Caríssimos irmãos e irmãs,
hoje celebramos o Terceiro Domingo da Páscoa. A vitória de Cristo sobre a
morte, Sua Ressurreição, é já a nossa vitória. Embora esta seja uma certeza
latente, em muitas ocasiões e batalhas da vida, nós nos sentimos abatidos e
fragilizados. Neste sentido é que se fundamenta o fato do Senhor Ressuscitado
aparecer aos seus discípulos. Todas as
aparições são direcionadas a pessoas que estão decepcionadas com a vida, enfraquecidas
pelos desafios da vida e desoladas frente ao que aconteceu a Jesus.
O Evangelho de João traz para
nós neste domingo um relato de aparição que é ao mesmo tempo, um relato de
reencontro vocacional. São sete os
discípulos que estão na margem do mar de Tiberíades. Este “mar” é o lugar da
vida que eles tinham antes de Jesus os chamar como se lê em Lc 5. É então um
confronto entre a vida que eles tinham com Jesus e a vida que tinham antes de
encontrá-lo. Eles estão ainda desolados e tristes porque ao que parece, a vida
que receberam a partir da convivência com Jesus era apenas uma ilusão. O
Evangelho fala de sete, mas só nomeia cinco: Simão Pedro, Tomé chamado Gêmeo,
Natanael de Caná da Galiléia, os filhos de Zebedeu e outros dois discípulos de
Jesus.
Tenhamos a ousadia de acrescentar
ao relato do Evangelho dados sobre os mesmos para entendermos um pouco melhor: Simão
Pedro, o mesmo que negou Jesus. Tomé
chamado Gêmeo, aquele que só acreditava vendo. Natanael de Caná da Galiléia, que
achava que de Nazaré não sairia nada que prestasse, os filhos de Zebedeu que
desejavam o lugar à direita e à esquerda. Sete é a totalidade mas os cinco citados
nos parece ser uma menção à mentalidade da Lei expressa no Pentateuco. São sete
porque João encerra assim um ciclo iniciado com os sete sinais: Jo 2, 1-11; Jo
4, 46-54; Jo 5, 1-18; No capítulo 6, João apresenta dois sinais: o 4º (a multiplicação dos pães) e o 5º (a
caminhada de Jesus sobre as águas; Jo 11 ( a
Ressurreição de Lázaro). Pelo que descrevemos sobre estes cinco discípulos,
entenderemos a necessidade de uma aparição do Senhor. Eles precisam ser
resgatados na Fé, reencontrar o caminho de Cristo.
A decepção está expressa
na frase dita por Pedro e seguida por todos os outros: “ ‘Eu vou pescar’. Eles
disseram: ‘Nós também vamos.’” Por trás da afirmação de Pedro se encontra o
desejo de regressar à vida de antes, a tentativa de buscar a segurança. Eles não
pescaram nada, e o Evangelho diz que foi à noite. É típico da tristeza durar a
noite, como diz o salmo, entretanto, a alegria logo vem ao amanhecer, daqui
entendemos o que segue: “Quando amanheceu,
Jesus estava na margem.” O Evangelho nos diz que os discípulos que não tinham
nada o que comer obedeceram à Palavra de Jesus e jogaram as redes. Este é o
cerne da vida cristã: OUVIR a voz de Cristo e fazer o que ele nos disser! Nesta
obediência e apenas nela, vive-se a Aliança e todo o esforço humano passa a ser
igualmente divino pois é abraçado pelo salvador que é Deus feito homem! Por isso,
eles nem conseguem trazer as redes para fora de tantos peixes que pescaram.
O que nos falamos até aqui
representa a primeira parte deste Evangelho que corresponde ao encontro de Jesus
ressuscitado com seus discípulos ainda desolados e envolvidos na tristeza da
noite. A chegada do Senhor e a ordem para pescar gera uma mudança de
perspectiva no grupo de Jesus. E isto encaminha o Evangelho para a segunda
parte. A dinâmica do Amor. Só no amor se reconhece Jesus: “o discípulo que
Jesus amava disse a Pedro: ‘É o Senhor’”. O amor trouxe o Senhor até nós, o
amor o fez se entregar por nós, o amor o fez ressurgir dos mortos! Só quem está
envolvido no Amor pode reconhecer a Deus presente na nossa história. O texto do
Evangelho, nesta segunda parte, demonstra todo o seu teor vocacional: “Simão
Pedro, ouvindo dizer que era o Senhor, vestiu a roupa, pois estava nu, e pulou
dentro d’água”. A nudez nos lembra Adão escondido de Deus porque pecou! O mergulho
nas águas nos lembra Jonas, o profeta que precisa ser resgato pelo próprio Deus
para assumir seu papel frente ao mundo. Mas, nos recorda o Batismo. Mergulhado
nas águas, Pedro recebe de volta a dignidade diante de seu Senhor! E nós a
dignidade de filhos e filhas perdida no pecado.
O homem convertido e renascido
pelas águas do Batismo é chamado para a Ceia do Senhor. Com ele nos encontramos
tudo partilhamos com ele. Antes de falarmos desta partilha representada pelo
número dos peixes pescados, vamos falar sobre a terceira parte do Evangelho.
