A Igreja faz dos Salmos as entranhas da liturgia e do ofício divino, e, assim, a linha sálmica sempre foi considerada fundamento da oração cristã, consciência que se desenvolveu mais ainda com a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II. Nos salmos se encontram todas as vicissitudes da vida, desde os brados de angústia, de aflição, de fracassos e de prantos, até os felizes hinos de glória, de exultação, de vitória, de reconhecimento, como também de admiração e de contemplação das maravilhas de Deus.
1. SENTIDO CRISTOLÓGICO DOS SALMOS
A liturgia, em sentido orante e pedagógico, tendo como centro o Mistério Pascal de Cristo, emprega o salmo, sempre, em dimensão cristológica. Vê-se, pois, que os Salmos trazem um teor profético e messiânico, na direção de Cristo e que gravita em torno dele.
O fundo cristológico dos salmos segue uma dupla direção. A mais frequente é a chamada cristologização de "baixo para cima", ou ascendente, ou seja, na voz do autor sálmico, percebe-se a voz de Cristo dirigida ao Pai. No homem perseguido, caluniado e aflito, a liturgia como que ouve o Cristo padecente, o Servo de Javé, em sua situação de humilhação e de despojamento. É o caso, por exemplo, do salmo 21(22).
Já a outra linha segue uma direção descendente. É a cristologização de "cima para baixo". Cristo já não é, aqui, considerado embaixo, na condição de servo, mas em cima, em sua glorificação. A voz então que se ouve no salmo é a da Igreja, ou do fiel, que se dirige a Cristo. Cristo é, então, não sujeito, mas destinatário, objeto do salmo. Santo Agostinho, unindo as duas perspectivas, diz: "Psalmus vox totius Christi capitis et corporis", isto é, o salmo é a voz do Cristo Total, Cabeça e Corpo.
2. OS SALMOS NA LITURGIA
O salmo, na missa, faz parte integrante da liturgia
da palavra, não podendo por isso ser omitido. É prolongamento da palavra
bíblica, em sentido lírico-meditativo, tendo portanto o mesmo valor da palavra
de Deus. É também canto de repouso e de meditação. No exercício de seu
ministério, o salmista deve, pois, cultivar a espiritualidade sálmica,
revelando familiaridade com a dimensão orante do salmo e como que encontrando
nele a sua própria voz e seu próprio sentimento.
Na liturgia, o salmo tem os nomes de "Responsorial",
de "Salmo", simplesmente, e também de "Cântico Bíblico".
Este último, não sálmico, como é o caso do cântico de Moisés (Ex 15) e do
cântico de Isaías (Is 12), usados na Vigília Pascal do Sábado Santo, como
exemplo. Mas há ainda outros cânticos bíblicos, não sálmicos, e que na liturgia
entram também como textos de salmodia.
SALMODIA - MANEIRAS DE CANTAR, RECITAR OU REZAR OS SALMOS
Nas diversas maneiras de salmodiar, leve-se em conta, sempre, o caráter musical dos salmos. Estes, como ensina a Instrução da Liturgia das Horas, "não são leituras nem orações compostas em prosa; são poemas de louvor" (IGLH 103).
Diversas, pois, são as maneiras de salmodiar: a forma direta, a responsorial, a antifonal, a coral e a interiorizada.
a) Forma direta: É aquela em que não se intercala antífona.
b) Responsorial: Esta forma é de origem judaica, com a resposta da assembléia, como se usa sempre na missa. O salmista canta ou recita, no início, a antífona, com a qual o povo responde, na mesma tonalidade. Depois, o salmista prossegue cantando ou recitando as estrofes, intercaladas com a antífona, aqui repetida somente pela assembléia.
c) Antifonal ou alternada: Já esta forma é de origem monástica. Consiste na inserção, entre as estrofes, de uma antífona, em dois coros.
d) Coral: Consiste esta modalidade em cantar ou recitar o salmo, alternadamente, pelo coro, em duas partes: uma de pé, e outra assentada, alternando-se também a postura corporal.
e) Interiorizada: Esta maneira de salmodiar é um costume antigo. Favorece a dimensão contemplativa do salmo. Durante a execução da salmodia, costuma-se ficar assentados, e, depois do salmo, todos se ajoelham, ou prostram-se por terra, invocando cada um dos participantes por si mesmo a misericórdia divina, no mais profundo silêncio.
Prevaleceu nas Celebrações a forma responsorial. Nas
diversas formas indicadas - diga-se - é preciso atender ao gênero literário do
salmo, ou seja, suas qualidades literárias e históricas, como também sua
musicalidade. Na liturgia, propõe-se que o salmo seja sempre cantado. Na
impossibilidade do canto, seja então recitado, dada a sua qualidade poética, e
não simplesmente lido, como tantas vezes acontece. As antífonas e os títulos
servem para favorecer a tonalidade peculiar e a hermenêutica tipológica e
festiva dos salmos.
Vale ressaltar que o Salmista deve evitar coisas
esdruxulas como fazer gestos para a Assembléia e pior ainda, gesto de
reprovação caso a Assembléia não o acompanhe.
A pergunta é: por que a Assembléia não canta? Uma das respostas é porque
a melodia utilizada não fica clara, dado que muitos salmistas assumiram uma
postura de fazer do Salmo uma mera apresentação de seus dons musicais. Melodias
simples e fáceis de cantar tornam o Salmo mais participativo.
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