1)
A LITURGIA NO RITMO DOS TEMPOS
O Ano Litúrgico
não apenas recorda as ações de Jesus Cristo, nem somente renova a lembrança de
ações passadas, mas sua celebração tem força sacramental e especial eficácia
para alimentar a vida cristã. Por isso, o Ano Litúrgico é sacramento (sinal
visível da graça de Deus que é invisível) e, assim, torna-se um caminho
pedagógico-espiritual nos ritmos do tempo.
Como a vida, a
liturgia segue um ritmo que garante a repetição, característica da ação
memorial. Repetindo, a Igreja guarda a sua identidade. Para fazer memória do
mistério, a liturgia se utiliza três ritmos diferentes:
o ritmo
diário, alternando manhã e tarde, dia e noite, luz e trevas;
o ritmo
semanal, alternando trabalho e descanso, ação e celebração;
o ritmo anual,
alternando o ciclo das estações e a sucessão dos anos.
1.1.O
ritmo diário
Acompanhando o
caminho do sol, que é símbolo de Cristo, o povo de Deus faz memória de Jesus
Cristo, nas horas do dia, pela celebração do Ofício Divino. Dai o nome
"Liturgia das Horas".
De tarde, o sol
poente evoca o mistério da morte, na esperança da ressurreição. De manhã, o sol
nascente evoca o mistério da ressurreição, novo dia para a humanidade. De
noite, nas vigílias, principalmente na de sábado à noite, que inicia o Domingo,
dia da ressurreição, celebramos, em espera vigilante, o mistério da volta do
Senhor. Em algum outro momento do dia ou da noite, rezamos o "Oficio das
Leituras". E, em qualquer hora do dia, celebramos a Eucaristia, que abrange
a totalidade do tempo. Com hinos, salmos e cânticos bíblicos, com leituras
próprias, com preces de louvor e de súplica, celebramos o mistério pascal do
Cristo. Como toda a liturgia, o Ofício
acompanha o Ano Litúrgico. Expressa nosso caminhar pascal do nascimento à morte
e ressurreição, do advento à segunda vinda gloriosa de Cristo.
Como oração do
povo de Deus, verdadeira ação litúrgica, o Ofício Divino é excelente escola e
referência fundamental para nossa oração individual. Os ministros ordenados e
religiosos assumem publicamente o compromisso de celebrarem a Liturgia das
Horas nas principais horas do dia. Os fiéis leigos também são convidados a
celebrá-la, individual ou comunitariamente. Podem fazê-lo seguindo o roteiro
simples e adaptado, proposto pelo Oficio Divino das Comunidades, que conserva a
teologia e a estrutura da Liturgia das Horas.
Incentivem-se
também outras formas de oração comunitária da Igreja, por exemplo, Ofícios
Breves adaptados, Celebrações da Palavra de Deus, Horas Santas. Ladainhas,
Ângelus, Via-Sacra e Rosário comunitário.
1.2.O
ritmo semanal
O ritmo semanal
é marcado pelo Domingo, dia em que o Senhor se manifestou ressuscitado. A
história do Domingo nasce na cruz e na ressurreição de Jesus. No primeiro dia
da semana, quando as mulheres foram para embalsamar seu corpo, já não o
encontraram mais. No Domingo, Jesus
apareceu vivo a vários dos discípulos sozinhos ou reunidos; comeu e bebeu com
eles e falou-lhes do Reino de Deus e da missão que tinham que levar adiante. O dia de Pentecostes, vinda do Espírito Santo,
também aconteceu no Domingo.
Origem
apostólica do Domingo
O Concílio
Vaticano II atribui a origem do Domingo a uma tradição apostólica (cf. SC 106),
ou seja, da época dos apóstolos.
Testemunhos
bíblicos:
1Cor 16, 2; At
20, 7-12; At 2, 42-46; Ap 1, 9-10;
Testemunhos
não bíblicos
(3 primeiros séculos):
“Reuni-vos em
cada dia dominical do Senhor, parti o pão e daí graças” (Didaché)
“Se os que
haviam sido criados na antiga ordem das coisas vieram à novidade da esperança,
já não guardando o sábado, mas vivendo segundo o Domingo (kyriakên) dia
em que também amanheceu nossa vida pela graça do Senhor e mérito de sua paixão
[...]” (Santo Inácio de Antioquia)
“No dia em que
se chama do Sol se celebra uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos
campos [...]. E celebramos essa reunião geral no dia do Sol, por ser o primeiro
dia, em que Deus transformando as trevas em matéria, fez o mundo, o dia também
em que Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dentre os mortos” (São Justino
– séc. II).
