O Concílio Vaticano II, atento aos sinais dos
tempos, apresentou a visão da Igreja acerca da atuação dos leigos. Fala-se
desde então de um protagonismo dos leigos. No entanto, a distinção quase antagônica
entre o Povo e o Clero em determinados lugares e setores tem se tornado cada
vez mais acirrada.
Sendo de suma importância no anúncio do Reino de
Deus, o Povo de Deus tem direito a uma sólida e bem articulada formação teológica
em vista de uma empenhada ação pastoral. Essa formação não é em vista de um
arcabouço teórico sem via e sim em razão de uma nova ação do mundo que traz em
si sinais de vida e de morte diante dos quais os cristãos devem ter clareza de consciência
e coragem. Formar o Povo de Deus é dar a este povo a força para fortalecer e
renovar as interações sociais, dinamizar o anúncio do Evangelho, aconselhando,
acompanhando para que na verdade da fé alcance a maturidade no mundo. Estes objetivos devem ter como luz a pedagogia
bíblica que não consagrava o
academicismo, mas lidava com a definição e resolução de problemas pastorais em
seus aspectos doutrinários e práticos, de modo a produzir uma conduta digna de
Cristo. Isso pressupõe familiaridade com a Palavra de Deus, submissão a ela e
aptidão para expô-la de maneira contextual e relevante mediante o uso dos
recursos disponíveis.
É necessário afirmar que os recursos necessários
para a Formação do Povo de Deus são a Palavra de Deus, o Espírito de Deus e o
próprio povo de Deus capacitado pelo Espírito. Esse processo de formação é
entendido como intelectual por promover a compreensão da Palavra de Deus e à
luz da mesma compreender nossa realidade pastoral. É também espiritual, porque
se entende como fruto da ação do Espírito Santo de Deus que promove a mudança
de vida. E é ainda comunitária por ser expressão da identidade do Povo de Deus
que deve ser conduzido conscientemente evitando que ações individualizadas que podem
até surtir algum efeito, mas por ser individualizada não tem muito tempo de
duração.
Dificuldades, Necessidades, Limitações e Desafios
Quais são as dificuldades neste processo formativo?
1. O fato de estarmos em uma
crescente de informatização social, não quer dizer que estejamos em uma
sociedade informada. Pelo contrário, temos assistido uma confusão ideológica
que gera improvisação, marginalidade e luta desesperada pela sobrevivência.
2. O naufrágio de algumas utopias tem gerado um vazio existencial e consequentemente um conformismo social. Neste contexto, o discurso ideológico corre o risco de não ser capaz de contornar este vazio e perder suas referências.
3. Um profundo relativismo ético
que tem atingido a sociedade, encontra-se também dentro da Igreja. Este
relativismo tem atingido a identidade da Igreja de modo que vemos o risco de
uma redução a uma religião de marketing que aceita sem nenhuma crítica o que lhe
vem imposto do mundo, adequando-se a ele. Ou um Catolicismo Self Service no
qual cada paróquia vive sua própria Igreja.
4. Um sentimentalismo religioso tem domesticado a razão. Como consequência disto, a meditação teológico se tornou perda de tempo tanto para os candidatos ao sacerdócio quanto aos fiéis.
5. Um protestantismo católico no
qual padres tendem a tornar a Missa um tipo de culto evangélico, diferenciado
apenas pela presença da Eucaristia. Isto faz com o que o Povo desconsidere
qualquer iniciativa em vista de sua própria formação.
Muitos
outros desafios poderiam ser apontados, mas estes nos são já suficientes a
título de contextualização.
Objetivos:
Qualquer projeto formativo do Povo de Deus deve ter os seguintes objetivos:
(1) Promover
o amadurecimento da Fé que deve ser expressa na comunhão regular com Deus, expressa
na escuta e meditação da Palavra, na vivência comunitária, alimentada pelos
Sacramentos e demonstrada no serviço ao mundo, do qual o Cristão deve ser
evangelizador
(2) Alimentar
o reconhecimento da necessidade de uma vivência de fé em comunidade, alimentada
pelo perdão e pela experiência do amor de Deus.
(3) Ter
em vista a missão em um mundo muito necessitado de paz, de pão e de Deus.
