Temos diversas cristologias no Novo Testamento. Cada um dos
evangelistas tem um modo próprio de falar de Jesus Cristo. Em breves palavras, poderíamos
assim resumir:
Marcos acentua o Jesus humano, rejeitado, pobre. Para ele, Jesus é
Messias justamente no sofrer e dar a vida, é Filho de Deus oculto nas condições
humanas do sofrimento. Seu Jesus é áspero com os discípulos, severo com os
fariseus e cauteloso com as multidões. Em seu Evangelho, Jesus
faz segredo de sua messianidade, para evitar que seu messianismo tivesse
interpretação política, no estilo dos zelotas ou de outros movimentos
revolucionários da época.
Para
Mateus, Jesus é um mestre, o Messias esperado de Israel, o cumpridor das promessas e profecias da Primeira Aliança, o
verdadeiro intérprete da lei mosaica, o novo Moisés, que proclama no monte a
lei das bem-aventuranças e re-interpreta a antiga lei, o novo Davi, o anunciador do
Reino, iniciador de um novo movimento religioso, que é a semente do novo povo
de Israel, a Igreja.
Para
Lucas, Jesus é amigo do povo, um homem
das multidões, que revela, em palavras e atos, a face misericordiosa do Pai. É
um homem de relações: com os pobres, os pecadores, as mulheres, os
marginalizados. Um homem de oração, ungido pelo Espírito Santo, em profunda
relação com o Pai. E o Senhor de toda a história e Salvador de toda a
humanidade.
João
apresenta um Jesus místico, consciente de sua condição e missão divinas. E o
revelador de Deus na forma de sinais: luz, pão, água, pastor, videira. O Jesus
de João, ciente de sua filiação divina, afirma-se como aquele que é, aplica a
si o “Eu sou” divino. Vive, por isso, em permanente conflito com os chefes dos
judeus, que não o reconhecem como Filho de Deus:
Nos Atos dos Apóstolos, Jesus é mostrado como o Senhor ressuscitado, vivo
e, presente no meio das comunidades, pela força de seu Espírito. E o Caminho a
seguir, a Palavra a ouvir, a praticar e a anunciar. E o modelo a seguir nas
provações da fé.
O
próprio Paulo, em seus muitos escritos, produz diversas cristologias. No breve
tempo de seu ministério, releu o mesmo e único evento pascal de diversos modos.
Em seusprimeiros escritos, as duas cartas aos Tessalonicenses, Paulo está
voltado para o futuro das comunidades. Apresenta-lhes o Cristo do futuro, o
juiz escatológico, o Senhor que vem.
Nas cartas maiores (Rm, 1 e 2 Cor, Gl), voltado para a vida presente da
Igreja, com suas dificuldades e desafios, Paulo mostra o Cristo do presente da
vida cristã, o crucificado-ressuscitado, o Senhor que vence a morte, que dá seu
Espírito aos fiéis, o Senhor presente no coração e na comunidade dos fiéis, que
faz passar da lei para a liberdade, do pecado para a graça.
Nas
últimas cartas, as cartas da prisão (Ef, Col, Fil), voltado para as origens do
plano da salvação, Paulo apresenta o Cristo das origens, o pré-existente, que
sendo Deus se fez homem, o mediador de toda criação, o Primogênito de toda
criatura, o centro de todo mistério salvífico.
Nas
cartas pastorais, atribuídas a Paulo (1 e 2 Tim, Tt, Fm), temos o Cristo
mediador da salvação de toda a humanidade, o Cristo que deve ser servido e
seguido na organização da comunidade, no pastoreio dos fiéis. E o único que
possui a imortalidade e habita em luz inacessível, o que apareceu entre nós
para revelar os planos eternos do Pai, para nos justificar por sua graça e nos
fazer todos irmãos e irmãs uns dos outros.
O
autor da carta aos Hebreus apresenta Jesus como irmão misericordioso dos
pecadores, disposto a morrer por todos. Aquele que aprendeu na humilhação e no
sofrimento a ter fé em
Deus-Pai. Por isso, é o único e verdadeiro sacerdote,
mediador entre Deus e os seres humanos. Tendo ofertado sua vida em sacrifício,
tornou-se o único mediador entre Deus e os seres humanos.
Na
carta de Tiago, Jesus é o Senhor da glória que não admite favoritismos pessoais
e acepção de pessoas.
Nas
duas cartas de Pedro, Jesus é o modelo a ser imitado no amor ao próximo, no enfrentamento
das perseguições, no suportar a cruz de cada dia. E o sofredor, insultado, que
morreu por nós. E o nosso Senhor e Salvador.
Nas três cartas de João, Jesus é o protótipo dos filhos e filhas de Deus,
é o Filho Unigênito enviado pelo Pai ao
mundo, é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Na união com ele, podemos vi ver,
desde já, a vida eterna.
No Apocalipse temos o Cristo vencedor da morte, a testemunha fiel, o
primogênito dentre os mortos, o príncipe dos reis da terra, o primeiro e o
último, Aquele que é, que era e que vem.
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