sábado, 19 de novembro de 2011

Anseios para o Sínodo: aspectos da formação dos diáconos permanentes

2.2. Dimensão eclesial-comunitária




A partir da família, Igreja doméstica, o diácono alimentará o amor pela vida comunitária inspirada no Evangelho e integrar-se-á plenamente na comunidade eclesial.Evitará a tendência individualista em sua vida pessoal, familiar, comunitária e ministerial. Com efeito, a forma individualista do exercício do ministério ordenado é um dos principais entraves à realização de uma Igreja toda ela responsável pela missão (cf. PDV 17). O diácono vive, pois, o desafio de não se fechar em sua família, em detrimento de sua ligação com o presbitério e a comunidade eclesial. Igualmente, envidará esforços para não ser absorvido totalmente pelos compromissos e atividades pastorais em prejuízo de sua família.
É necessário, sobretudo, renovar continuamente as motivações da vida comunitária, que tem na Santíssima Trindade sua fonte, modelo e meta definitiva. A assídua intimidade com Cristo e a docilidade ao Espírito levam à realização da vontade do Pai. Isso constitui a experiência básica, que faz do diácono um discípulo semelhante aos primeiros Apóstolos. A vida comunitária tem ainda como raiz a própria natureza da vocação eclesial, que é o chamado à participação ativa naquele plano pelo qual “aprouve a Deus santificar e salvar os homens, não singularmente, mas constituí-los em um povo” (LG 9).
Dentro da própria comunidade os diáconos descobrirão carismas e incentivarão vocações para novos ministérios, valorizando agentes de pastoral ou ministros leigos nas tarefas que lhes convém e que não são exclusivas do ministério ordenado, e respeitando a iniciativa e a justa autonomia de todos os que se entregarem ao serviço do Evangelho.
No exercício de sua missão o diácono testemunhará que todo ministério, ordenado ou não, deverá ser vivido na dimensão do serviço, a exemplo do Cristo-Servo, evitando toda e qualquer forma de autoritarismo, monopólio e busca de privilégios.

2.3. Dimensão intelectual

A formação intelectual é condição indispensável para o exercício frutuoso do ministério ordenado em face dos grandes desafios da evangelização neste complexo contexto em que vivemos. Ela tem como objetivo alcançar uma compreensão adequada da realidade humana, interpretando-a à luz da fé e da Palavra de Deus e discernindo as linhas de ação evangelizadora. “Ela é particularmente urgente hoje, perante os desafios da nova evangelização a que a Igreja é chamada neste difícil final de milênio. A indiferença religiosa, o ofuscamento dos valores, a perda de convergência ética, o pluralismo cultural exigem que aqueles que estão empenhados no ministério ordenado tenham uma formação intelectual completa e séria”.
A prática pastoral constitui o eixo integrador da formação intelectual. Conseqüentemente, a inserção de grande parte dos diáconos em diferentes profissões, no mundo do trabalho e nas graves questões sociais e políticas possibilitará uma mediação eficaz para a atuação dos ensinamentos da Doutrina Social da Igreja.
Urge desenvolver nos diáconos a capacidade criativa de encarnar a mensagem cristã nos diferentes contextos e de vivenciar as exigências intrínsecas de uma evangelização inculturada através do testemunho da comunhão, do serviço, do diálogo e do anúncio.
A preocupação com a formação pastoral, espiritual e teológica dos diáconos deve ser assumida como um dos principais deveres das dioceses, procurando motivar todos os diáconos para um processo permanente de renovação e atualização. Na formação permanente, envolva-se, na medida do possível, a própria família do diácono para que esta não fique alheia às atividades pastorais da Igreja.
Para integrar bem a dimensão intelectual com as outras dimensões, sobretudo a espiritual, vale citar São Boaventura: “Ninguém pense que lhe baste a leitura sem a unção, a especulação sem a devoção, a busca sem o assombro, a observação sem a exultação, a atividade sem a piedade, a ciência sem a caridade, a inteligência sem a humildade, o estudo sem a graça divina, a investigação sem a sabedoria da inspiração divina” (PDV 53).

