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Estamos no mês da Bíblia e refletindo, de maneira especial, sobre a  travessia do povo de Deus no deserto e o consequente encontro com Ele.  Falamos hoje da animação bíblica de toda pastoral e do retorno da  “lectio divina”, ou leitura orante da Bíblia, em nossas reuniões de  grupo e círculos bíblicos. Nesta semana a nossa Arquidiocese esteve  reunida por Vicariatos nas Assembleias dos Círculos Bíblicos. Também na  catequese tivemos um bom trabalho para que o aprofundamento da fé  tivesse como grande fonte a Palavra de Deus. A Iniciação Cristã nos  trouxe a figura dos “introdutores” para a primeira acolhida dos que  chegam às nossas comunidades e que devem ser pessoas que transmitam a  “palavra de Deus” pelo seu testemunho. Vivemos em tempos muito ricos e  que supõem de cada um a abertura para escutar o Senhor que nos fala.
Costuma-se dizer que a Bíblia é o principal livro da catequese, a  mais importante fonte do processo de evangelização. Isso é fácil de  entender, pois sabemos que a Bíblia é, para nós, Palavra de Deus. Se, na  catequese, o que se pretende é ajudar o catequizando a realizar o seu  encontro com Deus, fica clara a importância da Palavra de Deus por meio  da qual se realiza esse encontro. A catequese é, sem dúvida, centrada na  Palavra de Deus. O catequizando deve aprender a escutar a Bíblia e deve  ser incentivado a vivenciá-la. Por meio da Palavra, Deus se comunica  conosco e nós nos comunicamos com Ele.
É impossível compreender exatamente o que seja a catequese sem  compreender profundamente a Palavra de Deus. O Diretório Nacional de  Catequese nos fala que é preciso que a catequese seja alimentada e  dirigida pela Sagrada Escritura. É tão grande a força e virtude da  Palavra de Deus que fornece à Igreja a solidez da fé, o alimento da  alma, fonte pura e perene da vida espiritual. A própria Escritura  testemunha: A “Palavra de Deus é viva e eficaz” (Hb 4,11).
A Bíblia é, pois, o primeiro livro de catequese. Antes de a Bíblia  ser escrita, Israel encontrou-se com seu Deus e alimentou sua vida de fé  numa longa experiência comunitária de luta pela sua sobrevivência e  dignidade. Nessa experiência vai despontando o jeito catequético de  Deus, através do qual Israel foi aprendendo a ver Deus no centro de sua  história e da vida de cada um.
Por meio dessa longa experiência, podemos comparar a Bíblia com uma  antiga “máquina de costura”, que vai costurando a aliança de Deus com o  povo e do povo com Deus. O “carretel de linha” é o mistério do amor de  Deus que vai penetrando os orifícios de nossa vida. A “canelinha” somos  nós, que devemos corresponder à penetração da agulha de Deus em nossa  vida. O importante é “firmar o ponto” e não afrouxar a costura, senão  vamos “franzir” a nossa vida cristã. Através de nossa liberdade podemos  cortar a linha e quebrar a aliança com Deus. A catequese é, portanto, a  constante “costura” que fazemos com Deus. Não se faz roupa apenas em  alguns momentos da vida. Daí a importância da catequese e de sua  formação permanentes.
Depois de muito tempo, por inspiração de Deus, Israel vai pondo por  escrito aspectos marcantes dessa experiência vivida à luz da fé. A  vivência suscita os escritos. Na catequese de Deus os fatos precedem as  escritas. É a grande pedagogia da Bíblia. Os escritos que vão surgindo  mantêm viva e aprofundam a fé através de releituras posteriores  provocadas pelos fatos novos.
Assim, o Diretório Nacional de Catequese afirma: “O texto sagrado  nasceu em experiência comunitária: foi o processo que o próprio Deus  escolheu para se comunicar. É função do texto bíblico alicerçar e  vivificar a comunidade dos que creem, fazendo crescer a unidade da  Igreja, que não é uniformidade, mas deriva de um espírito básico de  comunhão… A Bíblia nasceu na e para a comunidade de fé. Ela será vista  em suas perspectivas mais importantes só quando relacionada com a  comunidade” (DNC 177-185).
Uma das características da Catequese renovada e ratificada no  Diretório Nacional de Catequese é a “Interação fé-vida”: O conteúdo da  catequese compreende dois elementos que se interagem: a experiência da  vida e a formulação da fé. A interação entre fé e vida é a tarefa  principal, a arte do catequista e seu constante desafio diante das  situações concretas (DNC 26). Esta interação não pode ser de palavra,  igual óleo no copo de água: só se mistura quando é remexido. Deve ser a  interação do óleo e da água na panela quente para cozinhar o arroz. Uma  vez misturados, não se separam mais. Toda a Palavra de Deus é esta  grande interação entre fé e vida.
A Bíblia nos traz valiosos testemunhos de mulheres e homens que  declararam o quanto tiveram consciência de que Deus é parceiro e está no  centro da caminhada. De tudo isto, a Bíblia é fruto e história. A  Sagrada Escritura é, ao mesmo tempo, testemunho oficial e orientação  autorizada do período fundador da nossa comunidade de fé. Por isso  mesmo, a Bíblia é livro catequético por excelência.
Na Bíblia não existem textos sem valor, banais, mesmo que às vezes se  tenha esta impressão. Eles têm seus valores, ainda que ocultos. Daí a  necessidade de boa formação bíblica para perceber qual catequese está  por trás de tais textos. Para isto é importante dar bastante atenção ao  texto. Evitar a ânsia de nos servirmos do mesmo texto para expor nossas  ideias, não prestando atenção ao que ele tem a nos dizer.
A pedagogia de Deus é a revelação progressiva através de palavras e  acontecimentos na caminhada do povo. Nada pronto de cima para baixo. Na  medida em que o povo caminhava, ia reavaliando suas reflexões e ações  numa linha progressiva. A pedagogia bíblica é a reflexão na caminhada.  Nada de receitas prontas. Na medida em que a comunidade caminha,  reavalia reflexões e soluções do passado, às vezes corrigindo-as. É o  caso, por exemplo, da responsabilidade pessoal.
A pedagogia bíblica nos ajuda a ver problemas e nos mostra que suas  soluções estão na comunidade de fé, onde aprendemos a traduzir em oração  e em catequese tudo o que acontece: alegria, dores, esperanças. Neste  sentido, é importante o uso de uma linguagem simbólico-cultural, que  situa catequista e catequizando em sua cultura.
Contudo, é preciso valorizar ainda mais a importância da Bíblia a  nível pessoal e comunitário, e promover uma catequese que seja fundada  na Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja, vivificando os programas  catequéticos e os próprios catecismos, a pregação e a piedade popular.  Em todas as catequeses integrais devem estar sempre presentes,  inseparavelmente unidos, o conhecimento da Palavra de Deus, a celebração  da fé nos sacramentos e a profissão da fé na vida quotidiana. Deste  modo, estaremos fazendo e vivendo uma catequese pautada na Palavra de  Deus e tendo a certeza de que estamos no caminho certo, e que nossa  catequese hoje possa responder aos anseios de nossos catequizandos.
Que em nossas comunidades, neste mês da Bíblia, seja valorizada a  leitura orante da Bíblia, e que todas as nossas paróquias, iluminadas  pela Palavra de Deus, se coloquem na escola da Palavra, que é alimento  diário para a nossa caminhada de fé neste mundo tão conturbado em que  vivemos, onde somente a Palavra de Deus nos ilumina a viver a santidade.

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