outras pessoas a responsabilidade pela atual situação da sociedade e que cada um passe a perguntar a si mesmo o que pode fazer para tornar concreta a mudança que se deseja.


Os períodos eleitorais constituem-se em momento propício à participação dos cristãos, de quem se espera conscienciosa atuação no processo decisório sobre aqueles que conduzirão a coisa pública. Mas, não basta o voto. Antes e depois das urnas, deve-se proceder um rigoroso acompanhamento dos candidatos Todos os cristãos são convocados pelo próprio Senhor a se dedicarem a esta iniciativa. Antes de decidir em quem votar, o eleitor consciente deve conhecer o passado de seu candidato e averiguar se o discurso e a prática por ele apresentados se conformam aos valores da ética e do bem comum. 


É preciso também exercer a missão profética de todo cristão e manter uma atitude de fiscalização e vigilância. Não é cristã a atitude de quem negocia seu voto, pelo contrário, age como o Judas Iscariotes pois, uma vez que do voto vendido as consequências recaem primeiramente sobre os pobres, ao vender o voto se trai os pobres e traindo os pobres se trai o próprio Senhor. (Mt 25,31-46). 


A cada discussão, a cada reunião, a cada momento com o seu candidato portanto,  o cidadão deve se decidir a favor da honestidade, do bem comum e contra a corrupção. Assim se aprimora, em mútua cooperação, a democracia. Isso só saberá fazer quem conhece a história de seu candidato. É importante que não nos deixemos enganar por promessas e rejeitar aqueles que fizeram da política profissão e sustentados por plataformas eleitorais sempre reaparecem nestes períodos movidos de um falso patriotismo e interesseira preocupação com a situação do povo. 


Ao nos aproximarmos das urnas, devemos ter consciência de que  embora o voto constitua um momento privilegiado de participação cidadã numa democracia representativa está longe de encerrar-se a responsabilidade cristã. A decisão consciente de votar em candidatos que representem os valores cristãos é um passo importante, mas não é o único. É preciso que, como cristãos, continuemos a contribuir para que haja um diálogo que aponte às mudanças necessárias na consolidação de uma cidadania inclusiva, de modo a garantir que a sociedade possa participar e exercer democraticamente o poder político e isto se efetiva mediante a fiscalização e acompanhamento das ações pós eleições!


Qualquer pessoa pode se dispor a ajudar determinados candidatos agindo de acordo com sua reta consciência e a este serviço pode se dedicar, no entanto, em nenhuma das reuniões de nossos grupos ou comunidades se poderá fazer campanha eleitoral e muito menos se associar favores de candidatos a grupos como muitos ainda insistem devido à obscuridade de sua própria consciência ou devido a uma mentalidade que coloca o candidato como um ser superior. 


Por fim, a Fé não pode ser vivida isoladamente, mas em comunidade e no exercício da caridade. Neste sentido, em quem um cristão vota? A resposta é esta: em quem historicamente e não de ontem para hoje tem se comprometido no zelo pelo próximo, em quem não se conforma com o fato de estar sobrando na mesa de poucos, aquilo que falta na mesa de muitos, em quem vê a necessidade de que todos se empenhem para que efetivem no País os valores da igualdade, da dignidade humana e da justiça social.

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