sábado, 19 de novembro de 2011

Anseios para o Sínodo: o Curso de Filosofia

A Igreja exige que na formação dos sacerdotes pelo menos dois anos de Filosofia. Em muitas dioceses se articulou o curso integrado de Filosofia e Teologia o que levava seis anos. De maneira muito pessoal, eu duvido que este estilo de formação como foi vivenciado tendo apenas dois anos de Filosofia seja eficiente. Esta idéia deve ser fortalecida pelo fato de algumas dioceses terem mudado seu estilo de curso e deixado a Filosofia com três anos e a teologia com quatro anos.
Quando lemos o documento 55 da CNBB, percebemos a dupla finalidade do curso de filosofia: primeiro serve para preparar o discurso da fé uma vez “que leva a uma compreensão mais profunda da pessoa humana, da sua liberdade, das suas relações com o mundo e com Deus; e que contribui para despertar e educar a procura rigorosa da verdade” Ao mesmo tempo em que serve para dar suporte para que a ação da teologia no mundo verse sobre as diversas realidades do ser humano ( n. 147).
Os bispos estabeleceram uma linha baseada em Tomás de Aquino e que deveria servir como base para que todas as dioceses preparassem suas próprias ementas. Vejamos:

a) Teoria do conhecimento: esta deve ser firmemente fundamentada na razão e na experiência com força para dialogar com as mais diversas perspectivas filosóficas com a consciência de que já não se faz mais ciência como no tempo de Santo Tomás de Aquino, e também que não estamos mais no contexto da cristandade.

b) Uma antropologia que seja capaz de harmonizar no ser humano, a alma, o corpo e o espírito, numa perspectiva unitária, que conceda a perspectiva de comunhão entre todos os aspectos do ser humano, sua sexualidade, sua transcendência e sua singularidade.

c) Cosmologia alicerçada na Metafísica e ao mesmo tempo aberta as mais amplas descobertas da ciência.

d) Uma teodicéia que se fundamente na realidade e busque a transcendência de forma que adentre coerentemente a possibilidade de se visualizar, numa linha tomista, a existência de Deus como algo racionalmente possível.

e) Uma ética racional, fundamentada na Ontologia e capaz de tocar todas as realidades do ser humano, sua cultura, sua política e sua sociedade. Nesse campo surgem muitos debates dos quais o discurso teológico não pode se esquivar: a bioética, a tecnociência, a pluralidade cultural e o papel da verdade, o lugar verdadeiro da religião.

O que a Igreja espera que um seminarista saiba de filosofia? De acordo com o que apresentamos acima, a Igreja espera que seu seminarista tem noções de lógica, um bem definido conhecimento Metafísico, capacidade de analisar argumentos, e minimamente a capacidade de fazer uma análise de conjuntura. Em um contexto de pluralidade dentro do próprio Cristianismo, noções de filosofia da Religião o que lhe concederia uma distinção entre o que é verdadeiramente expressão religiosa e o que não passa de alienação. Aprendemos de Santo Agostinho que a fé jamais pode abrir mão da Razão ou ver a esta como inimiga: “Desejei ver com a inteligência o que acreditei, e muito tive de discutir e esforçar-me” (A Trindade XV, 28). Quando nós nos deparamos com o que se pede minimamente do curso de filosofia, somos impulsionados a uma outra questão: onde será o curso? No próprio seminário? Separado do Seminário, mas em um centro católico? Ou na Universidade Pública? O mais comum é curso no próprio Seminário. E isto nos vai jogar diante de algumas ponderações: sem dúvida a primeira diz respeito ao corpo docente. Na maioria dos casos, os nossos seminários, não contam de um corpo qualificado. Temos padres dando aula e em sua maioria sem terem recebido o devido preparo para esta tarefa. Boa vontade por si só não é suficiente para se fazer um bom curso.

O Código de Direito Canônico no artigo 253, § 2º diz que se deve cuidar para que se tenha um professor para cada uma das grandes disciplinas. Mas um ponto é chave e que quase nunca é respeitado em algumas casas de formação: O Seminário tem que ser um lugar propício para a meditação também filosófica, oferecendo tempo de estudos que favoreçam o empenho dos alunos! Na falta de qualificação de muitos professores nos seminários, a produção acadêmica é insignificante.
 

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