Caríssimos
irmãos e irmãs, estamos no Segundo Domingo da Páscoa. Hoje somos convidados a
meditar sobre a Fé. E daqui surgirão inúmeros caminhos. Bento XVI, afirmava que
o Cristianismo é o encontro com uma pessoa, Jesus de Nazaré, não uma ideia, não
uma filosofia de vida. A medida do Cristianismo deve ser sempre a pessoa de
Jesus. Entretanto, onde faremos esta experiência com o Cristo? Talvez o termo
experiência devesse ser mesmo substituído por vivência, então, onde teremos
esta vivência da Fé Pascal? É justamente em vista desta pergunta que a liturgia
de hoje se expressa com toda sua consistência.
No senso
comum reside, quando se pensa em Tomé, a ideia de que ele não acreditava na
ressurreição, antes, teria duvidado e a advertência de Jesus serviu como correção
à sua falta de fé e desta maneira nós opomos Fé à dúvida. Neste sentido, para
esta visão do Senso comum, duvidar é o mesmo que não crer!
A
consequência disto é o fato de percebermos que pelos credos religiosos, o
sentido da fé não comportaria espaço para dúvidas e assim, Tomé seria o exemplo
do homem corrigido por Jesus, aquele que tem um tipo de fé: Se não vejo não
creio. Mas é no dia a dia que vemos muitas pessoas aplicarem este conceito de forma
ideológica e aqui teremos grandes problemas porque em nome da fé em Jesus não
se exigiria uma resposta a determinados desafios. Esta fé não seria Católica por privar a pessoa de um debate sobre sua própria realidade. Voltemos a Tomé,
chamado de Dídimo que quer dizer gêmeo. Jesus ressuscitou, apareceu para os discípulos
que, deslumbrados, entre alegria e medo, testemunharam o inacreditável, porém
Tomé não estava presente e, mesmo conhecendo bem seus amigos, disse que isto
seria impossível, que não daria nenhum crédito ao testemunho se não pudesse
constatar pessoalmente, de forma concreta que de fato, aquele personagem que
aparecera aos seus amigos, era Jesus de Nazaré. O texto sagrado fala deste
encontro da seguinte maneira:
Os outros
discípulos lhe disseram: "Vimos o Senhor!" Mas ele lhes disse:
"Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo
onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não crerei" (Jo 20,25ss)
Em outra
oportunidade de reunião, uma semana depois, Jesus se põe novamente entre os
seus discípulos e antes mesmo que Tomé possa se pronunciar é dele a iniciativa
e o convite para que toque nas feridas como demonstração de que não há nenhum
tipo de oposição entre o Jesus que eles viram morrer e sepultaram o que está
presente na comunidade como vivente no meio deles como a árvore do centro do
Jardim, a árvore da Vida! Aqui Tomé não exige mais provas e o Senhor diz que
ele não pode ser descrente deve ser fiel e a fidelidade consiste em crer sem
ter visto, ou seja, crer no testemunho da comunidade.
E com
esta afirmação entendemos por qual motivo na primeira leitura se fala dos
prodígios dos Apóstolos e na segunda se fala da presença de um como Filho de
Homem associado aos sete candelabros, ou seja, uma presença pela Palavra e a
pelos sacramentos. É a comunidade de Jesus um critério para que sua presença
sempre real chegue a nós. Não existe Cristianismo se este não se vincula com a
comunidade. Em meio a tudo isto, como entenderemos o questionamento de Tomé? Há
um aspecto positivo e que quase não se fala ao se apresentar esta cena do
encontro entre Tomé e Jesus no seio da comunidade. Tomé exigiu as marcas dos
pregos e no lado do Senhor como Constatação
de que o ressuscitado é o mesmo que foi pregado na cruz. Neste sentido, ele
nos dá um exemplo de conexão entre o antes e o depois de Jesus. Em palavras
simples: não há experiência do ressuscitado se este não for o mesmo
crucificado. É uma critica atualíssima aos mercadores do Sagrado que anunciam
um Jesus sem cruz e uma vida sem cruzes! Assim sendo, onde está o erro de Tomé?
