A visita do Papa Francisco encheu de alegria os católicos, mas não só os católicos. É interessante perceber como este Papa consegue falar mesmo aos que há muito estão afastados e desejavam reencontrar a paz de consciência e harmonia com Deus. No entanto, esta visita acirrou os ânimos de muitos em relação ao Estado Laico. Pelo que vemos, talvez estejamos ainda longe de chegarmos a um consenso sobre esta temática.
Por si só, o fato de o Estado ser Laico não constitui um problema, porque em um Estado verdadeiramente Laico estaria garantido o direito à liberdade de culto e de não culto, sem que ninguém fosse constrangido por professar ou não professar uma fé em determinada divindade. Não é o que temos visto. Temos visto, uma laicidade fajuta que não passa de uma caça e supressão a símbolos religiosos o que contraria a identidade de um Estado Laico, uma vez que este zela pela pluralidade e tolerância para com as tendências diferentes. Os símbolos religiosos ainda trazem em si um elemento histórico cultural e não me refiro à história de uma determinada religião, refiro-me ao fato de todo o Ocidente ter sido modelado pelo Cristianismo. Neste sentido, a rejeição de símbolos é para além de um evento contrário à religião uma negação da própria identidade histórica e cultural. É justo e considerável que se critique a forma como isto aconteceu, sobretudo em nosso continente, porém, não é possível negar que a origem do Ocidente se vincula ao Cristianismo, queiramos ou não, na base de nossa civilização se encontra o Cristianismo.
Em um Estado Laico dois pilares devem sustentar tudo. Primeiro, nenhuma religião pode impor sua moral ao Estado. Nem mesmo a religião majoritária. O fortalecimento de bancadas evangélicas e os projetos oriundos destas minam este primeiro pilar de um Estado Laico. Entretanto, este grupo se fortalece a cada eleição e não há nada que se possa fazer uma vez que não é por acaso que estes parlamentares chegam lá. Só chegam como parte do jogo democrático. O segundo pilar sustenta que o pensamento a ser combatido não é o religioso e sim o da intolerância religiosa. Este pilar está igualmente minado porque sob a bandeira do Estado Laico temos visto uma busca de esvaziamento do sentimento religioso, coisa que filosoficamente e antropologicamente são impossíveis! Corremos o risco de ter as diversas manifestações religiosas marginalizadas uma vez que sempre poderá ter alguém que se sinta incomodado com a fé alheia... O impacto desta visita do Papa serve para nos mostrar que nenhuma força pode reunir tanto as pessoas quanto a Religião, portanto, em um Estado Laico, este sentimento deve ser resguardado contra toda ofensa e perseguição.
Na forma como vem sendo trabalhado, apenas um estilo de pensamento se encontra preservado de qualquer crítica e rejeição: o pensar anti-religioso! Neste sentido, o chamado Estado Laico brasileiro é na verdade um Estado Anti- Religioso. A negação da existência de Deus é um exercício da liberdade e nos últimos tempos tem se tornado tão dogmático como as religiões que criticam. Tem ganhado status de religião mesmo, e como religiões primárias traz em si os mesmos elementos: arrogância, sentimento de superioridade em relação aos que acreditam em Deus e o proselitismo que é a tentativa de arrebanhar adeptos. Na França por exemplo, o Estado decidiu retirar Ensino Religioso dos elementos curriculares em nome do Estado Laico, mas sugeriu o Ateísmo como disciplina substituta. Nestes casos a bandeira defendida por movimentos em defesa do Estado Laico são muito claras e o Estado não pode assumir uma religião em detrimentos de outras, do contrário, nega a si mesmo enquanto Estado Laico! Para ser verdadeiro deve garantir a co-existência pacífica entre todas as linhas de pensamentos, confessionais ou não. A Marcha das Vadias que aconteceu no Rio de Janeiro na semana da Jornada Mundial da Juventude deu provas de que não estamos diante de um pensamento tolerante e dialogal e sim de uma linha de pensamento contrária à religião. É permitido a qualquer ser humano o direito de protestar, de contestar, de reclamar, não aceitar e de rejeitar um ensinamento religioso, só que em nome de tudo isto, não se pode atacar símbolos que para alguns não dizem nada mas para outros falam sobre o sentido real da fé, da esperança.
Não estamos vivendo em um Estado Laico porque como expus, os dois pilares estão minados. Enquanto a intolerância prevalecer, enquanto a não pertença ou pertença a um grupo religioso for causa de conflitos este Estado será uma grande farsa. E o pior, pelo caminho adotado na vivência de um Estado Laico só veremos uma estrutura anti-religiosa que afrontará a liberdade e as consciências!
Qualquer opinião diferente será aceita desde que não denigra porque denegrir alguém por conta do que esta pessoa pensa é contrário a um estado que se deseje Laico!
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