domingo, 22 de janeiro de 2012

Homilia para o terceiro domingo do tempo comum: Reino - Conversão -Vocação


Caríssimos irmãos e irmãs,o Evangelho de hoje nos coloca diante do primeiro anúncio feito por Jesus e este já nos mostra o centro do que será toda a atividade do Filho Amado de Deus: o Reino de Deus! Muitos querem dividir este texto como se tivesse duas partes, UMA sobre o Reino e OUTRA sobre o chamado. Mas só há uma parte nesse Evangelho e esta diz respeito ao Reino. Nenhum de nós tem condições de definir o que Jesus pensava ao falar sobre o Reino, como ele o entendia e como ele o esperava. E nos Evangelhos, em lugar algum Jesus define para nós o que seja o Reino. Suas parábolas falam do Reino sempre tendo como início “o Reino de Deus é como...” são sempre comparações. Não conheceríamos nada do Reino de Deus se não fosse a presença de Jesus que o revela, como realidade próxima. E por isso, as ações de Jesus são manifestações do que é o Reino. É ele o meio para compreendermos o que venha a ser o Reino de Deus a tal ponto que no Evangelho de São João, a palavra Reino de Deus não aparece porque o Reino já é identificado com o próprio Jesus. A única vez que Jesus fala de Reino no quarto Evangelho o associa a si mesmo quando diz a Pôncio Pilatos que o seu Reino não é deste mundo. O Reino de Deus está muito além de nossas palavras, o Reino está associado incondicionalmente à vida de Jesus com todas as suas implicações. Sua opção clara e incontestável pelos mais fracos de seu tempo, sua severa crítica à estrutura religiosa de seu tempo, seu caráter firme em relação aos poderosos, e sua absoluta liberdade frente a Deus a ponto de chamá-lo de pai e frente à Lei a ponto de se apresentar como intérprete: “ouvistes o que foi dito aos antigos, mas EU vos digo...”, são luzes que nos mostrar em que sentido o Reino já está próximo. Entretanto, antes de falarmos sobre o Reino é preciso rever o que pensamos sobre nós mesmos. Porque dependendo de como entendamos a nossa própria vida, entenderemos o que Jesus quis dizer com “proximidade do Reino”. Ainda vivemos, infelizmente, uma falsa tensão entre Alma e Corpo. Para muitos, essa realidade não possui riquezas, não possui valor, não possui significado, porque a verdadeira vida estaria do outro lado, após a morte. Se você entender a vida assim, o Reino de Deus não pode ser encontrado neste mundo, e assim, a vida passa a ser uma constante peregrinação para o Além. Somente aí o Reino pode ser encontrado e portanto, este mundo deve ser menosprezado e tudo o que se relacione com essa realidade não serve para chegarmos aos Céus. A realidade do Reino, é relativa à alma, este corpo se une à realidade do que chamamos mundo. Outro lado, de tanto privilegiar a realidade do corpo, acredita que todo discurso sobre o Reino é um analgésico para a realidade dura deste mundo e, portanto, trata-se de um discurso alienante e aprisionador. Outra vertente desta supremacia do corpo sobre a alma, adentrou a Religião na chamada teologia da prosperidade e aí, Deus é visto como aquele que fornece riquezas fazendo do Reino dos Céus uma melhoria econômica de uma realidade de miséria vivida por uma pessoa, com sua familia. É este tipo de discurso que vemos na televisão nos programas que passam em horários patrocinados pelas igrejas pentecostais. Essa tensão sobre corpo e alma é falsa como falei, porque na mentalidade hebréia, da qual Jesus participa, essa tensão não existe, o que existe é equilíbrio, harmonia. Este mundo, como conhecemos, toda a nossa realidade diz respeito, deve dizer sempre respeito à nossa espiritualidade. Nesse sentido, a esperança do Reino une dois mundos, o de Deus e os dos homens. Jesus presente a passando por nossa vida, é sinal de que não pode haver uma distinção radical, pois Deus criou os céus e a terra, então não podemos viver na tensão OU céu OU terra. O Reino de Deus está próximo porque ele vem a nós, de acordo com a vontade de Deus realizada! Não temos morada permanente aqui, mas fomos feito para tomar conta