Propostas:
Em vista de uma prática pastoral efetivamente
libertadora, capaz de tocar o coração das pessoas pela força do Evangelho de
nosso Senhor Jesus Cristo, a deve estar atenta para a formação dos seus agentes
e do Povo de Deus por inteiro. O fundamento desta formação é a própria Palavra
de Deus
1. Igreja que escuta a Palavra de Deus e a
anuncia
A acolhida da Revelação por meio das Escrituras, o anúncio da Palavra de
Deus, balizada pela sadia Tradição e a
sua interpretação feita pelo Magistério
da Igreja, constitui os pilares essenciais de fé da Igreja. A Palavra de Deus
deve estar presente na vida das comunidades alimentando a fé, a esperança e a
caridade, enchendo de luz a nossa vida e nosso cotidiano, conferindo sentido aos
sofrimentos, energia e inspiração para os desafios. À Palavra de Deus
corresponde o ministério da Palavra, como a Catequese, a formação bíblica de
maneira organizada, os grupos de catecumenato, a espiritualidade bíblica, etc.
É grande a preocupação da Igreja
Católica em favorecer o acesso dos seus fiéis à Palavra de Deus, não apenas fazendo
campanhas para que seus fiéis comprem a Sagrada Escritura, mas oferecendo algo
mais, uma leitura orante para que a vida seja lida à luz da Palavra de Deus.
Por isso, em seu Plano
de Ação Evangelizadora, a Arquidiocese da Paraíba decidiu dedicar este ano à
Palavra de Deus. Ressaltando o fato de que a preocupação acerca da Palavra não
é de apenas um ano, mas de sempre. Sete linhas de trabalho foram apresentadas
no que corresponde a uma vivência mais profunda e organizada da Palavra de
Deus.
1.1. Organizar a
Pastoral Bíblico Catequética;
Esta linha de trabalho visa formar
animadores e ministros para a catequese bíblica. Para alcançar este objetivo, a
Arquidiocese da Paraíba deseja criar Escolas Bíblico-Catequéticas em suas nove
regiões. Promovendo assim, estudos bíblicos, através dessas escolas, Círculos
Bíblicos, encontros e meios de comunicação. Urge para isto, a necessidade de
uma Coordenação a nível de Arquidiocese e o apoio ao Cebi.
A formação Bíblico – Catequética
também visa preparar em nossas paróquias as pessoas, de uma forma especial, os
catequistas para que tenham um melhor aporte para a Catequese sacramental. Para
isso, pensa-se a unificação dos roteiros catequéticos utilizados para o
Batismo, Crisma, Primeira Eucaristia e Perseverança. É comprovada pela história a força evangélica dos leigos na
Arquidiocese da Paraíba. Homens e mulheres que fazem de sua vida uma entrega ao
serviço do Evangelho nas diversas comunidades por meio das ações litúrgicas e
da catequese. A esta boa vontade e disponibilidade evangélicas destas pessoas
terminam por esbarrar nas poucas oportunidades de formação, nas dificuldades
relativas aos subsídios para catequese e despreparo para as funções litúrgicas.
É verdade também que algumas iniciativas louváveis já se encontram em nosso
meio como a Escola Ministerial, o curso de Teologia Pastoral, a Escola de Fé e
Política, o Catecumenato, os pequenos círculos da Palavra espalhados por nossas
regiões, mas é igualmente verdadeiro o fato de termos a necessidade de aumentar
o seu arco de atividades.
Desta
formação carente vem um grande desafio para a Arquidiocese da Paraíba, porque
devido à pouca formação ou informação, muitos de nossos irmãos e irmãs,
sobretudo os mais simples terminam por sucumbir diante das investidas daqueles
que utilizam a Sagrada Escritura não como instrumento de anúncio do Evangelho,
mas como um meio de criticar, confundir e condenar. É nosso dever como Igreja colocar a Bíblia na mão do povo. E esta
afirmação é muito mais densa do que iniciar campanhas para comprar Bíblias em
longa escala. Se não contentarmos com isto, deixaremos o nosso povo na mesma
situação do Eunuco apresentado nos Atos dos Apóstolos, que embora tivesse o
texto nas mãos não conseguia entender. Colocar a Bíblia na mão do povo deve ser
o primeiro passo para em seguida coloca-la nos seus corações, conduzindo o
nosso povo a uma vivência madura da fé em Cristo mediante os Sacramentos e o
dia a dia. Como então faremos isto? Este é o desafio e estas são as pistas de
ação:
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