quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Homilia para a Quarta feira de Cinzas



Queridos irmãos e irmãs, Graça e Paz, hoje e sempre da parte de nosso Senhor Jesus Cristo, Filho do Altíssimo e doador do Espírito Santo!
Iniciamos a Quaresma, nossa caminhada de quarenta dias que nos faz perceber que assim como o Senhor Jesus passou quarenta dias no deserto em profunda oração e jejum, estamos também a partir de agora em um retiro espiritual em vista da preparação para a celebração da Solene Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo que venceu as ciladas do inimigo de Deus e nos reconduziu aos braços do Pai Soberano!
Jesus no deserto, enfrentou o tentador e nós hoje em nossa caminhada que agora se inicia devemos mergulhar em um espírito de oração sincera que nos garantirá a vitória contra as ciladas do inimigo! Estamos em uma batalha pela paz do mundo, pelo Reinado de Deus em cada coração e pela redescoberta da dignidade de cada ser humano, independente de classe, sexualidade, credo, cor, opções políticas. Para que esta luta seja vencida por nós é preciso que ensinemos ao mundo o caminho que conduz à verdadeira amizade com Deus. O mundo precisa redescobrir a amizade com Deus. Em meio aos desafios e às tristezas, em meio às dores, ecoam para nós as palavras do Profeta Joel que escutamos na primeira leitura: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração com jejuns, com lágrimas, com gemidos. Estas palavras do profeta não diz que Deus deseja o nosso sofrimento, diz que em meio às dores e decepções do mundo, devemos reencontrar o porto seguro. O ponto de onde emerge em nós a força para enfrentar o caos de nosso mundo e de nossas vidas. Isto é justificado ainda no Antigo Testamento quando se diz:
"Por aquele tempo Ezequias ficou doente, à morte. O profeta Isaías, filho de Amoz, veio ter com ele, e lhe disse: Assim diz, o Senhor: Põe em ordem a tua casa porque morrerás, e não viverás. Então o rei virou o rosto para a parede, e orou ao Senhor, dizendo: Lembra-te agora, ó Senhor, te peço, de como tenho andado diante de ti com fidelidade e integridade de coração, e tenho feito o que era reto aos teus olhos. E Ezequias chorou muitíssimo. E sucedeu que, não havendo Isaías ainda saído do meio do pátio, veio a ele a palavra do Senhor, dizendo: Volta, e dize a Ezequias, príncipe do meu povo: Assim diz o Senhor Deus de teu pai Davi: Ouvi a tua oração, e vi as tuas lágrimas. Eis que eu te sararei; ao terceiro dia subirás à casa do Senhor. Acrescentarei aos teus dias quinze anos; e das mãos do rei da Assíria te livrarei, a ti e a esta cidade; e defenderei esta cidade por amor de mim, e por amor do meu servo Davi. Disse mais Isaías: Tomai uma pasta de figos e ponde-a sobre a úlcera; e ele sarará" (II Reis 20,1-7)
A amizade com Deus começa quando nos reconhecemos necessitados de sua infinita misericórdia. Quando reconhecemos que somos pó e que ao pó voltaremos! Por isso, as cinzas como testemunho de nossa fragilidade, como demonstração de nossa incapacidade de construirmos nossa felicidade longe de Deus. Assim sendo, reconhecendo nossa fragilidade, é necessária conversão. Conversão é uma mudança profunda em quatro aspectos: na forma de ver a Deus, na forma de ver a si mesmo, na forma de ver o outro e na forma de ver o mundo!
São Paulo nos alerta na segunda leitura que estamos no tempo favorável, Deus ofertou para nós seu Filho Único. Este é um convite feito por Deus que somente o ser humano que se encaminha diariamente a um processo de conversão poderá alcançar. Talvez não consigamos em um primeiro momento alcançar a profundidade da segunda leitura quando São Paulo nos diz que “Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus.
Se o Apóstolo tivesse dito que Deus fez ele ser pecador, estaríamos diante de uma visão mais amena do mistério, no entanto, o texto diz que Deus fez ele ser pecado! Aqui estamos diante do mais profundo amor de Deus que faz o Filho ser pecado! Tudo aquilo que nos afasta de Deus se torna presente nele, de modo que como afirma Santo Agostinho, desde que apareceu nesta terra, ele tem a morte a lhe habitar as entranhas! Cristo feito pecado é a mais ampla expressão do que Ele mesmo no Evangelho falou sobre a esmola. A esmola do Evangelho é uma expressão para falar de Solidariedade. Deus é caridoso com os homens e deseja que os homens sejam solidários entre si. Na palavra do Evangelho, é preciso dar a esmola sem fazer alarde aguardando apenas o que vem de Deus e não procurando o que vem dos homens. Cristo é a caridade do Pai expressa e entregue ao mundo que jazia no pecado!
