Estamos no IV Domingo da Páscoa. Este Domingo é
conhecido como Domingo do Bom Pastor. A cada ano são ressaltados neste domingo
aspectos diferentes acerca de Jesus Bom Pastor. Esta não é uma imagem
desconhecida ao povo das Sagradas Escrituras porque já no primeiro livro da
Bíblia encontramos um Pastor que por seu destino, demonstra o que será sempre o
futuro do verdadeiro pastor. Refiro-me a Abel, o justo. A carta aos hebreus traça um
paralelo entre Abel e Jesus, afirmando que o sangue de Jesus é mais eloquente
que o de Abel e faz deste uma profecia sobre o Supremo Pastor. A origem do povo
israelita evoca a figura do pastor, pois a Palestina é uma região árida e o
povo era nômade, isto é, não tinha fixação para sua permanência, vivia em
tendas perambulando pelo deserto, buscando sempre lugares para que seus
rebanhos de ovelhas pudessem se alimentar.
Também Abraão, o pai na fé exercia o oficio de pastor
quando foi escolhido por Iahweh (Gn 12,2). A partir daí Abraão se torna
um itinerante buscando a terra que Deus prometeu. Moisés é também um pastor de ovelhas
que é convertido em pastor do próprio povo conforme lemos em Ex 3. A
tradição dos Salmos traz uma imagem de Deus como Pastor que conduz: “O
Senhor é o meu pastor. Nada me falta. Em verdes pastagens me faz repousar; para
fontes tranquilas me conduz, e restaura minhas forças”. (Sl 22,1-2).
O Pastor Eterno que é Deus constitui pastores que
devem conduzir o povo: “Darei a vocês pastores de acordo com o meu coração,
e eles guiarão vocês com ciência e sensatez” (Jr 3,15). A possibilidade de conduzir o povo de Deus vem do próprio
Senhor o que aumenta a responsabilidade de quem tem a direção da vida das
pessoas. Embora esta autoridade venha do alto, o coração dos homens está
propenso a grandes desvios e o que se viu na história do Povo de Deus é que a
maioria dos reis de Israel não correspondeu à sua vocação e esses reis foram
maus pastores que caminharam e conduziram o povo de Iahweh por caminhos da
morte e da desgraça, provocando a dispersão do rebanho.
A partir deste momento, a imagem do pastor sofre
uma mudança de perspectiva e passa a ser envolvida pela desconfiança. Temos
então duas perspectivas acerca do Pastor: a primeira é que o Senhor Deus será o
Pastor “Eu mesmo conduzirei as minhas ovelhas para o pasto e as farei
repousar – oráculo do Senhor Iahweh.” (Ez 34,15). A
segunda, vindo dos homens, o pastor é apenas uma profissão. E na cultura
religiosa de Israel, uma profissão impura.
Feita esta contextualização podemos entender que
Jesus assume para si no capítulo 10 de João aquilo que é a expectativa de intervenção
divina na condução do seu Povo. Cabe a nós agora desenvolver na conduta de
Jesus a construção de sua imagem de Pastor. Vemos em Mt 9,36 que Jesus expressou que seu
jeito de ser pastor está versado na compaixão pois ele viu uma grande multidão
e se compadeceu dela porque estava cansada e abatida, como ovelhas sem
pastor. Também na parábola da ovelha
perdida (Lc 15,5), ao falar de um pastor que ao encontrar a ovelha se alegra.
Alegria e Compaixão são marcantes na vida do Pastor Jesus. E em João, o faz de forma mais direta:“Eu
sou o bom pastor: conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem”. (Jo
10,14).
Jesus é o Bom Pastor, não distante de suas ovelhas,
e sim conhecedor das mesmas por ser participante da vida de cada uma delas. Este jeito afável para com as ovelhas é a marca
pela qual as ovelhas o conhecem e se identificam de tal modo com ele a ponto de
não seguir a voz de um estranho. O título de Bom Pastor dado a si, é expressão
da bondade de Jesus. Ele é bom porque somente ele dá a vida pelas ovelhas. (Jo
10,11). Daqui percebemos COMPAIXÃO, ALEGRIA, BONDADE como fundamentos do ser Pastor.
E enfim, entramos no Evangelho específico deste Domingo:
“Disse Jesus: ‘As
minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu dou-lhes
a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha
mão. Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode
arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos um’”.
O principio de identidade das ovelhas com o pastor,
a garantia de se viver como ovelhas é a atenção à Palavra de Jesus que é o
verdadeiro alimento: a Palavra se fez carne e alimentou o mundo com sua carne,
estamos diante da relação entre Palavra e Eucaristia. Sem a atenção à Palavra
que aquece o coração não se torna possível reconhecer Jesus no Pão partilhado.
Mas, quem são as ovelhas que Jesus chama de as suas ovelhas? Com certeza estas
ovelhas não constituem um clube dos salvos como muitos desejam. Esta segregação
não cabe dentro dos liames da compaixão do Eterno Pastor: “porque eu não vim
para chamar os justos, e sim os pecadores”. (Mt 9,13). Os que já se acham
santos não verão a necessidade de salvação. Nem terão consciência da
necessidade de alguém que os conduza: “de fato, o Filho do Homem veio
procurar e salvar o que estava perdido.” (Lc 19,10); Este tipo de ovelhas
não serão capazes de reconhecer a voz do pastor porque são orgulhosas demais
para isso. Como um homem e uma mulher carregados pelo orgulho poderão reconhecer
que “sem mim vocês não podem fazer nada.” (Jo 15,5).
O desejo do Pastor Jesus é conduzir todas as
ovelhas, mesmo as que não estão em seu aprisco: “Tenho também outras
ovelhas, que não são desse curral. Também a elas eu devo conduzir; elas ouvirão
a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor.” (Jo 10,16). Muitas
vezes, as ovelhas não estão mais no redil de Cristo porque os muitos pastores
por ele designados não pastoreiam o povo a eles confiados, são pastores de si
mesmos! Não demonstram amor algum. E sobre o amor lembremos que no Domingo
passado, era esta a temática: “Tu me amas? [...] Apascenta minhas ovelhas.” Sem
o amor às ovelhas, não se pode falar de amor a Cristo. Além da COMPAIXÃO,
ALEGRIA, BONDADE, podemos ver a ORAÇÃO que une de modo inegociável o Pastor com
suas ovelhas. Percebemos isso no gesto de FRANCISCO, o Papa, ao pedir que o
Povo presente na Praça de São Pedro rezasse por ele. E nesta oração que é
fundamental, o Pastor Jesus pede que roguemos pelo futuro de nossos pastores: “Peçam ao dono da colheita que mande
trabalhadores para a colheita.” (Mt 9,37-38).
Na
certeza de que Cristo nos conduz, peçamos por todos aqueles que já foram
confirmados pelo Sacramento da Ordem e por todos os que estão a caminho para
que fiéis ao Senhor, tenham amor pela Igreja Povo Santo de Deus a caminho de
conversão, entre as angústias e esperanças de cada dia!
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