A Eucaristia está no centro
do processo de crescimento da Igreja. De fato, o Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente
no mundo pelo poder de Deus. Sempre que no altar se celebra o
sacrifício da cruz, no qual “Cristo, nossa Páscoa, foi imolado” (1 Cor
5, 7), realiza-se também a obra da nossa redenção. Pelo sacramento do pão
eucarístico, ao mesmo tempo é representada e se realiza a unidade dos fiéis,
que constituem um só corpo em Cristo (cf. 1 Cor 10, 17).
Existe um
influxo causal da Eucaristia nas próprias origens da Igreja. Os
evangelistas especificam que foram os Doze, os Apóstolos, que estiveram
reunidos com Jesus na Última Ceia (cf. Mt 26, 20; Mc 14, 17; Lc
22, 14). Trata-se de um detalhe de notável importância, porque os Apóstolos foram a semente do novo Israel. Ao oferecer-lhes o seu corpo e sangue como
alimento, Cristo envolvia-os misteriosamente no sacrifício que iria consumar-se
dentro de poucas horas no Calvário. De modo análogo à aliança do Sinai, que foi
selada com um sacrifício e a aspersão do sangue, os gestos e as palavras de Jesus na Última
Ceia lançavam os alicerces da nova comunidade messiânica, povo da nova aliança.
No Cenáculo,
os Apóstolos, tendo aceite o convite de Jesus: "Tomai, comei [...]. Bebei
dele todos" (Mt 26, 26.27), entraram pela primeira vez em comunhão
sacramental com Ele. Desde então e até ao fim dos séculos, a Igreja edifica-se
através da comunhão sacramental com o Filho de Deus imolado por nós: "Fazei isto em minha memória [...]. Todas as vezes que o beberdes,
fazei-o em minha memória" (1 Cor 11, 24-25; cf. Lc 22, 19).
A
incorporação em Cristo, realizada pelo Batismo, renova-se e consolida-se
continuamente através da participação no sacrifício eucarístico, sobretudo na
sua forma plena que é a comunhão sacramental. Podemos dizer não só que cada
um de nós recebe Cristo, mas também que Cristo recebe cada um de nós.
Ele intensifica a sua amizade conosco: "Chamei-vos amigos" (Jo
15, 14). Mais ainda, nós vivemos por Ele: "O que come da minha carne viverá por
Mim"(Jo 6, 57). Na comunhão eucarística, realiza-se de modo
sublime a inabitação mútua de Cristo e do discípulo: "Permanecei em Mim e
Eu permanecerei em vós" (Jo 15, 4).
Unindo-se
a Cristo, o povo da nova aliança não se fecha em si mesmo; pelo contrário,
torna-se "sacramento" para a humanidade, sinal e instrumento da salvação realizada por
Cristo, luz do mundo e sal da terra (cf. Mt 5, 13-16) para a redenção de
todos. A missão da Igreja está em continuidade com a
de Cristo: "Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós"
(Jo 20, 21). Por isso, a Igreja tira a força espiritual de que necessita
para levar a cabo a sua missão da perpetuação do sacrifício da cruz na
Eucaristia e da comunhão do corpo e sangue de Cristo. Deste modo, a Eucaristia
apresenta-se como fonte e simultaneamente vértice de toda a
evangelização, porque o seu fim é a comunhão dos homens com Cristo e, n'Ele,
com o Pai e com o Espírito Santo.
Pela
comunhão eucarística, a Igreja é consolidada igualmente na sua unidade de corpo
de Cristo. A este efeito unificador que tem a participação no banquete
eucarístico, alude S. Paulo quando diz aos coríntios: "O pão que partimos
não é a comunhão do corpo de Cristo? Uma vez que há um só pão, nós, embora
sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo
pão" (1 Cor 10, 16-17). Concreto e profundo, S. João Crisóstomo
comenta: "Com efeito, o que é o pão? É o corpo de Cristo. E em que se
transformam aqueles que o recebem?No corpo de Cristo; não muitos corpos, mas um
só corpo. De facto, tal como o pão é um só apesar de constituído por muitos
grãos, e estes, embora não se vejam, todavia estão no pão, de tal modo que a
sua diferença desapareceu devido à sua perfeita e recíproca fusão, assim também
nós estamos unidos reciprocamente entre nós e, todos juntos, com Cristo". A argumentação é linear: a nossa união com
Cristo, que é dom e graça para cada um, faz com que, n'Ele, sejamos parte
também do seu corpo total que é a Igreja. A Eucaristia consolida a incorporação
em Cristo operada no Batismo pelo dom do Espírito (cf. 1 Cor 12, 13.27).
A ação
conjunta e indivisível do Filho e do Espírito Santo, que está na origem da
Igreja, tanto da sua constituição como da sua continuidade, opera na
Eucaristia. O dom
de Cristo e do seu Espírito, que recebemos na comunhão eucarística, realiza
plena e sobreabundantemente os anseios de unidade fraterna que vivem no coração
humano e ao mesmo tempo eleva esta experiência de fraternidade, que é a
participação comum na mesma mesa eucarística, a níveis que estão muito acima da
mera experiência dum banquete humano. Pela comunhão do corpo de Cristo, a
Igreja consegue cada vez mais profundamente ser, "em Cristo, como que o
sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de
todo o gênero humano".
Aos
germes de desagregação tão enraizados na humanidade por causa do pecado, como
demonstra a experiência cotidiana, contrapõe-se a força geradora de unidade
do corpo de Cristo. A Eucaristia, construindo a Igreja, cria por isso mesmo
comunidade entre os homens.
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