“Afirmavam os
cristãos que toda sua falta e todo seu erro consistiam em se reunir
habitualmente num dia fixo, antes da aurora, para cantar alternativamente um
hino a Cristo, como a um deus [...]. Reconheciam também o [...] encontrar-se
para tomar todos juntos uma refeição, ordinária e inofensiva” (Carta do
governador Plínio ao imperador Trajano, 112).
Originalidade
cristã do Domingo
A causa imediata
da instituição dominical se encontra nas aparições do Senhor, que comunica aos
seus discípulos o dom do Espírito Santo e os faz ver que ressuscitou (cf. Jo 20, 19-29; Lc 24, 36-45; At 1, 2-3).
Portanto, na
origem do Domingo não está somente o acontecimento da Ressurreição, mas também
a experiência singular das testemunhas que Deus designou nas manifestações que
vieram depois.
Os
nomes do Domingo
Relacionado com Cristo
Primeiro
dia da semana, Dia Senhorial (dia do Senhor), Senhor dos dias, Dia do Sol, Oitavo
Dia
-
Dia
da assembleia, Dia da Palavra de Deus, Dia da Eucaristia
Relacionado com o homem
-
Festa
dos cristãos, Dia de alegria e de libertação,
A celebração do Domingo
“O Domingo
possui valores decisivos para a fé e para a vida da Igreja, que devem
realizar-se no contexto dos desafios novos da cultura e da sociedade de hoje. O
aspecto mais urgente na pastoral do Domingo é, sem dúvida, o da catequese do
que significa o dia do Senhor”. No centro da pastoral do Domingo deve estar a
assembleia eucarística. Uma celebração da eucaristia verdadeiramente festiva,
digna e significativa confere ao dia do Senhor sua alma e sua nota mais
relevante. A pastoral do Domingo deverá evitar a dispersão da comunidade dos
fiéis e promover o sentido eclesial e comunitário.
Quando falta o
sacerdote ou outra circunstância grave impede a participação na celebração
eucarística, a Igreja recomenda aos fiéis que tomem parte na Liturgia da
Palavra, quando esta é celebrada, ou que se dediquem à oração durante um tempo
conveniente. A celebração do Domingo não se reduz à Eucaristia. O dia do Senhor
é também santificado pela Liturgia das Horas (cf. SC 100) e por outros atos
litúrgicos, como a celebração dos sacramentos e sacramentais. O Domingo é tempo
apto para a adoração eucarística, para a leitura e meditação da Palavra de
Deus, e para a prática de atos de piedade. A celebração do dia do Senhor exige também que
o cristão seja consciente de que ressuscitou com Cristo (cf. Cl 3,1) e de que
recebeu o dom do Espírito Santo (cf. Rm 8, 15; 5,5).
O Domingo convida a
configurar a própria existência segundo o Mistério Pascal, rejeitando as
‘obras do pecado’ (cf. Jo 8,34; Rm 13,12) e dedicando-se às ‘obras da luz’ (cf.
Mt 5, 16; 1 Pd 2,12). A caridade
fraterna e a solidariedade com os necessitados sempre foram um dos sinais mais
significativos da participação profunda na comunhão com do Espírito que brota
da Eucaristia (cf. At 2,42-47; 4, 32-37). (LÓPEZ MARTIN, JULIÁN. A liturgia da
Igreja. p. 338-339)
1.3.O
ritmo anual
O Ano Litúrgico compreende dois ciclos
fortes: o Ciclo Pascal, tendo como centro o Tríduo Pascal, a Quaresma como
preparação e o Tempo Pascal como prolongamento e o Ciclo do Natal, com sua
preparação no Advento e o seu prolongamento até a festa do Batismo do Senhor.
Além destes dois, temos o Tempo Comum.
Começa na 5ª feira à noite com a Missa
da Ceia (depois do pôr do sol) até à tarde do Domingo da Páscoa da ressurreição
com as Vésperas. É o ápice do Ano Litúrgico porque celebra a Morte e a
Ressurreição do Senhor. "quando
Cristo realizou a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus
pelo seu mistério pascal, quando morrendo destruiu a nossa morte e
ressuscitando renovou a vida".
