Caríssimos irmãos e irmãs, este é o Terceiro Domingo da Quaresma e logo nos dois primeiros versículos da primeira leitura (Ex 20,1-17), percebemos qual é o grande desejo de Deus para a humanidade: "Então Deus pronunciou todas estas palavras: Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa da servidão." Nós não fomos criados para a escravidão, o Senhor Deus nos fez livres. Para modelar nossa liberdade, para dar consistência ao nosso ser, o Senhor nos entregou os Mandamentos. A Liberdade portanto, não é fruto da simples vontade de se fazer o que se quer. A nossa liberdade se encontra em função da liberdade do outro, de modo que somos co-responsáveis uns pelos outros e co-responsáveis pela nossa salvação e a salvação de nossos irmãos e irmãs, porque a salvação tem um aspecto pessoal, mas tem também um aspecto comunitário.
A nossa liberdade deve garantir nossa autonomia perante Deus, de forma que nossa religião não pode ser uma prisão. Para que servirá a religião? O papel da religião é religar as pessoas com Deus e emancipá-las! É fazer com que as pessoas se sintam em comunhão com Deus e com os irmãos. Não podemos aceitar que a religião se torne lugar de comércio, não podemos aceitar que as pessoas sejam acorrentadas pelo terror religioso. Não podemos aceitar que nossa oração seja uma tentativa de troca com Deus, como se Deus fosse um mercador. A oração não tem como finalidade mover Deus em nossa direção e sim mover o nosso ser em direção a ele!
Muitos procuram sinais, esquecendo que o sinal é Cristo e este crucificado como nos diz São Paulo na segunda leitura. A Crucificação do Senhor é o sinal que precisamos, o único capaz de sustentar nossa fé e a purificar. O Evangelho nos diz que era a Páscoa dos judeus, este é um detalhe interessante porque não é Páscoa de Jesus, porque neste momento, por tudo o que se tem feito, o Templo se tornou ponto de desencontro com a vontade de Deus. Estamos diante de um encontro entre um estilo de religião que comercializa a relação com Deus e outra que passa da liberdade de coração e pela soberania do corpo como lugar da manifestação de Deus. Jesus fez um chicote de cordas, sinal da enorme paciência de Deus para com a nossa vida de pecadores. Esta paciência de Deus garante que ele nos educará sempre, tendo uma paciência infinita. A expulsão dos vendedores é a demonstração da falência da antiga religião, a fraqueza de uma religião que se perdeu e colocou o comércio acima da espiritualidade. Antes de ser uma demonstração de ira, é demonstração do zelo de Jesus pela casa de seu pai. O Templo, onde quer que ele esteja, é um lugar do encontro com Deus e não de comércio. O sinal do Cristo crucificado é uma garantia contra os mercadores do sagrado que se aproveitam da fraqueza das pessoas e as aprisiona a partir das fraquezas e da dor, sob a promessa de um triunfo que nunca virá, ou sob a promessa de prosperidade que transforma a religião em adoradora do dinheiro e não do Deus verdadeiro e assim, em vez de libertar, joga os fiéis na servidão!
"Quarenta e seis anos foram precisos para erguer este Templo e você o reerguerá em três dias?" O Templo foi construído por todo o Antigo Testamento, todos os quarenta e seis livros, toda a Tradição de Moisés e dos Profetas construiu o Templo e o estabilizou como lugar do Sagrado, todavia, de nada adiantará este Templo construído por mãos humanas se o nosso próprio corpo não for também um Templo, pois assim como Cristo é um Templo presente na história e acessível a todos, ressuscitados com Ele também somos Templo onde habita o Espírito Santo de Deus e assim com Cristo e apesar de nossos muitos pecados, podemos ser membros de comunidades vivas para dar testemunho do amor e da fraternidade, em uma sociedade na qual é cultivado o ideal do sucesso individual e da ascensão ao poder, na qual se vive uma ferrenha oposição à Palavra de Deus.
Peçamos a Cristo que purifique nossos corações pela sua Palavra e assim possamos vencer nosso apego aos nossos pecados e aos pecados de nossos irmãos e irmãs em vista de uma vida nova de busca da Paz e da Justiça!
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