Esse é o tempo da liturgia, onde a Igreja nos exorta à conversão. É um tempo de preparação para a festa ápice do cristianismo: a Ressurreição de Jesus Cristo, comemorada no Domingo de Páscoa.
A palavra vem do latim, que significa "quadragésima", ou seja, são quarenta dias antecedentes à festa da Páscoa, cujo período começa na quarta-feira de cinzas e se estende até a quarta-feira da Semana Santa. Nesse tempo a Igreja nos conduz a uma reflexão mais intensa e a uma conversão espiritual, baseadas na proximidade de Cristo, através de seus prodígios e milagres realizados em nosso meio.
Todas as religiões têm períodos voltados à reflexão, eles fazem parte da disciplina religiosa. A essencialidade de um espírito voltado às atitudes santas nos dá um maior contato com o divino, introduzindo-nos ao incomensurável mistério da ressurreição do Cristo Vivo, proporcionando simbolicamente o renascer com Ele. Daí o sentido de voltar-se para a espiritualidade e para a conversão.
No que se refere ao calendário litúrgico, consta que cada doutrina religiosa tem o seu específico para seguir. Na liturgia da Igreja católica, os vários tempos litúrgicos são identificados pelas cores. Podemos presenciá-las nos vários adornos da igreja: na toalha do altar, na coberta do ambão, nos enfeites decorativos... e, principalmente, na vestimenta presbiteral. A cor representada no Tempo da Quaresma é o roxo, em sinal de luto e penitência.
Sabemos que a Bíblia possui uma linguagem alusiva, o que nos faz refletir sobre os diversos significados do mistério divino; por isso, o tempo de duração da Quaresma está baseado no simbolismo desse número, como Escritura Sagrada nos apresenta. Há, portanto, uma verossimilhança com os quarenta dias do dilúvio; os quarenta anos da peregrinação do povo judeu pelo deserto; os quarenta dias de Moisés e Elias na montanha, à espera das Tábuas da Lei; os quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar a sua vida pública, entre outros. São fatos muito importantes que contribuem para a fecundidade de um preparar-se para uma nova caminhada.
No Evangelho de Mateus (Mt 6, 1-6.16-18), vemos que Deus nos exorta a vivermos três grandes propósitos de santidade: a caridade, a oração e o jejum como forma de penitência. Podemos dizer que, a partir desses três pontos, começa a nossa meta de conversão e preparação. Porém, só se faz verdadeira, quando, ambos, forem praticados com a pureza de coração. Cristo, no entanto, vai mais além; Ele nos convida a vivermos isso, não só na Quaresma, mas em todos os momentos de nossa vida, a fim de obtermos uma busca constante do Reino de Deus.
A oração é o ápice de todo o processo, é através dela que vamos estabelecer um contato mais íntimo com Deus, mostrando nossa abertura de coração. Ainda a caridade e a penitência estão intimamente ligadas, porque se baseiam em um mesmo princípio - a humildade - como nos mostra o Evangelho: "Quando deres esmola não toques a trombeta diante de ti como fazem os hipócritas para serem louvados pelos homens. Quando jejuardes não tomeis um ar triste como os hipócritas, que mostram um semblante abatido para manifestar aos homens o seu jejum" (Mt 6,2.16). Esses três desafios completam-se no momento em que damos o primeiro passo para sua realização e, são cruciais para obtermos uma perfeita comunhão com a espiritualidade.
Quanto à prática do jejum na Quaresma, é obrigatória a todos os cristãos batizados; na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira santa, para pessoas com idade entre 18 e 60 anos. Porém, há uma abertura, para aqueles que não têm a possibilidade de realizá-lo nesses dias, de ser feito em outros dias, mediante a necessidade de cada um. É importante ressaltar que a prática do jejum significa um desapego, mesmo que mínimo, de algo que para nós é importante; ao mesmo tempo em que nos exorta à prática da caridade, pois com isso, podemos viver um pouco da realidade daqueles mais necessitados.
Mediante tudo isso, só podemos louvar e agradecer ao Deus da vida, porque sempre nos proporciona oportunidades especiais, para uma maior proximidade com Ele. É o Senhor Vivo, que permanece entre nós, tornando-nos membros de uma grande aliança de amor e reconciliação. Aproveitemos toda a essência da Quaresma, para que assim possamos criar uma íntima comunhão com o Cristo Ressuscitado.
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