“O Senhor Jesus,
na noite em que foi entregue” (1 Cor 11, 23), instituiu o sacrifício
eucarístico do seu corpo e sangue. As palavras do apóstolo Paulo recordam-nos
as circunstâncias dramáticas em que nasceu a Eucaristia. Esta inscrita na
paixão e morte do Senhor. Não é só a sua evocação, mas presença sacramental. É
o sacrifício da cruz que se perpetua através dos séculos. Esta verdade está
claramente expressa nas palavras com que o povo responde à proclamação
“mistério da fé” feita pelo sacerdote: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte”.
A Igreja recebeu a Eucaristia de Cristo seu Senhor como o dom por excelência, porque dom
dele mesmo, da sua Pessoa na humanidade sagrada, e também da sua obra de
salvação. Esta não fica no passado, pois “tudo o que Cristo é, tudo o que fez e
sofreu por todos os homens, participa da eternidade divina, e assim transcende
todos os tempos e em todos se torna presente”.
Quando a Igreja
celebra a Eucaristia, este acontecimento central de salvação torna-se realmente
presente e realiza-se também a obra da nossa redenção. É esta verdade que
desejo recordar mais uma vez, colocando-me convosco, meus queridos irmãos e
irmãs, em adoração diante deste Mistério: mistério grande, mistério de
misericórdia. Que mais poderia Jesus ter feito por nós? Verdadeiramente, na
Eucaristia demonstra-nos um amor levado até ao extremo (cf. Jo 13, 1),
um amor sem medida. A Igreja vive continuamente do sacrifício redentor, e tem
acesso a ele não só através duma lembrança cheia de fé, mas também com um
contato atual, porque este sacrifício volta a estar presente, perpetuando-se,
sacramentalmente, em cada comunidade que o oferece pela mão do ministro
consagrado. Deste modo, a Eucaristia aplica aos homens de hoje a reconciliação
obtida de uma vez para sempre por Cristo para humanidade de todos os tempos.
Com efeito, o sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um
único sacrifício.
A Missa torna
presente o sacrifício da cruz; não é mais um, nem o multiplica. O que se repete
é a celebração memorial, a exposição memorial de modo que o único e
definitivo sacrifício redentor de Cristo se atualiza incessantemente no tempo.
Portanto, a natureza sacrificial do mistério eucarístico não pode ser entendida
como algo isolado, independente da cruz ou com uma referência apenas indireta
ao sacrifício do Calvário. Em virtude da sua íntima relação com o sacrifício do
Gólgota, a Eucaristia é sacrifício em sentido próprio, e não apenas em
sentido genérico como se se tratasse simplesmente da oferta de Cristo aos fiéis
para seu alimento espiritual. Com efeito, o dom do seu amor e da sua obediência
até ao extremo de dar a vida (cf. Jo 10,17-18) é em primeiro lugar um
dom a seu Pai. Certamente, é um dom em nosso favor, antes em favor de toda a
humanidade (cf. Mt 26, 28; Mc 14, 24; Lc 22, 20;
Jo 10, 15), mas primariamente um dom ao Pai: Sacrifício que o Pai
aceitou, retribuindo esta doação total de seu Filho, que Se fez “obediente até
à morte” (Flp 2, 8), com a sua doação paterna, ou seja, com o dom da
nova vida imortal na ressurreição.
Ao entregar à
Igreja o seu sacrifício, Cristo quis também assumir o sacrifício espiritual da
Igreja, chamada por sua vez a oferecer-se a si própria juntamente com o sacrifício
de Cristo. Pela participação no sacrifício eucarístico de Cristo, fonte e
centro de toda a vida cristã, os fiéis oferecem a Deus a vítima divina e a si
mesmos juntamente com ela. A Páscoa de Cristo inclui, juntamente com a paixão e
morte, a sua ressurreição. Assim o lembra a aclamação da assembleia depois da
consagração: “Proclamamos a vossa ressurreição”. Com efeito, o
sacrifício eucarístico torna presente não só o mistério da paixão e morte do
Salvador, mas também o mistério da ressurreição, que dá ao sacrifício a sua
coroação. Por estar vivo e ressuscitado é que Cristo pode tornar-Se “pão da
vida” (Jo 6, 35.48), “pão vivo” (Jo 6, 51), na Eucaristia. S.
Ambrósio lembrava esta verdade, aplicando às suas vidas o acontecimento da
ressurreição: “Se hoje Cristo é teu, Ele ressuscita para ti cada dia”. Por sua
vez, S. Cirilo de Alexandria sublinhava que a participação nos santos mistérios
“ é uma verdadeira confissão e recordação de que o Senhor morreu e voltou
à vida por nós e em nosso favor”.
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