A Eucaristia
Palavra de Deus e Eucaristia
Quanto foi dito de modo geral a respeito da relação entre Palavra e Sacramentos, ganha maior profundidade aplicado à celebração eucarística. Aliás a unidade íntima entre Palavra e Eucaristia está radicada no testemunho da Escritura (cf. Jo 6; L c 24), é atestada pelos Padres da Igreja e reafirmada pelo Concílio Vaticano II. A este propósito, pensemos no grande discurso de Jesus sobre o pão da vida na sinagoga de Cafarnaum (cf. Jo 6, 22-69), que tem como pano de fundo o confronto entre Moisés e Jesus, entre aquele que falou face a face com Deus (cf. Ex 33, 11) e aquele que revelou Deus (cf. Jo 1, 18). De fato, o discurso sobre o pão evoca o dom de Deus que Moisés obteve para o seu povo com o maná no deserto, que na realidade é a Palavra de Deus que faz viver (cf. Sl 119; Pr 9, 5). Em Si mesmo, Jesus torna realidade esta figura antiga: “O pão de Deus é o que desce do Céu e dá a vida ao mundo. (...) Eu sou o pão da vida”(Jo 6, 33.35).
Aqui, a Lei tornou-se Pessoa. Encontrando Jesus, alimentamo-nos por assim dizer do próprio Deus vivo, comemos verdadeiramente o pão do céu. No discurso de Cafarnaum, aprofunda-se o Prólogo de João: se neste o Logos de Deus Se faz carne, naquele a carne faz-Se pão dado para a vida do mundo (cf. Jo 6, 51), aludindo assim ao dom que Jesus fará de Si mesmo no mistério da cruz, confirmado pela afirmação acerca do seu sangue dado a beber (cf. Jo 6, 53). Assim, no mistério da Eucaristia, mostra-se qual é o verdadeiro maná, o verdadeiro pão do céu: é o Logos de Deus que Se fez carne, que Se entregou a Si mesmo por nós no Mistério Pascal.
A narração de Lucas sobre os discípulos de Emaús permite-nos uma reflexão acerca do vínculo entre a escuta da Palavra e a fração do pão (cf. L c 24, 13-35). Jesus foi ter com eles no dia depois do sábado, escutou as expressões da sua esperança desiludida e, acompanhando-os ao longo do caminho, explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que Lhe dizia respeito (24, 27). Juntamente com este viajante que inesperadamente se manifesta tão familiar às suas vidas, os dois discípulos começam a ver as Escrituras de um novo modo. O que acontecera naqueles dias já não aparece como um fracasso, mas cumprimento e novo início. Todavia, mesmo estas palavras não parecem ainda suficientes para os dois discípulos. O Evangelho de Lucas diz que abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-No (24, 31) somente quando Jesus tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lho deu; antes, os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem (24, 16). A presença de Jesus, primeiro com as palavras e depois com o gesto de partir o pão, tornou possível aos discípulos reconhecê-Lo e apreciar de modo novo tudo o que tinham vivido anteriormente com Ele: Não estava o nosso coração a arder cá dentro, quando Ele nos explicava as Escrituras? (24, 32).
Vê-se a partir destas narrações como a própria Escritura leva a descobrir o seu nexo indissolúvel com a Eucaristia. Por conseguinte, deve-se ter sempre presente que a Palavra de Deus, lida e proclamada na liturgia pela Igreja, conduz, como se de alguma forma se tratasse da sua própria finalidade, ao sacrifício da aliança e ao banquete da graça, ou seja, à Eucaristia. Palavra e Eucaristia correspondem-se tão intimamente que não podem ser compreendidas uma sem a outra: a Palavra de Deus faz-Se carne, sacramentalmente, no evento eucarístico. A Eucaristia abre-nos à inteligência da Sagrada Escritura, como esta, por sua vez, ilumina e explica o Mistério eucarístico. Com efeito, sem o reconhecimento da presença real do Senhor na Eucaristia, permanece incompleta a compreensão da Escritura. Por isso, à palavra de Deus e ao mistério eucarístico a Igreja tributou e quis e estabeleceu que, sempre e em todo o lugar, se tributasse a mesma veneração embora não o mesmo culto. Movida pelo exemplo do seu fundador, nunca cessou de celebrar o mistério pascal, reunindo-se num mesmo lugar para ler, “em todas as Escrituras, aquilo que Lhe dizia respeito” (L c 24, 27) e atualizar, com o memorial do Senhor e os sacramentos, a obra da salvação. Em vista do fato de este ano ser escolhido para que tratássemos a Eucaristia e a Juventude, e relembrando que a Eucaristia é sempre o coração da Igreja, nosso trabalho para este ano terá como finalidade o fortalecimento de uma identidade Eucarística, o que justifica a primeira parte do nosso plano de ação pastoral. Em todas as nossas comunidades encontramos pessoas dispostas a servirem à Igreja nas equipes de liturgia. Não obstante, toda a boa vontade de coração que elas possuem, muitas vezes lhe falta a devida formação litúrgica. Com isto não se desqualifica o trabalho que já exercem com tanto zelo, mas é nosso dever dar mais força e consistência ao que já fazem. Diante desta necessidade de formação, a Paróquia São Pedro e São Paulo, deve elaborar um cronograma formativo que capacitará os agentes para os mais diversos ministérios litúrgicos, por exemplo, ministros leigos que celebram a Palavra de Deus nas comunidades em que os padres por diversos motivos não podem estar todos os domingos. As equipes que animam as celebrações por meio das músicas, etc. Cabe também a nós este ano, destacar a Doutrina sobre a Eucaristia, por meio da Sagrada Escritura, dos documentos pontifícios (Sacramentum Caritatis), Catecismo da Igreja e documentos da CNBB. A importância do Dia do Senhor, aqui se deve estimular a participação nas missas dominicais, apresentando de forma clara e profunda a importância do Domingo como dia do Senhor. Muito poderá servir de inspiração, a Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, bem como a Dies Domini.
No mês de junho, em preparação para a Solenidade de Corpus Christi, nós iremos promover uma Jornada Eucarística que deve ser estendida a todas as paróquias da região várzea. Em nossa realidade desafiadora, na qual muitos lugares carecem de celebrações dominicais da Eucaristia, muitos são os que se colocando à disposição de suas comunidades, celebram a Palavra de Deus. A estes nossos olhos devem se voltar com muita atenção. Para isto, devemos, em nosso programa formativo para a liturgia, o espaço para se refletir sobre a celebração dominical da Palavra de Deus. É necessária uma formação especifica sobre aspectos do ministério leigo em torno das celebrações da Palavra de Deus, evitando que as celebrações da Palavra sejam mini-missas ou Celebração de Adoração ao Santíssimo Sacramento.
Que Deus, o Pai das Misericórdias nos mantenha unidos para que com Cristo, o Senhor de nossas vidas, alcancemos todos os Dons do Espírito Santo em vista de uma vivência cristã mais autêntica e consistente!
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