2.4. Dimensão espiritual

“A formação humana abre-se e completa-se na formação espiritual, que constitui o coração e o centro unificador de toda a formação cristã.[...] A formação espiritual do futuro diácono não pode ignorar a experiência já adquirida, mas deve pô-la à prova e incrementá-la, para enxertar nela as características específicas da espiritualidade diaconal. A formação espiritual, ordenada à santidade de vida, que consiste na comunhão íntima e profunda com o Pai, pelo Filho e no Espírito Santo, e que se atinge pela perfeição da caridade, prepara o diácono para desempenhar seu ministério.
“O elemento que mais caracteriza a espiritualidade diaconal é a descoberta e a partilha do amor de Cristo-Servo. Aos diáconos a Didascalia Apostolorum recomenda: “Como o nosso Salvador e Mestre disse no Evangelho: ‘Quem quiser tornar-se grande entre vós, torne-se o vosso servo, da mesma forma como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos’ (Mt 20,26-28), vós, diáconos, deveis fazer o mesmo, ainda que isso implique dar a vida por vossos irmãos, por meio do serviço (diakonia) que sois chamados a cumprir. Se, pois, o Senhor do céu e da terra se fez o nosso servidor e sofreu pacientemente todo tipo de dor por nós, quanto mais não deveremos fazer o mesmo por nossos irmãos, pois somos seus imitadores e recebemos a mesma missão do Cristo?” (Didascalia Apostolorum XVI, 13).
O Vaticano II, de muitos modos e em diversas oportunidades, enfatizou que a vida espiritual integra o homem em sua globalidade, respeitando as experiências e os valores de cada um, e modela a vida a partir da própria situação pessoal, profissional e religiosa. Portanto, na vivência de sua dupla sacramentalidade, o diácono construirá uma espiritualidade profunda envolvendo a esposa e os filhos no serviço de Cristo, no anúncio e na construção do Reino.
Na Conferência de Santo Domingo, os bispos valorizam os diáconos como ministros da dupla sacramentalidade: “Queremos ajudar os diáconos casados para que sejam fiéis à sua dupla sacramentalidade: a do Matrimônio e a da Ordem, e para que suas esposas e filhos vivam e participem com eles na diaconia. A experiência de trabalho e seu papel de pais e esposos constituem-nos colaboradores muito qualificados para abordar diversas realidades urgentes em nossas Igrejas particulares” .
Na multiforme riqueza do dom recebido, que os destina às várias atividades do serviço da caridade, da Palavra e da liturgia, o ministério dos diáconos permaneça aberto às solicitações que pelo Espírito e pelos sinais dos tempos chegam à Igreja e sua missão. Uma ação eclesial profundamente aberta requer que os diáconos estejam disponíveis a responder aos desafios de uma autêntica evangelização inculturada que se realiza no testemunho da comunhão, no serviço, no diálogo e no anúncio.
A espiritualidade diaconal há de ser vivida na centralidade da Eucaristia, na vivência dos sacramentos e de toda a liturgia, na leitura orante da Palavra de Deus, na recitação da Liturgia das Horas, na oração pessoal, familiar e contemplativa, no serviço do povo pela caridade pastoral, na orientação espiritual,na partilha comunitária e na comunhão eclesial.
Dessa espiritualidade brota também o amor filial para com Maria, mãe de Jesus, a grande servidora que manteve plena fidelidade aos desígnios do Pai, modelo de disponibilidade e amor para todo servidor. Contemplando-a, os diáconos aprenderão o significado de uma total dedicação de amor à missão, ao louvor de Deus e à salvação dos irmãos, aprofundando sua identificação com a vontade de Cristo (Jo 2,5), que procura em tudo a vontade e a glória do Pai (Jo 4,34;17,4).
A participação na vida eclesial favorecerá o crescimento do espírito de obediência e de co-responsabilidade. Critérios de sua autenticidade são a conformação interior com a vontade de Deus e a busca sincera do bem comum, assumindo, com alegria, as renúncias necessárias. A obediência se expressa também na cordial disponibilidade à observância dos ensinamentos da Igreja e das orientações dos superiores. 
 

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