quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Cristologia - Terceiro Momento



Temos diversas cristologias no Novo Testamento. Cada um dos evangelistas tem um modo próprio de falar de Jesus Cristo. Em breves palavras, poderíamos assim resumir:
Marcos acentua o Jesus humano, rejeitado, pobre. Para ele, Jesus é Messias justamente no sofrer e dar a vida, é Filho de Deus oculto nas condições humanas do sofrimento. Seu Jesus é áspero com os discípulos, severo com os fariseus e cauteloso com as multidões. Em seu Evangelho, Jesus faz segredo de sua messianidade, para evitar que seu messianismo tivesse interpretação política, no estilo dos zelotas ou de outros movimentos revolucionários da época.
            Para Mateus, Jesus é um mestre, o Messias esperado de Israel, o cumpridor das  promessas e profecias da Primeira Aliança, o verdadeiro intérprete da lei mosaica, o novo Moisés, que proclama no monte a lei das bem-aventuranças e re-interpreta  a antiga lei, o novo Davi, o anunciador do Reino, iniciador de um novo movimento religioso, que é a semente do novo povo de Israel, a Igreja.
            Para Lucas, Jesus é amigo do povo, um  homem das multidões, que revela, em palavras e atos, a face misericordiosa do Pai. É um homem de relações: com os pobres, os pecadores, as mulheres, os marginalizados. Um homem de oração, ungido pelo Espírito Santo, em profunda relação com o Pai. E o Senhor de toda a história e Salvador de toda a humanidade.
            João apresenta um Jesus místico, consciente de sua condição e missão divinas. E o revelador de Deus na forma de sinais: luz, pão, água, pastor, videira. O Jesus de João, ciente de sua filiação divina, afirma-se como aquele que é, aplica a si o “Eu sou” divino. Vive, por isso, em permanente conflito com os chefes dos judeus, que não o reconhecem como Filho de Deus:

Nos Atos dos Apóstolos, Jesus é mostrado como o Senhor ressuscitado, vivo e, presente no meio das comunidades, pela força de seu Espírito. E o Caminho a seguir, a Palavra a ouvir, a praticar e a anunciar. E o modelo a seguir nas provações da fé.
            O próprio Paulo, em seus muitos escritos, produz diversas cristologias. No breve tempo de seu ministério, releu o mesmo e único evento pascal de diversos modos. Em seusprimeiros escritos, as duas cartas aos Tessalonicenses, Paulo está voltado para o futuro das comunidades. Apresenta-lhes o Cristo do futuro, o juiz escatológico, o Senhor que vem.
Nas cartas maiores (Rm, 1 e 2 Cor, Gl), voltado para a vida presente da Igreja, com suas dificuldades e desafios, Paulo mostra o Cristo do presente da vida cristã, o crucificado-ressuscitado, o Senhor que vence a morte, que dá seu Espírito aos fiéis, o Senhor presente no coração e na comunidade dos fiéis, que faz passar da lei para a liberdade, do pecado para a graça.
            Nas últimas cartas, as cartas da prisão (Ef, Col, Fil), voltado para as origens do plano da salvação, Paulo apresenta o Cristo das origens, o pré-existente, que sendo Deus se fez homem, o mediador de toda criação, o Primogênito de toda criatura, o centro de todo mistério salvífico.
            Nas cartas pastorais, atribuídas a Paulo (1 e 2 Tim, Tt, Fm), temos o Cristo mediador da salvação de toda a humanidade, o Cristo que deve ser servido e seguido na organização da comunidade, no pastoreio dos fiéis. E o único que possui a imortalidade e habita em luz inacessível, o que apareceu entre nós para revelar os planos eternos do Pai, para nos justificar por sua graça e nos fazer todos irmãos e irmãs uns dos outros.
            O autor da carta aos Hebreus apresenta Jesus como irmão misericordioso dos pecadores, disposto a morrer por todos. Aquele que aprendeu na humilhação e no sofrimento a ter fé em Deus-Pai. Por isso, é o único e verdadeiro sacerdote, mediador entre Deus e os seres humanos. Tendo ofertado sua vida em sacrifício, tornou-se o único mediador entre Deus e os seres humanos.
            Na carta de Tiago, Jesus é o Senhor da glória que não admite favoritismos pessoais e acepção de pessoas.
            Nas duas cartas de Pedro, Jesus é o modelo a ser imitado no amor ao próximo, no enfrentamento das perseguições, no suportar a cruz de cada dia. E o sofredor, insultado, que morreu por nós. E o nosso Senhor e Salvador.

Nas três cartas de João, Jesus é o protótipo dos filhos e filhas de Deus, é o Filho  Unigênito enviado pelo Pai ao mundo, é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Na união com ele, podemos vi ver, desde já, a vida eterna.
No Apocalipse temos o Cristo vencedor da morte, a testemunha fiel, o primogênito dentre os mortos, o príncipe dos reis da terra, o primeiro e o último, Aquele que é, que era e que vem.

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