Caríssimos irmãos e irmãs, neste que é o Segundo Domingo da Quaresma, somos convidados a atender ao chamado do Senhor. Somos chamados a mudar nossa forma de lidar com a nossa própria vida e com toda a sua realidade. O maior obstáculo para que possamos viver a comunhão com Deus é o nosso pecado. De um lado se encontra o Deus, todo poderoso e do outro, nós com nossos pecados. Para muitos esta barreira parece intransponível, todavia, a vivência com Deus mostra que APESAR de todos os nossos pecados, o Senhor continua nos querendo consigo. Este é o grande mistério do Amor de Deus: apesar de nenhum de nós termos méritos perante Deus, Ele se aproximou e se aproxima sempre de nós, chamando a cada um de nós e purificando nossa fé. A Primeira Leitura mostra o quanto o amor de Deus é superior ao nosso pois a exigência feita a Abraão, por mais radical que possa parecer não se conclui já que um anjo aparece e impede que Abraão realize o sacríficio. Deus exige dele, o Filho da Promessa (significado do nome Isaac), esta prova à qual a fé de Abraão é submetida aponta para o que São Paulo nos fala na Segunda Leitura. O Amor de Deus é tão grande que não poupou seu Filho, não se negou à entrega por amor. A primeira leitura unida à segunda leitura, nos mostra que a plenitude do Amor é a entrega a quem se ama. Assim Abrãao se entrega a Deus e não lhe nega o Único filho, Deus ama Abraão e devolve seu filho, Deus ama a humanidade e entrega seu Filho Jesus. Estamos no aspecto paterno da teologia da entrega.
A Transfiguração abre a segunda parte do Evangelho de São Marcos. A primeira parte (Mc 1, 1 – 8, 29) marca a metade de um caminho de tentativa de resposta para a pergunta sobre a identidade de Jesus e que encontra em Pedro uma primeira resposta consistente, “Tu és o Cristo!” (8, 29), embora não integral porque Jesus ordenou que não contassem a ninguém. Aquele que é entregue não é uma vítima sem consciência do que vai acontecer, ele tem plena clareza do que lhe vai acontecer e fala sobre seu ministério como um encontro com a morte para que a partir dela venha a vitória da Ressurreição, todavia, isto gera incompreensão e insatisfação por parte dos discípulos sobretudo de Pedro que é repreendido por Jesus (8, 31-33). Estamos assim diante do lado filial da teologia da entrega. A Transfiguração do Senhor é uma imagem que aponta a plenitude do Mistério de Cristo para que sejam reorientados os que não assimilaram a idéia da Cruz como meio de salvação e caminho próprio para a Ressurreição (8, 31 – 9, 1). Estamos diante de uma imagem que vem para alimentar nossa fé e fortalecer nossa esperança como diz São Paulo (Fl 3, 21).
As testemunhas da Transfiguração são Pedro, Tiago e João, que em Gl 2,9 são chamados de colunas da Igreja. Eles já foram testemunhas da ressurreição da filha de Jairo (Mc 5, 37) e o serão da agonia de Jesus no horto (Mt 26, 37), representariam assim, um núcleo da Igreja de Jesus. Comumente se chama o monte alto da transfiguração de Tabor, este monte está a 10 km a Leste de Nazaré. Isto é fruto de uma Tradição de Orígenes, todavia, como o texto fala de um alto monte, parece-nos mais viável que seja o Hermon que tem 2.759 m e está perto de Cesareia de Filipe, contexto do relato deste evento. Vale lembrar que a Transfiguração do Senhor não é uma visão subjetiva dos três e sim uma epifania (manifestação) pois foi o próprio Jesus que se mostrou a eles. Para Mateus (17, 2), o rosto de Jesus resplandece, clara associação de Jesus a Moisés, para Marcos, é a veste quem possui brilho o que por si só expressa a dimensão celestial da identidade de Jesus, recorrendo a textos do Antigo Testamento e que parece ser fortalecida no Novo Testamento (Dn 7, 9; At 1, 10; Ap 3, 4-5; 4, 4; 7, 9).
A Lei e os profetas convergem em Jesus e demontram que todas as expectativas do Antigo Testamento ganham agora realidade plena em Jesus, é ele o homem novo, não por acaso, o texto começa falando de Seis dias, sinal de que Cristo transfigurado é expressão de uma nova criação inaugurada em sua morte e ressurreição, alimento para nossa fé porque demonstra que não há nenhuma realidade de nossas vidas que estejam perdidas diante dos olhos de Deus. Nossos pecados não sao capazes de nos afastar de Deus. Não somos miseráveis perdidos de Deus, somos seus filhos e em seu amor, podemos ser restaurados, transfigurados. A presença de Deus em nossas vidas não pode nos afastar dos irmãos, nem dos sofrimentos do mundo no qual vivemos. Parece-nos que este era o desejo de Pedro ao propor a construção de três tendas. É a demonstração de que se quer que aquele momento perdura e não cesse jamais, mas veio então uma nuvem, esta nuvem é a tenda! (2 Sm 22, 12; Sl 18(17), 12), que cobre a Jesus (cf. Ex 13, 22; 19, 9; 24, 15-16; 33, 9; Lv 16, 2; Nm 9, 15-23; 11, 25). Esta chegada da nuvem abre caminho e aponta para plenitude do mistério Jesus. Sua plena manifestação nos revela o mistério da Trindade, o Pai nos fala sobre o Filho, O Filho é apresentado pelo Pai e o Espírito Santo é a nuvem que envolve Jesus, e somente no Espírito podemos reconhecer em Jesus o Filho amado. A Palavra do Pai nos mostra que OUVIR é a fundamentação de uma vida diferente em Cristo. A ordem dada pelo Pai confirma a profissão de fé de Pedro (Mc 8,29) ao mesmo tempo em que nos convida a reorientar nosso ouvir para que a Palavra de Deus tenha a soberania em nossas vidas, nosso coração seja renovado pela palavra de Jesus e nossas atitudes sejam modeladas pelo próprio Jesus.
Peçamos a Cristo que nosso coração guarde sua palavra, para que nossa vida seja transfigurada por sua força viva e libertadora.
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