sábado, 19 de novembro de 2011

Anseios para o Sínodo: A formação

Hoje a Igreja da Paraíba abrirá seu primeiro Sínodo. O Sínodo se propõe a ser um grande balanço da caminhada da Igreja local da Paraíba, bem como uma reafirmação de sua identidade e projeção de seu futuro. Recentemente recebi um convite para fazer parte dos auxiliares de uma das comissões do Sínodo: a Teológica – Pastoral, o que por si só representa uma negação de uma convicção minha, pois creio que aqui deveríamos ter duas comissões, uma para articular o grande discurso e fundamentação teológica e outra para direcionar praticamente aquilo que foi debatido adaptando à realidade de cada região da Arquidiocese da Paraíba.

Uma vez feito o convite comecei a pensar sobre o ponto chave para todo o debate e cheguei à conclusão de que o Sínodo para rever as estruturas, fortalecer a identidade e projetar o futuro deve ter seu olhar voltado para o nascedouro dos padres, porque um padre bem formado conduz com decência o povo de Deus. Um padre que não foi bem formado, deformará o povo de Deus a ele confiado. Já esta afirmação levanta um questionamento: o que acontece para que os padres não sejam todos bem formados? Então comecemos: há diretrizes sobre a formação dos futuros sacerdotes: Documentos do Concílio Vaticano II, Código de Direito Canônico, CNBB (n. 55, 93), Pastores Dabo Vobis, de João Paulo II. O que ocorre então? Uma vez que não falta instrumental teórico teremos que optar: das duas uma, ou são diretrizes obsoletas frente a realidade em que vivemos, ou não são sequer observadas.

Vivemos em uma época do pluralismo religioso, na qual, por um lado, se desconfia das capacidades da razão e, por outro, predomina a mentalidade técnico-científica que ignora as questões éticas e religiosas. Quando falamos de formação dos presbíteros, referimo-nos, acompanhando os documentos do Magistério da Igreja:



a) à formação acadêmica ou intelectual;

b) à formação sacerdotal ou espiritual.

 
Vou falar apenas sobre a dimensão acadêmica dos futuros sacerdotes, deixando claro que tenho consciência de que não se pode fazer essa separação na prática devido sua igual importância no que diz respeito ao crescimento humano do sacerdote, sem o qual não existe formação. Devemos começar dizendo que há uma distinção entre o centro de estudos acadêmicos e o restante do seminário. O centro deve formar os teólogos, o seminário formar sacerdotes. Em um Seminário, o reitor é a figura que fala pelo bispo. Isto se encontra nas diretrizes da CNBB o bispo “está presente no Seminário através do ministério do Reitor e do serviço de co-responsabilidade e de comunhão animado por ele com os outros educadores” (Diretrizes, n. 18). O Reitor é assim o elo entre Bispo e formandos, clero e formandos, povo de Deus e formandos. Assim sendo, posto que a finalidade é formar os pastores, o reitor deve ser também o ponto de encontro entre o Centro de estudos e os formandos. O ponto inicial do debate sobre a formação dos sacerdotes e sua identidade é o significado do ser sacerdote hoje.

Embora hoje venha se destacando a imagem do culto, as cartas de Paulo, por exemplo colocam a centralidade no anúncio da Palavra o que vemos presente em Presbyterorum ordinis. O mesmo esquema paulino de anúncio da Palavra aparece nos Santos Padres como Agostinho de Hipona, Clemente de Alexandria. O culto a Cristo que constitui o ponto alto da vida cristã é fundamentado na Palavra de Deus.

1 A formação acadêmica em geral

Não faz muito tempo que na grande parte das paróquias o padre e o médico eram os únicos com curso superior. O mundo mudou e agora mesmo os professores do curso fundamental já possuem curso superior. Quem quiser se manter deve sempre se atualizar. Nós não temos esta mesma mentalidade quando se trata da formação dos futuros sacerdotes. Sob a necessidade de formar “pastores”, tende-se a minimizar os estudos da Teologia e da Filosofia. E isso ocorre no Brasil inteiro. Vejo razões para isso:

a) nem sempre o estudo é bem-orientado, nem atualizado;

b) a premente necessidade de ter maior número de padres para atender o povo.

O que isso ocasiona é que enquanto em outras áreas do conhecimento se exige sempre mais dedicação e qualidade para obter lugar de trabalho, o padre, por sua vez tem espaço garantido, o que dispensa o empenho em muitos seminaristas, gerando dentro dos seminários, em alguns, um descaso pelos estudos e uma busca incansável por um Q.I. (quem indica) no clero, um padrinho que abra todas as portas, que puxe para as pastorais, que favoreça na ida para uma paróquia.
 

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