O erro consiste em querer acreditar no que se pode comprovar.
Tomé
queria constatar concretamente a ressurreição, e Jesus lhe ensina que crer está
para além da ideia de constatar fatos. Provar a Ressurreição é suprimir a
Liberdade humana e onde a liberdade é suprimida nem existe fé e muito menos
vivência de Deus. A afirmação de Jesus é um convite para que se perceba a
Ressurreição como realidade que pode até ser examinada, pesquisada, no entanto,
se a Fé na Ressurreição depender de constatações para se firmar, então essa fé
não é Fé! Enquanto se faz exigência materiais para que a Fé exista, não se fez
ainda o encontro real com o Senhor ressuscitado. Entendemos assim que Tomé nos
ajuda a fugir de uma religiosidade meramente intimista e egoísta que pode não
passar de projeção do nosso ego.
E Jesus
exige um apego à Fé. Sem fé é impossível uma relação genuína com Deus. Tomé não
foi um incrédulo por que não acreditou na ressurreição, mas sim porque considerou
que a ressurreição e outros elementos espirituais para terem sua validade precisam
de comprovações físicas e materiais. Em outras palavras, Tomé entendia que só
poderia crer naquilo que ele pudesse provar. E Jesus o corrige dizendo que bem
aventurado é quem crer sem ter visto. Todavia, quem não vê, chegará a crer
como?
Esta
pergunta é respondida no final do Evangelho: “Muitos outros sinais miraculosos
realizou ainda Jesus, na presença dos seus discípulos, que não estão escritos
neste livro.
Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e, acreditando, terdes a vida nele.” Por meio da Palavra celebrada e vivida a partir da comunidade encontramos o fundamento e alimento para nossa Fé nesta presença do Senhor Ressuscitado. Esta presença converte o medo em coragem, a incredulidade em Fé. Distante da comunidade, Tomé não participa do encontro com o Ressuscitado e aqui teremos uma correção em um estilo de vida muito divulgado no qual se afirma a Fé em Jesus desvinculada do elemento comunitário, porque se o seu jeito de ser cristão não está vinculado com a comunidade de Jesus, não há vivência da Ressurreição! Pode até sem muito cheia de boa vontade, entretanto ainda não é uma Fé emancipada. Percebemos que um Cristianismo livre da comunidade é tão perigoso e egoísta quanto qualquer outra dinâmica egoísta da sociedade capitalista.
Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e, acreditando, terdes a vida nele.” Por meio da Palavra celebrada e vivida a partir da comunidade encontramos o fundamento e alimento para nossa Fé nesta presença do Senhor Ressuscitado. Esta presença converte o medo em coragem, a incredulidade em Fé. Distante da comunidade, Tomé não participa do encontro com o Ressuscitado e aqui teremos uma correção em um estilo de vida muito divulgado no qual se afirma a Fé em Jesus desvinculada do elemento comunitário, porque se o seu jeito de ser cristão não está vinculado com a comunidade de Jesus, não há vivência da Ressurreição! Pode até sem muito cheia de boa vontade, entretanto ainda não é uma Fé emancipada. Percebemos que um Cristianismo livre da comunidade é tão perigoso e egoísta quanto qualquer outra dinâmica egoísta da sociedade capitalista.
E
a Comunidade para ser de fato um sinal desta Ressurreição deve ser sinal de
Paz. Por três vezes o Ressuscitado falou de Paz. De reconciliação que é dom do
Espírito conferido pelo Ressuscitado. O fruto do Ressuscitado é o Espírito
Santo e é este mesmo Espírito que nos conceda a força do perdão. Este perdão
concedido a nós mesmos e a todos é um dos sinais da Ressurreição. Onde se vive
o perdão, ali está Jesus presente. Onde não há perdão, os corações permanecerão
fechados por medo.
Peçamos
a Ele que está no meio de nós, que sua presença nos sacramentos, na Palavra e
nos irmãos seja sempre fortalecida pela prática do perdão que nos mantêm na Paz
do Cristo de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
* Caso o comentário seja contrário a fé Católica, contrário a Tradição Católica será deletado.
Queria dizer que...
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.