A saída de Bento XVI é com certeza a temática mais debatida pelo mundo nos últimos dias por ser algo inesperado e distante de nosso contexto, já que embora seja prevista pelo Código de Direito Canônico, a última vez que aconteceu foi em 1415, quando Gregório XII abdicou do Pontificado. Uma atitude como esta tem sempre dois aspectos: o primeiro é de cunho administrativo, o segundo é de ordem espiritual uma vez que o Pontífice é o elo a unir a Igreja ao próprio Jesus! Pelo primeiro aspecto temos a garantia no Código, no entanto, no âmbito espiritual uma preocupação existe porque poderia gerar um amplo questionamento sobre a espiritualidade da própria Igreja. Pensei isso porque no meio de uma crise profunda, o fato de o principal nome dentro da Instituição deixar as atividades, poderia lançar a Igreja em um descrédito sem proporções, ainda mais profundo do que aquele que visualizamos.
A primeira coisa que podemos perceber é que estamos
diante de uma atitude que fortalece a tese presente em um seguimento da Igreja
que defende que o Papa deveria ter o mesmo tempo de serviço ministerial de um
Bispo, ou seja, seu pontificado estendido até os 75 anos, afinal de contas, o Papa é o bispo de Roma. Creio que Bento XVI, com sua escolha,
evita que a Igreja tenha que enfrentar situações similares às enfrentadas no final dos Pontificados de Pio XII e João Paulo II.
Aguardo ansioso que o próximo Papa seja de fora da Europa posto o fato de 52% dos católicos estarem nos países da América, África e Ásia.
Servirei com fidelidade na Igreja venha o Papa de onde vier, mas confesso o desejo
de um Papa oriundo daquilo que se convencionou chamar de terceiro
mundo. Tenho plena convicção de que seja quem for terá pela frente questões que
já há muito vemos enfrentando, coisas que ferem a consciência de qualquer
cristão como por exemplo, os abusos sexuais cometidos por membros do clero. A
busca de uma resposta acerca da saída de muitos católicos de nossa
Igreja, fruto de uma instabilidade dentro da estrutura do catolicismo e de uma desconfiança que se gerou em relação à própria Igreja, o fortalecimento da identidade católica por meio da liturgia, os debates com outros segmentos cristãos históricos, bem como o desafiador diálogo com o Islã, com o Judaísmo. Alguns afirmam a necessidade de modernizar a Igreja e outros dizem que modernizar não é necessário, essa não é a questão, a questão é encontrar o meio adequado de tornar a verdade cristã acessível ao homem moderno em um mundo que passa por constante mudança e que parece ter perdido referências. O acesso da Igreja ao homem moderno é considerado fundamental entre tantos, pelo Cardeal de Honduras. Os que resistem a este debate, com certeza desconhecem o papel da Igreja no mundo! A questão não é arrebanhar pessoas a todo o custo ou apresentar um discurso que agrade gregos e troianos, o desafio mesmo é tornar a mensagem de Jesus sempre atual e sempre latente em todas as realidades do mundo moderno, que parece ter se deixado cobrir pela bandeira do relativismo e pelas ditaduras das minorias.
Além de toda humildade e generosidade de Bento XVI para com a Igreja
se encontra uma visão de Igreja diferenciada pois sua renúncia nos coloca em um
contexto novo em relação ao que aconteceu em 2005 com a morte de João
Paulo II, porque em 2005, poderíamos visualizar dois grupos, um que se fortaleceu
em torno de Carlo Maria Martini, representante da ala progressista da Igreja e
um grupo que uniu em torno de Ratzinger. Acredito que desta vez se tenha mais
tempo para se pensar um Papa diante do futuro da Igreja no mundo, o que
constitui a questão mais urgente de nosso tempo. Precisamos redefinir nosso
lugar e nosso papel no mundo! Neste sentido o sempre atual Concílio Vaticano II nos mostra o caminho: a Igreja é Luz das Nações, participando das alegrias e angústias do mundo!
Olhando um pouco para este cenário, percebemos que
um dos nomes mais cotados é do africano Peter Turkson, de Gana. Bento XVI
nomeou o ganense para um dos cargos mais importantes do Vaticano, e ele passou
a ser enviado a diversos países como mediador de conflitos. Em 2010, chegou a
acompanhar o papa em viagens, o que aumentou as especulações sobre seu nome.
Além dele, é citado o cardeal sul-africano Wilfrid Napier, de Durban. O
engraçado é que em algumas casas de apostas de Londres, os bolões já começaram
e em duas das principais Turkson é favorito, seguido do Arcebispo de Milão,
Angelo Scola, que chegou a ser apresentado por Bento XVI como o seu nome
favorito. Scola é um forte candidato e manteria a linha de trabalho adotada por Bento XVI. As minhas orações são para Oscar Rodríguez Maradiaga, de Honduras. Um
homem de boa aceitação nos setores da Igreja, fã de Jazz e consta entre os amigos do vocalista do U2,
ele tem a simpatia das alas do Vaticano que desejam um Papa mais aberto a uma
agenda social. O que talvez o faça crescer nas expectativas é que embora seja
admirado por nomes da Teologia da Libertação como Leonardo Boff, Maradiaga, teve
algumas diferenças com Hugo Chavez, o que é realmente positivo aos olhos dos
que acham que todos na América Latina estão associados à política de
esquerda!
A lista segue com o canadense Marc Oullet e o
nigeriano Francis Arinze. Claudio Hummes também é citado, mas, outros
brasileiros teriam mais força, pois, embora tenha história, Claudio já tem 78
anos. Um dos nomes mais citados é o de João Braz de Aviz, de 65 anos. D.
Odilo Scherer também é considerado "papável", leve-se em conta que
Scherer é de uma linha de Igreja muito similar a de Bento XVI, no entanto, não acredito que
venha a ser um brasileiro.
Muito tem se falado sobre o novo papa vir da América
Latina isto não é à toa. A região tem hoje metade dos católicos do mundo e os
cardeais são vistos como alguns dos maiores defensores da Igreja. O
testemunho é de Gerhard Muller, chefe da Congregação para a Doutrina da
Fé."Conheço muitos bispos e cardeais latino-americanos que poderiam
assumir essa responsabilidade!"
De verdade, podemos afirmar que embora Bento XVI
não venha a interferir na escolha do próximo Papa, deveremos reconhecer que o
fato dele ter criado muitos dos cardeais durante o seu Papado e ter participado
da escolha de muitos outros no pontificado de João Paulo II, será algo
significativo neste conclave. O interessante nessas escolhas é que em muitas ocasiões quem chega a Roma aclamado como futuro Papa, pode voltar para sua terra como Cardeal. No adágio popular, chegou Papa, voltou Cardeal...
Nós nos colocamos em oração, pedindo ao Pastor do
Rebanho e Senhor da Messe escolha para si o que há de melhor! E assim sua Igreja continue caminhando na História dos homens como sinal profético de Esperança e de Paz!
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