Tempo Pascal
Os 50 dias entre o Domingo da
Ressurreição e o Domingo de Pentecostes, é o tempo da alegria e da exultação,
um só dia de festa, "um grande Domingo”. São dias de Páscoa e não após a
Páscoa. "Os oito primeiros dias do tempo pascal formam a oitava da Páscoa
e são celebrados como solenidades do Senhor". A festa da Ascensão é
celebrada no Brasil no 7° Domingo da
Páscoa. A semana seguinte, até Pentecostes, caracteriza-se pela preparação à
celebração da vinda do Espírito Santo. Em sintonia com as outras Igrejas
cristãs, no Brasil, realizamos nesta semana a "Semana de Oração pela
Unidade dos Cristãos". Recomendam-se para esta ocasião orações durante a
missa, sobretudo, na oração dos fiéis, e oportunamente a celebração da missa
votiva pela unidade da Igreja.
Tempo da Quaresma
Da 4ª feira de Cinzas até a Missa da
Ceia do Senhor, exclusive. É o tempo para preparar a celebração da Páscoa. “Tanto na liturgia quanto na catequese
litúrgica esclareça-se melhor a dupla índole do tempo quaresmal que,
principalmente pela lembrança ou preparação do Batismo e pela penitência, fazendo
os fiéis ouvirem com mais frequência a palavra de Deus e entregarem-se à
oração, os dispõe à celebração do mistério pascal".
Tempo do Natal
Das primeiras vésperas do Natal do
Senhor até a festa do Batismo do Senhor. É a comemoração do nascimento do
Senhor, em que celebramos a "troca de dons entre o céu e a terra",
pedindo que possamos "participar da divindade daquele que uniu ao Pai a
nossa humanidade''. Na Epifania, celebramos a manifestação de Jesus Cristo,
Filho de Deus, "luz para iluminar todos os povos no caminho da salvação''.
Tempo do Advento
Das primeiras vésperas do Domingo que
cai no dia 30 de novembro ou no Domingo que lhe fica mais próximo, até antes
das primeiras vésperas do Natal do Senhor. "O tempo do Advento possui
dupla característica: (1) sendo um tempo
de preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a primeira vinda
do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por meio desta
lembrança, voltam-se os corações para a (2) expectativa da segunda vinda do
Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o tempo do Advento se
apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa".
Tempo Comum
Começa no dia seguinte
à celebração da festa do Batismo do Senhor e se estende até a terça- feira
antes da Quaresma, inclusive. Recomeça na segunda feira depois do Domingo de
Pentecostes e termina antes das Primeiras Vésperas do 1° Domingo do Advento. A
tônica dos 33 (ou 34) Domingos é dada pela leitura contínua do Evangelho. Cada
texto do Evangelho proclamado nos coloca no seguimento de Jesus Cristo. Desde o
chamamento dos discípulos até os ensinamentos a respeito dos fins dos tempos.
Neste tempo, temos também as festas do Senhor e a comemoração das testemunhas
do mistério pascal (Maria, Apóstolos e Evangelistas, demais Santos e Santas).
2.
SOLENIDADES,
FESTAS E MEMÓRIAS
2.1.
As solenidades
"As
solenidades são constituídas pelos dias mais importantes, cuja celebração
começa no dia precedente com as Primeiras Vésperas. Algumas solenidades são
também enriquecidas com uma Missa própria para a Vigília, que deve ser usada na
véspera quando houver Missa vespertina". Estas celebrações tem orações,
leituras e cantos próprios ou retirados do Comum.
2.2.
As festas
"As festas
celebram-se nos limites do dia natural por isso, não têm Primeiras Vésperas, a
não ser que se trate de festas do Senhor que ocorrem nos Domingos do Tempo
Comum e do Tempo do Natal, cujo Ofício substituem". Na Missa, as orações,
leituras e cantos são próprios ou do Comum.
2.3.
As memórias
A memória é uma
recordação de um ou vários santos ou santas em dia de semana. Sua celebração se
harmoniza com a celebração do dia de semana ocorrente, segundo as normas
expostas na Instrução Geral sobre o Missal Romano e a Liturgia das Horas. As
memórias são obrigatórias ou facultativas. A única diferença entre os dois
tipos de memória é que as memórias obrigatórias (como seu nome sugere) devem
necessariamente ser celebradas e as memórias facultativas podem ser celebradas
ou omitidas, segundo se considere oportuno. Quanto ao modo de celebrá-las,
procede-se da mesma maneira em ambos os casos.
2.4.
Comemorações
As memórias
obrigatórias, que ocorrem nos dias de semana da Quaresma e nos dias 17 a 24 de
dezembro, podem ser celebradas como memórias facultativas. Neste caso são
chamadas simplesmente de comemoração. A celebração de todos os fiéis defuntos,
por não ter caráter de solenidade, festa ou memória propriamente ditas, é
chamada pela Igreja de Comemoração. Trata-se de uma Comemoração muito especial,
celebrada mesmo quando ocorre em Domingo.