Ela é aberta pela apresentação de que a Aparição cumpriu seu papel: “Essa foi a
terceira vez que Jesus, ressuscitado dos mortos, apareceu aos discípulos.” Com
esta expressão, o Evangelista mostrou que os discípulos já estão resgatados. O
Senhor demonstrou para eles o que significa pescar homens, como havia feito
menção em Lc 5. Esta parte, a terceira e última complementa o chamado, porque o
Cristianismo é primeiramente Encontro com Jesus e depois missão. Vejamos:
A dinâmica do amor que apareceu
como meio para se reconhecer Jesus agora é a questão em pauta na vida de Pedro:
“‘Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, você
me ama mais do que estes outros?’ Pedro respondeu: ‘Sim, Senhor, tu sabes que
eu te amo.’” Entremos na pergunta com atenção. Jesus pergunta se o amor de
Pedro é maior do que o dos outros discípulos. Embora no original Jesus de fato
pergunta sobre o AMOR, a resposta de Pedro é “Sim, Senhor, tu sabes que eu te
tenho AMIZADE”. Esta é a palavra mais fiel ao grego de origem do texto. É
interessante que Pedro fale assim porque durante toda a sua vida, ele esteve se
colocando acima e a frente dos outros, sendo inclusive repreendido por Jesus. Depois a pergunta mudou : “Jesus perguntou de
novo a Pedro: ‘Simão, filho de João, você me ama?’ Pedro respondeu: ‘Sim, Senhor,
tu sabes que eu te amo.’ A pergunta de Jesus não inclui mais os outros como
referência. É uma pergunta apenas sobre o Amor de Pedro e este reage dizendo
que é AMIGO de Jesus. Pela TERCEIRA vez Jesus perguntou: “‘Simão, filho de
João, você me ama?’ Então Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes
se ele o amava. Disse a Jesus: ‘Senhor, tu conheces tudo, e sabes que eu te
amo.’ Aqui o original mostra uma dinâmica interessante porque Jesus não perguntou
sobre o amor. A tradução melhor seria: “Você é meu amigo?” E daí vem a tristeza
de Pedro, primeiro por perceber que não tem condições de amar na mesma medida
de Jesus. Caiu em si e percebeu que não pode querer ter um amor no mesmo nível
do de Jesus. Segundo, ele fica triste porque Jesus perguntou três vezes e três
vezes ele negoou Jesus.
Da parte de Jesus, o texto
revela que a amizade para com Jesus é um sinal de grandeza porque ninguém tem
maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos. Em outras palavras, Pedro
só pode amar se for amigo de Jesus e é por isso que a última pergunta de Jesus
é sobre a amizade de Pedro. E por isso, Pedro deve demonstrar a entrega da vida
no cuidado com as ovelhas de Cristo. O serviço às ovelhas será critério de
pertença ou não a Cristo. E somente aí, a vida pode ser entregue a Cristo, não de
maneira abstrata e distante, numa vida que se dissolve em si mesma, pelo
contrário, numa vida que não pertence mais a si mesma e se entregou a outras
como fez o mestre de Nazaré! E é assim que o Evangelho se encerra:
“‘Eu garanto a você: quando você era mais
moço, você colocava o cinto e ia para onde queria. Quando você ficar mais
velho, estenderá as suas mãos, e outro colocará o cinto em você e o levará para
onde você não quer ir.’Jesus falou isso aludindo ao tipo de morte com que Pedro
iria glorificar a Deus. E Jesus acrescentou: ‘Siga-me’”.
Feito este caminho de
reconstrução de vida apresenta no grupo de Jesus, nós podemos mergulhar no
mistério dos peixes. Foram pegos 153 GRANDES peixes. Aqui começa um dado muito
significativo porque normalmente uma rede lançada traz peixes de todos os
tamanhos, os pequenos são devolvidos ao mar e os grandes ficam à disposição dos
pescadores. Neste caso, estamos diante da pesca perfeita, sem peixes pequenos.
Nada se fala sobre a conversa dos discípulos com Jesus na Ceia mas se destaca a
quantidade de peixes e isso mostra que não é por acaso. Tem um sentido próprio.
São Jerônimo afirmava que 153 eram os tipos de peixes existentes e catalogados
o que demonstra que a rede de Cristo pescará a totalidade da humanidade. Santo
Agostinho falava que 153 é uma menção ao número 17 ( se você pegar os números e
somar de 1 até 17 tem 153. 1+2+3+4... +17= 153) 7 dons do Espírito: totalidade
da ação de Deus. 10 mandamentos da Lei:
totalidade da ação dos homens. Então, 153 tendo por base o número 17,
pode expressar a comunhão entre a totalidade da ação de Deus e a dos homens, ou
seja, resgate da Aliança.
Entretanto, se pegarmos a
quantidade de dias do ano e dividirmos pelo número 7 (dias da semana) teremos
como resultado o número 52 (total de semanas do ano) caso nós peguemos o número
52 e dividirmos pelo 17, dará 3. E não por acaso, 3 é o ciclo litúrgico. A
Igreja celebra a sua vida em Cristo em três anos, mesma quantidade de tempo da
pregação de Jesus. Então. Admitiremos que o número 153 está em torno dos três
anos litúrgicos da Igreja e cada peixe é menção aos Evangelhos proclamados e
vivenciados todos os dias, tendo seu ápice nas celebrações dos domingos. A
totalidade de Deus e dos homens se encontra em cada Evangelho que ouvimos, ou
em cada peixe! E peixe em grego se diz ICHTHYS e com cada letra destas formamos palavras e as palavras formadas montam
a frase: Jesus Cristo Filho do Deus Salvador. Eis os segredo dos peixes
pescados: o Senhor Ressuscitado nos apresenta sua palavra e nela a totalidade
de sua vida, e em cada encontro com ele, recebemos JESUS CRISTO FILHO DO DEUS
SALVADOR!
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