segunda-feira, 14 de março de 2011

Interpretação Teológica da Quaresma

A quaresma prepara os cristãos para a celebração da maior data do ano litúrgico na qual se celebra a Páscoa na Ressurreição do Senhor, em 2011 dia 24 de abril. É. Por isto mesmo, um tempo privilegiado no qual através de uma busca ainda maior da própria elevação espiritual quem foi purificado nas águas batismais procura corresponder ao grande anelo de Cristo. Este, com efeito, como lembra São Paulo: “amou a Igreja e se entregou a si mesmo por ela, a fim de a santificar, purificando-a com o lavacro de água juntamente com a palavra para apresentar a si mesmo essa Igreja resplandecente de glória, sem mancha, nem ruga, sem coisa alguma semelhante para que seja santa e irrepreensível” (Ef 5,25-27). Donde, segundo o mesmo Apóstolo, o caráter batismal da quaresma: “Uma vez que ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas lá de cima, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (Cl 3,1).

A Igreja é uma comunidade pascal, porque é batismal. O dom da vida nova colocada em cada um pela dileção divina, faz de quem foi batizado uma nova criatura, filho ou filha especial de Deus. É preciso, porém, que cada cristão se torne cotidianamente, na realidade vivida, aquilo que é nas profundezas de seu ser renovado por puro dom do Ser Supremo. Daí a razão pela qual o cristão é chamado a exprimir com uma vida de contínua conversão a passagem para uma existência que o torne sempre mais semelhante ao Redentor triunfante sobre o pecado e a morte. Esforço de fidelidade e crescimento cotidiano que deve marcar cada instante do existir de quem foi cristianizado. A Igreja promove então um tempo de revisão de vida, um retiro espiritual de quarenta dias. Trata-se de se consagrar com mais piedade ainda à oração, à reflexão e à metamorfose de vida. Esta mudança é preconizada no Apocalipse: “O justo faça a justiça e o santo santifique-se ainda mais (Ap 22,11). Eis porque durante o tempo quaresmal o essencial não é multiplicar as orações, mas fazê-las com mais fervor ainda, intensificando o pedido pela conversão dos pecadores, daqueles que não observam os mandamentos divinos, não realizando as promessas batismais. Preces ardentes para todos seguidores de Jesus vençam o espírito do mundo, apesar de viverem num clima de civilização do bem-estar e do consumismo. Cumpre, realmente, viver a quaresma numa dimensão individual e comunitária para que se possa comemorar com mais autenticidade e proveito a Páscoa do Senhor. Daí o espírito de penitência que envolve a quaresma que lembra o discurso da mortificação e da renúncia, da luta pela prática de todas as virtudes, de amor ao sacrifício. A penitência quaresmal visa não só estabelecer uma união mais íntima entre cada um e Deus pela abominação, pela repulsa a qualquer pecado, mas ainda pelo arrependimento das fraquezas cotidianas, das pequenas infidelidades e deslealdades entre o nosso eu e as exigências do amor de um Deus três vezes santo. Enfim, o contexto quaresmal leva cada um a retirar todo e qualquer obstáculo ao projeto divino de aperfeiçoamento pessoal perante sua grandeza infinita. É claro que o próprio Senhor quem ilumina e dá eficácia a todos estes bons propósitos, os quais se transformam em ações litúrgicas , ou seja, ação de Cristo e da Igreja em cada um de seus filhos. O documento do Concílio Vaticano II, Sacrosanctum Concilium, ressaltou com ênfase esta dupla índole quaresmal pela lembrança do batismo e o verdadeiro espírito penitencial para que o mistério pascal seja vivido em plenitude (SC 109.) Dentro destas reflexões a Campanha da Fraternidade leva a vivenciar e a assumir a dimensão comunitária e social da Quaresma, tendo como foco este ano a Fraternidade e a Vida do Planeta. É exatamente a ambição humana, o egoísmo, a falta de sensibilidade para com as maravilhas que Deus espalhou mundo todo que faz a criação gemer em dores de parto (Rm 8,22). Não pode o cristão ficar alheio ao problema das mudanças climáticas, devendo respeitar ao máximo o meio ambiente do lugar em que vive, o que supõe renúncia corajosa a tudo que pode causar qualquer tipo de poluição, inclusive a poluição sonora. Pequenas atitudes somadas ajudam a preservar o ar, a água, as plantas, os animais, a vida nesta terra. Tudo isto supõe também espírito de penitência, porque exige esforço e respeito ao próximo e a tudo que rodeia o cristão, agradecido às dádivas generosas do Criador de tudo.


Con. José Geraldo Vidigal
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

* Caso o comentário seja contrário a fé Católica, contrário a Tradição Católica será deletado.


Queria dizer que...

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.