3.
INDICAÇÕES
PARTICULARES
3.1. Os
Lecionários
As leituras indicadas nos Lecionários foram
dispostas da seguinte maneira:
-
para os Domingos e algumas festas temos
um ciclo de três anos (está no Lecionário Dominical):
A - Mateus; B - Marcos; C - Lucas.
O
evangelho de João é proclamado em algumas solenidades e também durante alguns
Domingos do ano B.
- Para os dias de semana o Evangelho tem um
ciclo anual e as leituras um ciclo bienal um para os anos pares e outro para os
anos ímpares (está no Lecionário Semanal).
-
Para as festas e algumas memórias dos
santos, temos leituras próprias, indicadas no Lecionário Santoral.
3.2. Dias
santos de guarda
"Dias de
festa", "dias de preceito", "festas de preceito" ou,
como se diz, “dias santos de guarda” são dias em que "os fiéis têm a
obrigação de participar da Missa e devem abster-se das atividades e negócios
que impeçam o culto a ser prestado a Deus, a alegria própria do Dia do Senhor e
o devido descanso do corpo e da alma” (cân. 1247).
O Domingo é o
dia de festa por excelência, em toda a Igreja.
No Brasil, além
do Domingo, as festas de preceito são as seguintes: Natal do Senhor Jesus
Cristo (25 de dezembro); SS. Corpo e Sangue de Cristo (quinta feira após o
Domingo da Santíssima Trindade); Santa Maria Mãe de Deus (1° de janeiro);
Imaculada Conceição de Nossa Senhora (8 de dezembro).
As celebrações
da Epifania, da Ascensão, da Assunção de Nossa Senhora, dos Santos Apóstolos
Pedro e Paulo e a de Todos os Santos ficam transferidas para o Domingo, de
acordo com as normas litúrgicas.
3.3.Transferência
para os Domingos do Tempo Comum de celebrações que ocorrem num dia de semana
Para promover o bem
pastoral dos fiéis, é lícito transferir para os Domingos do Tempo Comum as
celebrações pelas quais o povo tem grande apreço (p. ex. as festas dos(as)
Padroeiros(as)) e que ocorrem durante a semana, contanto que, na tabela de
precedência, elas se anteponham ao próprio Domingo. Estas celebrações podem ser
realizadas em todas as Missas celebradas com o povo.
3.4.Meses,
semanas e dias temáticos
"A
comunidade deve celebrar a sua vida na liturgia(...). Mas deve celebrá-la à luz
de Jesus Cristo ressuscitado, vivo, presente e atuante na comunidade, e não à
luz de um tema, de uma idéia (...). Deve celebrar a sua vida, sim, com os
problemas que lhe tocam mais de perto; mas à luz da palavra viva, como o único
tema... E quando não se penetra profundamente na palavra de Deus, na docilidade
do Espírito, facilmente pode-se cair na moralização. (...) Assim, o Domingo
celebra realmente a vida da comunidade, nos seus diversos coloridos, mergulhada
na única vida do Ressuscitado que lhe dá vida”.
A liturgia não
pode se tornar lugar para discutir soluções e respostas para os temas e
problemas que afligem a comunidade. A liturgia "não esgota toda a ação da
Igreja" (SC 9). Ela é, sim, "o cume para o qual tende a ação da
Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana a sua força" (SC 10).
A liturgia não é
primordialmente o lugar de evangelização e conscientização. Ela "não pode
ser aproveitada (usada) quase que exclusivamente para fins que não lhe
pertencem. Pois seu objetivo é a celebração da presença viva do mistério da
vida. Daí se poderá concluir também que a missa não tem tema. Ela é o tema!
Existem coloridos diferentes para a celebração, segundo as 'cores' da vida da
comunidade. Mas o único tema é sempre o mesmo na diversidade das situações: a
luz do mistério pascal nas 'cores' diferentes da vida trazida com seu mistério
para o encontro da celebração dominical”.
Para dar aos
meses e dias temáticos o seu justo lugar, é importante que a Equipe de Pastoral
Litúrgica prepare bem a celebração, não reproduzindo apenas folhetos e
subsídios oferecidos. Na missa, os "temas" podem ser lembrados no
início (recordação da vida), na homilia e nas preces dos fiéis.
Fonte:
Guia Litúrgico-Pastoral, CNBB
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