“Ninguém
o despreze por ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na Palavra, no
procedimento, no Amor, na Fé e na Pureza” (1Tm 4,12).
Esta
passagem bíblica não é apenas uma motivação para a mini-assembleia do dia 29 passado. É
o tema que deveremos viver ao longo de todo este ano. A nossa Paróquia se
reuniu no último domingo para tratar do Ano dedicado aos jovens. Foi um encontro
bem producente e rico com a presença de grupos comunitários, conselhos e
jovens. São inúmeras as pessoas, grupos e instituições que trabalham com o
mundo jovem. Pelo que foi visto ontem, as comunidades possuem iniciativas sobre
o que precisa ser para que o jovem se sinta membro do corpo que e a Igreja. Foi
visto também que os nossos jovens transbordam de anseios e ao contrário do que
muitos poderiam pensar estão interessados em viver a riqueza de sua singular e
bela Fé.
A Igreja
é herdeira de um jovem e por si só isto já deveria abrir um campo de grande
revisão de caminhos não só na nossa Paróquia mas de maneira geral em todo corpo
da Igreja de Cristo muitas vezes displicente neste sentido. Além de herdeira de
um jovem é preciso retomar palavras da mesma assembleia na qual se ressaltou
que a Igreja é herdeira de um jovem que tomou decisões claras, atraiu para si a
ira de muitos mas não recuou jamais naquilo que o motivava.
Embora
todos reconheçam que se faz urgente tal olhar preferencial, parece bom dizer
aqui alguns tipos de interesses subjacentes no trabalho com os jovens, para que
possamos dizer, com qual intenção queremos estar com eles.
Existem pelo
menos 5 visões diferentes na forma como uma Igreja deseja se aproximar de um
jovem:
1. Um
primeiro modo podemos chamar de tipo Preventivo - se parte do princípio
de que a juventude está à beira do caos em um mundo totalmente hostil ou
se parte da ideia de que naturalmente o jovem é desatento quando o assunto é o
divino e mais propenso a se afastar de Deus. Daí toda uma preocupação de evitar
que os jovens "se percam". Nesta visão, a missão da Igreja é
"formar" jovens “sadios” para o bom funcionamento e estabilidade
social. Algumas imagens e discursos sobre os jovens recolhidas pelos prontos
jovens mostram essa perspectiva viva em várias de nossas comunidades.
2.
Um segundo modo pode ser chamado de Vigilância. Parte da ideia de que os
jovens devem ser controlados, com o medo de que sua força "agressiva e de
rebeldia" venha a atingir a integridade das instituições. A Igreja nesta
visão se vê com a tarefa de ajudar a controlar e neutralizar esta força. Em
nosso relatório sobre a visão que os jovens tem da Igreja um relato oriundo dos
membros do EJC mostram que infelizmente essa tem sido uma visão que se faz
presente em nossas comunidades.
3. Um
terceiro modo é do tipo Integrativo. Parte de que o atual modelo
cultural e eclesial é inquestionável e correto enquanto os jovens questionam
esses modelos. Daí o trabalho para que se integrem nos modelos vigentes de
Igreja e sociedade... A Igreja faz a função de canal de comunicação da
instituição com o jovem. Algumas falas recolhidas expressam já uma rejeição a
essa imagem quando se afirma que a “Igreja deve sair em busca e não ficar
esperando”.
4. Um
quarto modo é de tipo Utilitarista. Reconhece nos jovens a força de
transformação, por isso a utiliza para fins políticos, econômicos e
ideológicos. Como exemplo: algumas congregações trabalham com os jovens com a
intenção de que eles as salvem da crise e da falta de vocações.
5.
E, por último, o trabalho de Comunhão e Liberdade. Parte-se da ideia de
que os jovens são capazes de construir projetos. Trabalha-se COM o jovem e não
pelo jovem. O interesse está em acompanhar
e contribuir para sua autonomia e
participação na sociedade e na Igreja. A Igreja e o jovem são companheiros de
uma mesma caminhada. Esta visão é que nós utilizaremos para que este ano seja
verdadeiramente um ano no qual os jovens se sintam mais e mais identificados
com a Igreja ao mesmo tempo em que seja um ano do total rejuvenescimento da
nossa vida paroquial pela ação das nossas juventudes. João Paulo II, declarado
Santo pela Igreja dizia que “a Igreja será jovem quando os jovens forem Igreja”
no entanto, é bem verdadeiro o caminho inverso no qual poderemos afirmar que o
jovem será Igreja quando a Igreja for Jovem!
Cada vez mais percebemos que é preciso uma nova
visão sobre a juventude. Sobre as juventudes na verdade. Os jovens devem ser
vistos como aqueles que lutam por crescer e não somente
"instrumentos" de transformação da sociedade ou de construção da
Igreja. Eles já são Igreja, em suas buscas, orações e militâncias. Já são a
sociedade no mesmo sentido. Não são os adultos, que devem fazer atividades e
pensar coisas para os jovens. Por isso, foi dito que é urgente que os conselhos comunitários se revisitem e acolham
responsáveis pela articulação da juventude que sejam oriundos do núcleo jovem
da comunidade. (sobre isso retomaremos na próxima postagem).
A Igreja fala
do protagonismo dos leigos e especialmente dos jovens na Igreja. Daí se
fundamenta uma forma nova de lidar com a juventude. Se articula uma pastoral
"da juventude".
São os jovens que devem fazer sua pastoral, no
sentido que "o jovem seja evangelizador do jovem". Uma pastoral em
que eles sejam sujeitos ativos, com atividades de seu interesse: esporte,
oração, visita a asilos, hospitais, estudo do conteúdo de Fé da Igreja,
passeio, teatro etc.
Evidentemente que devem ser acompanhados e ter
processos de formação, de organização
para aprofundar o compromisso - e que verdadeiramente se leve em conta
estes processos de crescimento, respeitando os passos de cada jovem e de cada
grupo, pois em cada ação jovem temos uma rica compreensão de Fé, vida e Igreja,
para que não se suceda que, por imediatismo ou outras razões, sejam moldados
para repetir nossa linguagem e pensar com nossa cabeça. Os jovens podem e
querem ter pessoas que os ajudem, os orientem e os acompanhem com coerência e
unidade de critérios.
Por tudo isso, penso que para trabalhar com os
jovens, deve existir de nossa parte de acompanhantes, muito mais que
"carisma" ou "jeito especial" que justifica nossa presença
junto deles. Entendemos a Assessoria Juvenil como um ministério de serviço, de
formação e de compromisso com a juventude. É ter a consciência de sentir-se
chamado para este trabalho especial. Também uma opção pessoal de servir
no sentido de estar junto, de escutar, de tornar-se um educador a partir
"da" e "para" a vida do jovem.
Um parceiro do diálogo, um "educador
profeta", que Paulo Freire definiu assim: "O educador profeta é um
sujeito que conhece seu tempo, capaz de analisar o caos e de projetar a utopia". E
termino dizendo que esta realidade juvenil nova que temos à nossa frente, de
alguma forma, aponta para tempos de decisão, e por se tratar de um processo
irreversível, nos pede revisão de nossas práticas tradicionais de lidar com o
jovem.
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