deste mundo enquanto aqui estivermos e não para viver em fuga dele. Jesus não associou o Reino de Deus à saída deste mundo e sim à saída de um tipo de vida para outro “convertei-vos e crede no Evangelho”. O tema da conversão apareceu na primeira leitura e lá está relacionado com a misericórdia de Deus, aqui no Evangelho está associado com o próprio Reino de Deus. O Reino é para pessoas que buscam conversão, buscam mudar de vida, porque conversão é muito mais do que mudar de religião, posto o fato de muitos mudarem de igreja e permanecerem como eram, ou em alguns casos, até piorarem, invadidos por um orgulho que sugere uma superioridade diante deste mundo que é visto como um lugar perdido e por isso, quem não faz parte daquele determinado grupo religioso está condenado ao inferno. Conversão é mudar o jeito de viver neste mundo, na fraternidade, na busca dos direitos, no serviço aos mais fracos, na crítica a toda expressão religiosa que aprisione e na construção de uma nova sociedade planetária. Em um mundo injusto e violento, carregado de discriminações até religiosas, o Reino de Deus não é um lugar geográfico situado no além, mas é desejo de eternidade que nos impulsiona a buscar um mundo diferente aqui. O Reino é a Nova Ordem das coisas, construído a partir de valores sólidos que iluminam nossas escolhas pois o que daqui construímos se tornará eterno para o bem ou não. O sentido do Reino está presente já no Pai Nosso “Venha a nós o vosso Reino”. Este pedido na oração que o próprio Jesus nos ensinou aponta para o sentido da vida, quando a vontade de Deus encontra abrigo em nosso coração, céus e terra se unem e o Reino de Deus começa a acontecer já aqui e caso mantenhamos nossa vida alinhada de acordo com a vontade de Deus, chegaremos à Eternidade feliz. É esta a proposta, o sentido para esta vida que se torna absoluto e irrevogável quando o nosso tempo passar. A religião não teria sentido algum se não tentasse construir já aqui uma vida melhor, uma sociedade de paz e concórdia. E daqui passamos ao chamado dos primeiros seguidores de Cristo. Andar com Cristo é assumir esse sonho dele em plantar aqui as sementes de um mundo novo, cuja raiz toca plenamente o terreno deste mundo e cuja copa interage com o mais alto dos céus. Seguir Jesus que passa é querer andar nos seus passos o que exige mudança de vida, conversão. Não quer dizer que já sejamos santos, quer dizer que desejamos mudar e que apesar de nossos muitos pecados, continuamos crendo na bondade de Deus que nos chama assim como somos e deseja fazer de nós o melhor que podemos ser! Nessa trajetória poderemos mudar a vida de muitas pessoas, apesar de nossos próprios pecados. Muitos estão largados na vida, imersos na escuridão e na tristeza, precisando apenas de um convite. Certa vez, um rapaz de mais ou menos 16 anos me disse que nunca tinha vindo à Igreja porque ninguém nunca o havia chamado. Até que um dia, recebeu um convite de alguns amigos e vindo, não conseguiu mais deixar de vir sempre. Muitos precisariam de algo que os motivasse a encontrar alegria na vida e não encontram porque nós que dizemos ter sido encontrados por Jesus, muitas vezes, não fazemos questão de trazer outros para esse mesmo caminho. É preciso que nós nos convertamos sempre para evitar que sejamos enganados pela vaidade de achar que somos melhores porque estamos com Jesus. Nesta vida, muitas pessoas fazem de tudo para alcançar o que tanto desejam e depois que alcançam podem perceber, com um simples olhar para trás, que valioso era o que elas sacrificaram: amizades, verdades, sinceridade, honestidade. Todavia, em tudo percebemos um desconhecimento do verdadeiro valor a ser buscado na vida: o Reino de Deus! Desta maneira, o Evangelho de hoje fala do Reino relacionando-o à conversão e sobre o dever de todo o convertido: uma vez chamado, procurar resgatar a vida de todos os que forem possíveis. Temos assim um contato com o Reino em seus desdobramento: Conversão e Vocação!  

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