A visita aos enfermos pertence à mais antiga tradição do cristianismo. Encontramos reflexos na Carta de São Tiago: Algum de vós está doente? Mande chamar os anciãos da Igreja e que estes orem, depois de tê-lo ungido com óleo em nome do Senhor (Tg 5, 14). E a prática da Igreja primitiva nada mais era do que a atualização do sermão escatológico de Mateus. No dia do juízo, quando o Filho do homem vier na sua glória, dirá às pessoas que visitaram os enfermos: estava doente e me visitastes e, com tristeza, dirá o contrário aos que nunca visitam os doentes: estava doente e na prisão e não me visitastes. Todos conhecemos o jogo de surpresa que o texto reveste quando Senhor te visitamos? E Jesus responde identificando-se com os doentes (Mateus 25,31-46).
Até aqui as palavras da Escrituras desvelam o interior das pessoas que visitam e são visitadas. Há uma beleza dos dois lados. Em cada casa em que entramos, nos deparamos com uma delicadeza do Senhor; a alegria dos enfermos em receber aquele pequenino grupo da Igreja, ao trazer-lhes a esperança e força de Deus. A cultura em relação à visita aos doentes se tem modificado muito nos últimos tempos por força das transformações sociais. Fatores absolutamente fora do nosso alcance configuram nova situação. Refletir sobre ela ajuda-nos a ir ao encontro de saídas criativas.
Na cultura familiar tradicional, o hospital representava solução de emergência e última instância por breve tempo, de modo que a casa permanecia o lugar privilegiado da visita aos enfermos. Famílias numerosas possibilitavam revezamento entre os filhos ou parentes no cuidado diário de enfermos ou anciãos. A vida moderna, em que homem e mulher trabalham fora, dificulta a presença contínua de algum parente junto ao enfermo. Daí a solução fácil do hospital ou do asilo. E quando isso acontece, o provérbio popular nos alerta: longe dos olhos, longe do coração. E assim muitos corações se esfriam, se esquecem e lá estão os doentes entregues à triste solidão.
Acrescente-se ainda a sobrecarga de trabalho que a vida atual impõe a todos. Depois de 8 horas na labuta, sem contar as horas perdidas no transporte público ou nos engarrafamentos cotidianos, as pessoas voltam exaustas para casa. Como ter energia ainda para cuidar de enfermos?
Quanto mais difícil se torna esse serviço, tanto mais heroísmo exige das pessoas. E nas visitas encontramos anjos da guarda que cuidam com carinho e desvelo dos parentes fragilizados. A doença e a idade provocam um duplo efeito. Abrem e fecham os corações paradoxalmente. A fragilidade em que se encontra a pessoa dispõe-na para receber mensagens de conforto e esperança. A fé cristã tem o maravilhoso anúncio pascal. Por mais trágica que seja a situação em que o enfermo esteja, Deus se mostra propício como aquele que se põe a seu lado na luta contra o mal físico e espiritual. Ele é o primeiro interessado a consolar quem se aflige com as dores e fraquezas. E Deus consola de duas maneiras. Por meio de nossas palavras humanas e por uma presença misteriosa dele no íntimo do ser humano. As visitas se tornam verdadeiros sacramentos. Sinais visíveis da graça invisível de um Deus atuante.
Às vezes, o efeito da doença é oposto. A pessoa se fecha na solidão. Nesse momento, requer-se tato pastoral. Antes de abordar o enfermo, mergulhemos um instante em Deus e peçamos-lhe a palavra adequada. Ouçamos, para concluir, a são João que nos fala da unção, do Espírito que nos dá a palavra verdadeira de consolo aos irmãos necessitados: A unção, que dele recebestes, permanece em vós e não necessitais de ninguém para vos ensinar. Pois como a unção vos ensina tudo e é verdadeira e não mentirosa, permanecei nele conforme ela vos ensinou (1João 2,27). No Espírito, a nossa palavra será verdadeira.
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