No Evangelho desta quarta, vemos que alguns como hipócritas deixarão o mundo reconhecer suas atitudes generosas, estes, já foram pagos pelos homens. A glória entre os homens será sua recompensa, no entanto, o que agrada a Deus apenas, não se interessa pela voz dos homens. Por isso, retomamos que o Filho Eterno é o fundamento de toda generosidade e toda solidariedade porque ele se deixou fazer-se pecado por nós, deixou-se contar entre os malfeitores por nós e mais escandalizamente, tornou-se maldição para nos livrar da maldição que deveria recair sobre nós. Por isso, o caminho da verdade solidariedade é o reconhecimento de Jesus nos sofredores como afirma o mesmo Mt 25, 31-46. Esta primeira parte do Evangelho nos alerta para o perigo de ter nossas atividades engrandecidas pelos homens. Quando nossa pessoa passa a brilhar mais que nossas obras, quando os elogios se tornam unânimes precisamos rever nossos caminhos porque o caminho do Senhor é o caminho que leva à Ressurreição, mas que para isso, passa pela cruz! Não há conversão sem cruz, e o critério de nossa conversão é Cristo que se fez pecado, mesmo sem ter pecado para que nosso pecado fosse esmagado por ele no altar da Cruz! Esta solidariedade alicerçada na cruz do Senhor, semeia o perdão Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem. É fim dos preconceitos Eu era um prisioneiro e você foi me visitar! É desejo de Paz entre os homens Deus faz cair a chuva sobre os justos e os injustos!
Depois o senhor nos fala da Oração que é a segunda ferramenta em vista da superação do egoísmo. Se a solidariedade desapega a pessoa de si e a coloca no lugar dos sofredores como fez Cristo que se tornou pecado, a oração nos desenraiza de nós mesmos e nos faz dependentes de Deus. O homem e a mulher de oração, reconhecem que não podem nada sem Deus! Dependem dele! Jesus vem falar ao nosso coração sobre a oração. Este é um sinal de confiança e de fé que salva muitas pessoas. Quem não tem fé não consegue acreditar no poder de Deus e, assim, não consegue rezar. Devemos confiar no Senhor e perseverar na oração para alcançarmos nossos pedidos.
Deus nos atende, porque nos ama, não porque fizemos algo de bom. Quem de nós pode exigir algo do Senhor sendo os nossos méritos tão pequenos? Ele atende às nossas orações, porque somos filhos e, como todo pai, Ele nos ama. O próprio Deus nos mostra a importância da oração, pois todo aquele que pede, recebe.
Muitas pessoas deixam de receber uma graça não por causa dos pecados cometidos, mas pela falta de fé em Deus. Rezar é ter um encontro pessoal com Ele, essa é a primeira graça que recebemos quando nos colocamos em oração. A segunda, é a mudança em nosso coração. Antes de nos atender, o Senhor modifica nosso interior e nos torna pessoas melhores. A terceira graça é que, por meio da oração, sempre somos atendidos. O Pai sempre escuta nossas preces, mas se Ele não nos dá o que pedimos, é porque algo melhor e maior nos espera. Se for para o nosso bem e santificação, Ele nos atenderá.
No entanto, se pedirmos algo que resultará em males e entraves para nossa vida, o Senhor não o concederá a nós, porque nos ama e quer sempre nosso bem. Isso é um descanso para nós, pois, assim, sabemos que podemos pedir qualquer coisa, porque Deus se encarregará de filtrar o que é bom.
Muitos não sabem como orar, e na verdade rezam para serem reconhecidos pelos homens e isto faz deles hipócritas. Este tipo de oração que Jesus atribui ao hipócrita não se dirige a Deus, não ao Pai de Jesus e sim a outro deus, uma divindade falsa que na verdade é um ego da própria pessoa que reza! Muitos rezam cultuando a si mesmo e não a Deus. A oração aparece no meio do caminho proposto por Jesus porque se esta oração não gerar solidariedade com o mundo será sempre uma oração falsa. A vivência com Deus não deve nos afastar do mundo, pelo contrário deve nos enraizar mais ainda nele para que Cristo seja tudo em todos. Como alguém pode se considerar dado à oração se fecha os olhos aos sofrimentos deste mundo?
Por fim o senhor falou de Jejum. O jejum é um dos componentes que formam a santidade.  A prática do jejum é, também, uma forte demonstração de fé. O sacrifício pregado por Jesus é, também, uma mensagem de vitória, pois o jejum aviva, concede a sabedoria maior e em conjunto com os outros preceitos cristãos, concede o privilégio da expulsão dos demônios e dos males que esses provocam, conforme o próprio Jesus (Mt 17,21). Moisés jejuou por quarenta dias, antes de receber, no Monte Sinai, as sagradas Tábuas da Lei, diretamente do Deus de Abraão. Moisés preparou-se, espiritualmente, para aquele importantíssimo evento, porque iria encontrar-se com a manifestação do Altíssimo. Elias jejuou por quarenta dias, antes de subir ao monte Horeb, no qual o Senhor Deus manifestar-se-ia a ele (I Reis, 19,8). Jesus Cristo também jejuou durante quarenta dias, antes de iniciar a sua pública missão, pois sabia que enfrentaria muitas forças contrárias a ele. Por que o encontro daqueles profetas com Deus foi, necessariamente, precedido de uma fase de jejum?  Jesus adverte os seus apóstolos, ressaltando a importância da prática do Jejum, quando expulsou um demônio resistente que eles não conseguiram expulsar:

“Raça incrédula e perversa, até quando estarei convosco? Trazei-mo. Jesus ameaçou o demônio, e este saiu do menino possuído pelo demônio que ficou curado na mesma hora. Então, os discípulos lhe perguntaram em particular: “Por que não pudemos expulsar este demônio?“ Jesus respondeu-lhes: “Por causa da vossa falta de fé. Em verdade, em verdade vos digo: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta montanha: Transporta-te daqui para lá e ela irá e nada vos será impossível. Quanto a esta espécie de demônios, só se pode expulsar à força de jejum e oração”. Mt 17,20

O Senhor nos revela que o jejum é um esforço físico de renúncia da matéria para tornar viável uma melhor aproximação com ele. E como Deus multiplica o fruto do esforço daquele que se compromete inteiramente com ele, com o jejum acontece igual. Se você quer ser perfeito na prática da religião de Cristo, de tal forma que possa merecer a unção do Espírito Santo de Deus pelo qual virá o pleno avivamento espiritual, a sabedoria maior, além de viver os preceitos de Jesus, deve praticar o jejum. O jejum aproxima do Senhor num grau elevado e poderá conseguir bênçãos mais freqüentes do que os que não jejuam.  O jejum é o ato de enfraquecer para fortalecer. É o sacrifício corporal destinado a fortalecer o espírito. É muito mais fácil ao homem que jejua e ora vencer as tentações do que aquele que não jejua. Satanás não perde tempo com os fortes sabendo que ao fraco será muito mais fácil induzir ao pecado. Assim age desde a Criação. Então vamos perceber que o Jejum é uma prática que faz com que o ser humano se esvazie de si mesmo, em vista de uma oração mais ampla e de uma verdadeira solidariedade com o mundo sofrido. Outros caminhos além da renúncia a alimentos pode conduzir o ser humano a um verdadeiro jejum: o desapego a coisas que nos prendem e nos impedem de progredir, por exemplo: o tempo que perdemos na internet, o tempo perdido com a vida alheia, seria bom um jejum da internet, um jejum da vida alheia e este quem dera se tornasse definitivo! Porque essas coisas alimentam mentiras, difamação, calúnias, maldades, menosprezos. Para muitos é fácil abrir mão de uma refeição já abrir mão de programas de televisão, constitui um verdadeiro sacrifício, por isso, seria mais edificante!

Neste retiro quaresmal, peçamos ao Senhor que em nós se fortaleça o desapego às vantagens deste mundo por meio de um verdadeiro jejum, também uma oração sincera, fruto de um coração que desapegado de si se volta a Deus e uma solidariedade alicerçada na caridade do Pai que fez de Cristo Pecado para nos salvar!

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