O primeiro Livro da Sagrada Escritura nos fala que Deus havia dito que de uma árvore específica o homem não deveria comer. E o homem desobedeceu. Por meio de um homem veio o pecado ao mundo, como nos fala a segunda leitura! O Evengelho coloca Jesus diante do Tentador e o início do Evangelho diz que Ele foi conduzido pelo Espírito para ser tentado pelo diabo. Parece um tanto estranho ler que o Espírito conduziu Jesus para o lugar da tentação. Mas é justamente nesta condução que se encontra o coração de toda missão de Jesus porque é preciso que o Filho de Deus refaça o caminho de toda a humanidade, do povo de Deus no deserto para vencer o antigo inimigo. É preciso que Jesus entre onde o homem se perdeu, vença quem aprisionou o homem e lhe conceda a liberdade. Com Jesus no deserto estamos fazendo a experiência de Israel durante o êxodo, tendo Moisés como guia: “lembrarás de toda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer durante quarenta anos no deserto, afim de fazer-te experimentar a pobreza; colocando-te à prova e assim conhecer o que tens no coração e saber se tu observarias ou não seus mandamentos. Ele te fez viver a pobreza, Ele te fez ter fome e te deu a comer o maná que nem tu, nem teus pais conheciam para levar-te a reconhecer que o homem não vive só de pão, mas que ele vive de toda palavra que sai da boca de Deus”. Dt 8.
Quando Jesus responde ao demônio ele nos mostra o caminho da vitória sobre as forças do mal. Quem não se aproxima da Palavra de Deus, não terá como enfrentar o mal, será presa fácil, como um rato que cai em uma toca de serpente. A Palavra de Deus é nosso escudo contra o mal, é nossa luz no escuro do mundo e o alimento que nos garante a felicidade. Por conseguinte, todo aquele que se alimenta da palavra de Cristo já não necessita de alimento terreno. Porque quem se renova com o pão do Senhor não pode desejar o pão deste mundo. Efetivamente, o Senhor tem o Seu próprio pão, ou melhor, o Salvador é Ele próprio pão, como nos ensina com estas palavras: "Eu sou o pão que desceu do Céu" (Jo 6, 41). É a este pão que o salmo chama "o pão que lhe robustece as forças" (Sl 103, 15).
Que me importa o pão que oferece o diabo, quando tenho o pão em que comungo com Cristo? Que me importa o alimento por causa do qual o primeiro homem perdeu o Paraíso, Esaú o direito de primogenitura (Gn 25, 29ss.), que designou Judas Iscariotes como traidor (Jo 13, 26ss.)? Com efeito, Adão perdeu o Paraíso devido ao alimento, Esaú perdeu o seu direito de primogenitura por um prato de lentilhas, e Judas renunciou à sua condição de apóstolo por um punhado de moedas; porque, no momento em que o tomou, deixou de ser apóstolo para se tornar traidor. O alimento que devemos tomar é aquele que abre o caminho ao Salvador, não ao diabo, o que transforma quem o toma em proclamador da fé e não em traidor. O Senhor tem razão em dizer, neste tempo de jejum, que é o Verbo de Deus que alimenta, para nos ensinar que não devemos viver os nossos jejuns preocupados com o mundo, mas lendo os textos sagrados. Com efeito, o que se alimenta das Escrituras esquece a fome do corpo; o que se alimenta do Verbo celestial esquece a fome. Eis o alimento que alimenta a alma e alivia o faminto [...], que confere a vida eterna e afasta de nós as armadilhas das tentações do diabo. A leitura dos textos sagrados é vida, como afirma o Senhor: "As palavras que vos disse são espírito e são vida" (Jo 6, 63).
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